A luz apagou-se, então tivemos de botar lume! João Almeida preparava-se para correr a Volta à Romandia e a Portuguese Cycling Magazine preparava-se para entrevistá-lo quando ocorreu a falha na rede elétrica de Portugal. Ainda assim, a UAE Team Emirates-XRG fez chegar as nossas questões ao ciclista português, e ele devolveu-nas respondidas quando as luzes voltaram a acender.
Para Almeida, a Volta à Romandia representa um exame. Serão testados o passado recente, três semanas após a conquista da Volta ao País Basco, e também o futuro próximo, dois meses antes do Tour de France. O contrarrelógio será então a escolha múltipla que abre e fecha esta semana, mas há muita montanha para o ciclista português escrever a composição. Ao lado de um João Almeida que garante ser “o mesmo de sempre” mas com “maior capacidade física para ganhar corridas“, estarão ainda Ivo Oliveira, na mesma equipa, e Nelson Oliveira, na Movistar Team.
Portuguese Cycing Magazine – Boa tarde, João. A Volta à Romandia marca o teu regresso à competição, depois da vitória na Volta ao País Basco. Como te sentes?
João Almeida – Estou a sentir-me bem. Tem sido uma temporada com bastantes competições. Esta vai ser a minha última corrida na primeira parte da temporada. Sinto-me bem e estou com saúde, que é o mais importante. Estou pronto para enfrentar uma semana que espero sem azares.
Não sendo tu um ciclista com muitas vitórias na carreira, já levas quatro este ano. É um novo João Almeida, ou o mesmo de sempre?
Claramente o mesmo de sempre, mas com maior capacidade física para ganhar corridas. Acho que é um trajeto natural de evolução e de melhoria. Tenho vindo a tentar perceber como é que o meu corpo funciona ao longo dos anos – o que funciona comigo e o que não funciona comigo. Esperemos que venham mais vitórias.
O País Basco foi a tua primeira vitória numa classificação geral de uma prova de uma semana, dentro da UAE Team Emirates-XRG. Sentes menos pressão?
Sinto o mesmo, nada muda. O importante é continuarmos a lutar e darmos tudo o que temos, sem nunca desistir. Foi a primeira [geral], mas já tive muitos segundos lugares que tiveram jeito de primeiro lugar. Às vezes falta aquela bitada de sorte ou de força nas pernas. Mas o importantE é continuar a lutar e nunca desistir. Será assim em todas as corridas até ao fim da minha carreira.

Na Volta ao Algarve, quase bateste o Jonas Vingegaard. Quão motivadora foi a semana em Portugal?
Foi importante, principalmente para a minha moral e para a minha motivação, sentir que estou a fazer a coisa certa. Foi uma boa semana. Depois no Paris-Nice consegui novamente ganhar. Mostra que estou a fazer as coisas como deve de ser e isso traz motivação.
O contrarrelógio volta a ser importante na Romandia. Tens feito algum trabalho especial?
Não, tenho feito o trabalho normal. O meu foco é mais na estrada, como com todos os ciclistas. Mas este ano tive mais acesso à bicicleta de contrarrelógio e também uma planificação melhor para trabalhar nela. Tenho feito o normal, nada de especial. Mas claramente ainda há trabalho a fazer, coisas a melhorar… depois desta corrida, tenho um período em que posso focar-me mais nisso, mas também são detalhes.
Esta semana, vais enfrentar o Remco Evenepoel. Como viste o seu regresso e como avalias as hipóteses dele na Romandia?
Vi um retorno bastante bom dele. Ganhou a primeira corrida que fez e esteve a discutir todas as outras em que esteve. Obviamente fez muitas corridas de seguida e a preparação dele pode não ter sido a melhor. Mas veio de um estágio de altitude, portanto está claramente em boa forma. Teve um mau dia na Liège, mas um dia não são dias. Ele está melhor do que toda a gente pensava, inclusive ele próprio. É um bom sinal. Portanto, acho que ele vai estar bem esta semana e vai ser um dos corredores mais fortes. Se o batermos, será muito posítivo.

Ao teu lado vai estar o Ivo Oliveira, que vem de duas vitórias em Itália. Como vês a forma do ciclista português? E também do Jan Christen?
O Ivo está sempre em boa forma; não só agora, em todas as corridas. É um corredor que não tem tantas oportunidades de lutar pela vitória, mas sempre que as tem dá o seu melhor, como a trabalhar em prol dos outros corredores. O prólogo é uma grande oportunidade para ele conseguir ganhar e talvez também algumas etapas. Portanto, ele claramente vai dar tudo o que tem. É um excelente profissional. O Jan Christen também está numa boa forma. Fez uma boa Flèche Wallonne. Espero que ele tenha uma boa semana e que possamos fazer alguma gira aqui na corrida.
Tu em forma, Evenepoel a recuperar, Vingegaard ao teu alcance… Será a oportunidade de uma vida para subir ao pódio do Tour de France?
Talvez… ou talvez não (risos). A oportunidade de uma vida é lutar contra os melhores ciclistas de sempre. É uma tarefa bastante difícil, mas se o conseguir fazer, significa que estou bem e que estou junto deles. Vou dar o meu melhor e depois veremos na linha de meta qual é o resultado.