Os destaques de carreira
Qual foi o teu melhor momento como mecânico? E um momento menos bom?
O mau momento foi na Argentina, um ciclista que tinha um problema na bicicleta e chamou para o carro que tinha um pneu furado. Eu saí do carro a correr para mudar o pneu, mas quando volto para o carro, ele diz-me que também tinha um segundo pneu furado e foi um mau momento, porque eu podia muito bem ter trocado a bicicleta em vez de ter mudado o pneu. Isto é um pesadelo para os mecânicos, termos que parar outra vez e mudar de bicicleta; já não podemos voltar a mudar o pneu, porque [o ciclista] já vai perder mais 20/30 segundos.
O meu melhor momento foi uma vez numa crono-escalada na Eslovénia, com o Diego Ulissi, em que tive que sair do carro para recolher a bicicleta de contrarrelógio e deixar-lhe a bicicleta de estrada, porque ia haver a subida. Então aí fui muito rápido, ganhei por 6 segundos ao segundo melhor mecânico, e o Diego Ulissi ganhou. Isso deu-me uma moral fantástica, encheu-me de orgulho!
A vida de um mecânico é feita de altos e baixos e estas duas histórias, de sentimentos contraditórios, exemplificam bem essa realidade. Parte importante dela é também o muito tempo passado fora de casa, longe da família, à semelhança dos próprios ciclistas. Neste contexto, nota-se a importância de visitar locais que ajudam a ultrapassar estas dificuldades.

Fonte: Arquivo pessoal
Por último, qual é a tua grande volta favorita?
Eu prefiro sempre a Volta à Espanha, porque é a corrida onde tudo está mais calmo no mundo do ciclismo. Por exemplo, na Volta à Itália todo o mundo quer dar nas vistas para ir à Volta à França e na Volta à França, todo o mundo está preocupado, porque quer assinar contratos para o ano que vem e mostrar que é bom ciclista. Por isso, há muito stress em tudo e acontecem muitas quedas, muitos dores de cabeça. Na Volta à Espanha, eu diria que 98% do pelotão, dos mecânicos, dos massagistas, dos ciclistas já assinaram novos contratos. Por isso, é uma corrida muito mais calma e pacífica, já não há aqueles a tentarem mostrar-se.
A ligação de Hilário Coelho à Vuelta a España provém não apenas do contexto em que a prova é corrida, mas também nas particularidades do país:
Além disso, Espanha é como se fosse a minha segunda casa, porque o comer, a cultura, é muito parecida com Portugal. A Volta à Espanha é feita na altura do calor e gostamos de calor, embora não tenhamos tempo para ir à praia, gostamos de ter um pouco de calor quando estamos a trabalhar as bicicletas. E por isso, a Volta à Espanha é a minha preferida.
Antes da Vuelta a España, onde Hilário Coelho quererá estar presente, há o Tour de France por correr. Agradecemos a Hilário Coelho a sua disponibilidade para conversar connosco e aguardamos com expetativa para perceber se ele será novamente ‘de sorte’ para a Jumbo-Visma e Jonas Vingegaard!

Fonte: Arquivo pessoal