Adaptações hematológicas após altitude: boost de hemácias
O paradigma dominante do efeito da altitude na melhoria de performance ao nível do mar baseia-se no aumento do processo eritropoiético. Por outras palavras, com o aumento da produção de hemácias. Neste mecanismo intervém uma proteína essencial e que funciona como um “sensor” de hipóxia: a HIF1-α (HIF1-alfa. Curiosamente, a descoberta do mecanismo de resposta das células à disponibilidade de oxigénio, mediada pela HIF1-α, foi galardoada com o Prémio Nobel da Medicina 2019). A diminuição da quantidade de oxigénio que chega às nossas células promove um aumento da produção de HIF1-α, que por sua vez despoleta, nos rins, a produção de uma hormona, a eritropoietina (EPO). Finalmente, a ligação da EPO a recetores específicos na medula óssea despoleta o processo de produção das hemácias, que são depois libertadas para a corrente sanguínea. Como consequência, a quantidade de hemoglobina em circulação também aumenta, logicamente. Este é o mecanismo que o nosso corpo adota para tenta repor para níveis aceitáveis a quantidade de oxigénio transportado até às células. Após o retorno ao nível do mar, onde a percentagem de oxigénio no ar é superior, uma maior quantidade de hemácias permite um incremento no transporte de oxigénio (maior VO2max), com provável impacto no rendimento do atleta. No entanto, alguns estudos apontam para o facto de, em atletas de elite, a melhoria no desempenho poder não ser necessariamente causada pelo aumento do VO2max, pelo que outros fatores devem esta envolvidos.
Para os leitores mais atentos, o termo hematócrito pode não soar estranho. Pois bem, o hematócrito diz respeito à percentagem de volume de hemácias no sangue, e é determinado laboratorialmente. Entre outros, a medição do hematócrito é um dos testes escolhidos para aferir a eficácia do treino em altitude.
