8 de agosto de 1999. Um dia que ficou imortalizado nos livros de história, como um momento inolvidável para muitos dos aficionados do ciclismo nacional. No entanto, esse dia teve um sentimento ainda mais especial para duas pessoas em particular. A primeira dessas pessoas é David Plaza, o grande vencedor da Volta a Portugal de 1999, que carimbou, nesse dia, a sua entrada no ‘Olimpo’ do ciclismo nacional ao triunfar pelas cores do Sport Lisboa e Benfica – Winterthur. A outra pessoa que ficou marcada para sempre nesse dia fui eu, na altura uma criança de somente 5 anos que via pela primeira vez uma etapa de ciclismo na estrada, com a chegada da Volta à sua cidade. Esta é uma história que une duas pessoas que nunca pensaram ter os seus caminhos cruzados, 25 anos depois.
O meu lado da história
Comecemos pela minha versão dos acontecimentos desse 8 de agosto de 1999. Em abono da verdade, o dia começou a ser preparado no dia anterior, já que o ‘crono’ de Cantanhede foi o grande catalisador para a minha presença, no dia seguinte, em Matosinhos, a minha cidade natal. O meu pai, um fervoroso adepto do Sport Lisboa e Benfica, inebriado pelo fantástico 1-2-3 do dia anterior que colocava Plaza na primeira posição da ‘Grandíssima’ decidiu, em boa hora, levar-me ao final dessa Volta a Portugal. Recordo-me, perfeitamente, desse dia como se fosse hoje: uma enchente enorme na Rua Sousa Aroso, com um final idílico e apoteótico, que posso afirmar, desde já, nunca mais voltei a vivenciar numa prova nacional ao longo dos anos. O ambiente vivido, naquela tarde, é algo que jamais irei esquecer, aquele mar de gente espalhado por todos os cantos de Matosinhos foi algo eletrizante. A vitória de David Plaza na geral da Volta fez com que o espanhol fosse o meu primeiro grande ídolo no ciclismo, nunca imaginando que alguma vez teria a oportunidade de o conhecer pessoalmente; considerava um sonho improvável de se consumar.
Só que a vida é feita de voltas e reviravoltas e nunca se sabe quando um sonho se pode tornar realidade. E não é que se tornou mesmo realidade, 25 anos depois? Já desde o início da temporada de 2024 que era aventada a possibilidade de a equipa mexicana da Petrolike fazer parte do pelotão da 85.ª Volta a Portugal. E perguntam vocês o porquê disso ser relevante para a narrativa? Pois bem, David Plaza, radicado no México há 10 anos, é o diretor desportivo da estrutura mexicana. Os meses foram passando, até que a equipa foi, oficialmente, confirmada pela organização e foi aí que o coração começou a bater mais forte, já que a possibilidade de Plaza voltar a Portugal era real e assim teria a oportunidade de o conhecer pessoalmente. A confirmação da presença do espanhol em terras lusitanas veio 3 dias antes da prova, com o nome de David a figurar na lista de pré-inscritos como o diretor desportivo do coletivo vindo do México. Confesso que a criança de 5 anos daquela tarde de 8 de agosto de 1999 voltou a estar presente em mim, já que era certo que, finalmente, iria poder conhecer o meu primeiro ídolo. Esse dia acabaria por chegar a 24 de julho de 2024, aquando da realização do Prólogo, em Águeda, um momento bastante emotivo e que fez brilhar os meus olhos como, provavelmente, nunca tinham brilhado antes. Poder estar, um pouco, à conversa e partilhar a história que nos unia foi um momento especial e que jamais será esquecido. Vai ser algo que perdurará na minha memória para sempre e uma história para contar aos meus filhos, netos, e por aí fora!
O lado da história de David Plaza
A segunda parte desta história tem como protagonista David Plaza. Um ciclista que na sua primeira época em Portugal, e na sua primeira Volta a Portugal, conseguia um triunfo enorme para a sua carreira. A sua vitória nessa Volta foi ainda mais épica devido à forma como foi conquistada, já que só foi alcançada a um dia do final, num contrarrelógio em que furou, mas mesmo assim conseguia garantir um tempo que lhe fazia ultrapassar Vitor Gamito quase em cima do risco da meta. Outro dos pontos épicos dessa vitória foi o facto de ser uma vitória da equipa do Sport Lisboa e Benfica, que retornava ao ciclismo nessa temporada, sendo que o clube estava arredado das lides do ciclismo nacional desde o longínquo ano de 1978 e o último triunfo datava já de 1976, pela mão de Firmino Bernardino.
Com todo este preâmbulo o que se passou em Matosinhos no dia 8 de agosto de 1999 foi algo que também marcou, indelevelmente, a vida de David Plaza, que na altura referiu ser a vitória mais importante da sua carreira.
É a vitória mais importante da minha carreira. Fiquei muito contente e agora vou desfrutar desta alegria. As minhas ambições agora vão subindo pouco a pouco.
David Plaza, aquando da vitória na Volta a Portugal de 1999
25 anos depois, em Águeda, David Plaza reviveu esses momentos e contou o seu lado da história, onde tocou nas emoções que viveu durante essa Volta, falando, ainda, do apoio dado na altura.
Tenho grandes recordações dessa Volta a Portugal de 1999, estava numa equipa nova que tinha uma tradição futebolística muito grande e que passou, também, para o ciclismo. O importante era mesmo tentar vencer essa Volta a Portugal para o clube, como outros ciclistas já o tinham feito antes de mim, e, assim, oferecer uma alegria a toda a gente que nos apoiava na estrada. No meio disso tudo conseguir esse objetivo de ganhar a Volta foi bastante emotivo, foi um momento muito feliz!
David Plaza, em declarações à Portuguese Cycling Magazine
Por fim, recordou o momento marcante dessa Volta a Portugal: o furo no contrarrelógio de Cantanhede, que, felizmente, não lhe impossibilitou de vencer essa 61.ª edição da ‘Grandíssima’.
Recordo-me que à partida do último contrarrelógio da Volta estava um pouco longe da liderança, e durante esse ‘crono’ a equipa estava com o sentimento que podíamos ganhar, só que acabei por furar, no entanto consegui ganhar a Volta na mesma. Muita gente se recordará disso, certamente!
David Plaza, em declarações à Portuguese Cycling Magazine
Esta é a história, inesperada, de como 2 pessoas tiveram os seus caminhos cruzados no dia 8 de agosto de 1999 e, 25 anos depois, se encontraram. Da minha parte quero deixar um agradecimento especial à Portuguese Cycling Magazine por me ter proporcionado mais um momento inolvidável no ciclismo e ao David Plaza pela disponibilidade e amabilidade demonstrada durante esta Volta a Portugal, para que este encontro (e artigo) fossem uma realidade.