O World Tour: lições e desafios
Diria que foi, provavelmente, a progressão mais rápida que algum ciclista teve até ao World Tour.
É difícil discordar desta afirmação. Em dois anos, Whelan foi catapultado dos passeios de bicicleta com grupos locais da sua cidade-natal, até aos maiores palcos do ciclismo mundial, ao World Tour, pela mão da EF Education First. No entanto, esta impressionante ascensão depressa trouxe o reverso da medalha, como explica Jimmy:
Foi um desenvolvimento realmente agressivo. E digo agressivo porque quase foi demais. Porque um ciclista com falta de habilidade técnica, mas com uma grande capacidade física, pode ter sucesso nas corridas Sub-23, porque não é tão frenético. Mas quando assinei o contrato com a EF, não sabia no que me estava a meter. Não entendia as corridas, a complexidade técnica, os riscos. Como australiano, o nível da categoria sub-23 já é alto, mas é preciso reinventarmo-nos como atletas para chegar ao nível do World Tour, que é ainda mais alto. E isso é apenas a parte desportiva.
Também não sabia muito bem como viver sozinho noutro país. É preciso aprender a viver na Europa, manter uma rotina muito boa, ser bem organizado, estar disposto a dizer ‘não’ a muitas coisas e treinar no duro. Há muito a aprender, dentro e fora da bicicleta. O primeiro ano foi uma grande curva de aprendizagem, sem os meus amigos ou o meu antigo treinador por perto. Literalmente, todas as variáveis foram alteradas. Essa foi provavelmente a maior dificuldade. Demorei cerca de um ano e meio para encontrar o meu ritmo, uma rotina que funcionasse bem. Foi quando me estabeleci em Andorra, no final de 2019. Isso permitiu-me atingir o nível seguinte no ciclismo, o necessário para competir no World Tour. Andorra, com todas as montanhas e o treino em altitude, ajudou-me realmente nesse processo. Apenas no terceiro ano me senti um ciclista completo, capaz de competir ao nível físico e técnico exigido pelo World Tour.
E foi exatamente no terceiro ano, o último ano do seu contrato com a EF Education First, quando Jimmy se sentia pronto para competir ao mais alto nível, em busca de resultados de relevo entre as maiores estrelas da modalidade, que o azar bateu à sua porta:

Tive algumas quedas feias durante o meu último ano de contrato. Na Volta ao País Basco, em abril, estava a chover e caí durante uma descida, após ter escorregado numa poça de óleo na estrada. Fraturei a pélvis, o que me tirou de cena durante a primeira metade da temporada. Depois tive mais um acidente grave na Volta à Valónia. Numa descida muito íngreme, bati num buraco enquanto estava no pelotão, e acabei por fraturar o maxilar, costelas e pulso. Foi realmente difícil. Naturalmente, no meu primeiro ano na EF consegui uma boa temporada. Tive muitos dias de corrida e a equipa não tinha grandes expectativas, porque eu era apenas o aprendiz que não sabia muito bem o que estava a fazer. Eu apenas tinha de observar e aprender, e foi exatamente o que eu fiz. No segundo ano, foi o ano da COVID-19. As únicas corridas que fiz foram a Volta à Polónia e o Giro d’Italia. Fiquei satisfeito com o meu desempenho, mas ainda precisava de uma vitória pessoal ou ficar entre os dez primeiros numa grande corrida, apenas para garantir uma renovação de contrato. E era isso que eu queria fazer no meu terceiro ano. Mas, infelizmente, tive essas duas quedas graves. E só consegui mostrar meu melhor novamente nas corridas italianas do final da temporada, após recuperar e treinar muito em Andorra. Porém, nesse momento, a equipa já tinha decidido contratar outros ciclistas em vez de mim. E foi aí que a minha oportunidade na EF acabou. Foi muito desapontante.