A comparação entre o nível nacional e o World Tour
A participação no GP Anicolor foi para Whelan a estreia absoluta em Portugal. Nunca tinha corrido antes em território nacional e os pontos de interrogação sobre o nível do ciclismo praticado no nosso país acumulavam-se:
Bom, não sabia muito [sobre o ciclismo nacional]. Nunca corri em Portugal e não sabia o que esperar, fui meio que às cegas. Não tão às cegas como quando assinei com a EF, pois agora entendo um pouco mais sobre ciclismo. Mas quando vais para um país novo, especialmente um país com seu próprio calendário, o conhecimento sobre o ritmo das corridas, sobre os ciclistas, é nulo. Cada país tem seu próprio ritmo, portanto havia muito a aprender nesse sentido.
Agora, os três meses de corridas que Whelan já leva nas pernas permitem-lhe concluir algo que é comum a muitos atletas estrangeiros que passam pela experiência de competir em Portugal. A discussão aquece sempre que são comparados os números feitos nas provas portuguesas com aqueles registados pelos maiores nomes da modalidade, nos maiores palcos do ciclismo. No entanto, Whelan é, na verdade, um dos poucos credenciados para fazer esse tipo de comparação:
É verdade que todos dizem que o nível das corridas em Portugal é muito alto. Eu venho do World Tour e agora estou a competir em Portugal. Muitos ciclistas estão interessados em saber se ambas as realidades são comparáveis, porque tenho a capacidade para fazer essa comparação. E posso dizer que realmente é um nível muito alto. Claro que não podemos comparar a profundidade do World Tour com as corridas portuguesas, porque aqui temos ciclistas mais jovens ainda em fase de aprendizagem a competir e a aprimorar as suas capacidades. Mas se falarmos daquele grupo de ciclistas de elite, que discute as corridas, são todos muito bons. Se analisarmos os dados de potência em subida, o grupo de trepadores que discute a vitória apresenta valores de watts/kg e VAM semelhantes ao World Tour, e isto num contexto de calor e de dias duros. E isso faz-me questionar o porquê de mais ciclistas portugueses não entrarem nas fileiras do World Tour ou do Pro Tour. Porque conseguimos ver esse nível na Clássica de Ordizia [disputada no dia 25/07/2023, ed.], por exemplo, com ciclistas de equipas portuguesas a estarem na frente com os melhores do World Tour. E é por isso que corridas como a Clássica de Ordizia ou a Volta a Castilla e Leon são importantes. Eu sei que nem todas as equipas portuguesas conseguem participar, mas é uma oportunidade incrível para estes ciclistas mostrarem o seu talento. Eles têm quatro horas de ciclismo onde podem realmente se destacar e chamar a atenção das equipas World Tour e Pro Tour.
Como exemplo paradigmático, Jimmy falou-nos do nível a que foi feito o GP Joaquim Agostinho, com dados concretos:
Por exemplo, no GP Joaquim Agostinho, na etapa de Montejunto, atingi os mesmos watts que atingia no World Tour. Talvez com menos stress acumulado antes, mas ainda assim a potência foi muito elevada. O padrão dos ciclistas da frente contra quem estávamos a lutar era muito alto. Foi uma prova com muitos watts, especialmente após 180 kms de corrida sob o calor escaldante, e depois de quatro dias de competição. Então, nesse sentido, a potência produzida após um dia duro é a mesma que no World Tour, mas não temos o mesmo stress de uma competição do World Tour. É uma corrida um pouco mais fácil a nível mental. Mas mesmo as habilidades técnicas do pelotão são extremamente altas. Nessa prova [GP Joaquim Agostinho] tínhamos estradas muito técnicas, subidas e descidas durante todo o dia, e a habilidade do pelotão era realmente elevada. Se assim não fosse, haveria várias quedas, por causa das estradas técnicas e da alta velocidade.
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