Luca Vergallito é um dos nomes em destaque na 51ª Volta ao Algarve. O ciclista da Alpecin-Deceuninck, equipa que normalmente deixa a sua marca nas clássicas, ocupa o 6º lugar da classificação geral, a 20 segundos do líder Jan Christen.
“Ontem foi muito bom. Também fiquei surpreendido com o resultado final. Estava-me a sentir bem e tirámos partido da desorganização das grandes equipas, que têm os candidatos à geral. Espero continuar assim no resto da temporada.”
Vergallito participou na movimentação decisiva da etapa-rainha, ainda antes do Alto da Fóia. Em teoria, ele seria o elo mais fraco do grupo que escapou ao reduzido pelotão. Porém, o corredor italiano mostrou capacidade tanto para responder às acelerações de Christen como para gerir o seu próprio ritmo. Mesmo com o desgaste da fuga, cruzou a meta junto de António Morgado e Jonas Vingegaard.
Uma caixa de surpresas
É natural que ele (e os adeptos) estejam surpreendidos, porque Luca Vergallito é uma caixa de surpresas. Em termos ciclísticos, a jornada de ‘Il Bandito’ – como é conhecido em cima da bicicleta – é uma fuga às convenções, em colaboração com as contradições. Ele começou a praticar atletismo e depois transitou para o triatlo, do qual veio o ciclismo. Natural de Milão, mesmo que os belíssimos lagos da Lombardia tenham prendido o seu olhar, foi pelas montanhas do quinto monumento que se apaixonou.
“Cheguei ao ciclismo muito tarde. Fiz alguns anos nas categorias de júnior e sub-23. Mas os meus resultados não eram bons o suficiente para me tornar profissional.”
Com 20 anos, a trajetória de Vergallito no ciclismo parecia terminada. Sem resultados de relevo nas principais provas do calendário italiano, ele decidiu que não tinha condições para ser ciclista profissional. Esta nunca é uma decisão do momento, mas uma escolha de vida, porque esta vida não acomoda outras: os ciclistas têm de investir todo o seu tempo, em preparação, e muito do seu dinheiro, em equipamento, só para manter o sonho vivo.
Um sonho perdido, mas recuperado
“Quando parei de fazer ciclismo de forma competitiva, foquei-me nos meus estudos. Estava interessado em ciências do desporto, então fui por esse caminho.”
Passados três anos da manifestação de interesse, Vergallito completou a licenciatura em Ciências do Desporto. Ele é o tipo de pessoa que, quando traça um objetivo, tem perfeita consciência do que precisa para o alcançar, tanto a nível físico como a nível mental. Assim, os bancos da Universidade de Milão ensinaram algo que, de forma surpreendente, o selim da bicicleta não tinha conseguido: que Vergallito podia ser um grande atleta.
“Continuei a treinar nos anos seguintes, até que fui para a Zwift Academy.”
Enquanto iniciava o mestrado, treinava atletas e destacava-se em granfondos, Luca Vergallito inscreveu-se na Zwift Academy. A sugestão partiu de dois companheiros das duas rodas, testemunhando o sucesso do programa de identificação de talentos que tinha projetado Jay Vine para o estrelato. Assim, pelo meio virtual que a pandemia transformou em realidade, o jovem que sempre amou a bicicleta voltou a amar a competição.
À medida que foi completando os múltiplos desafios e exercícios estruturados que compõem o programa, Vergallito demonstrou todas as qualidades de um ciclista World Tour, segundo um diretor de perfomance, e assim, entrou na corrida por um contrato profissional com a Alpecin-Deceuninck. Disputar as finais já era uma vitória… o resultado então foi o realizar de um sonho; um que esteve perdido, mas que foi encontrado no tempo certo.
O ouro ao ‘Bandido’
“Decidi fazer uma nova tentativa no ciclismo profissional e tive sucesso. Comecei uma nova carreira com a Alpecin-Deceuninck. Agora estou aqui.”
Foi assim que Luca Vergallito chegou à Volta ao Algarve, com 27 anos e uma carreira profissonal ainda jovem. Na sua segunda temporada com a Alpecin-Deceuninck, podemos dizer que estão a entregar o ouro ao ‘Bandido’, porque é com a mesma determinação das modalidades, dos estudos, do Zwift e do profissionalismo que ele percorre as estradas do nosso país. No ano passado, foi 17º classificado na ‘Algarvia’. Este ano, tem tudo para melhorar essa posição.
“No ano passado, estive na Volta ao Algarve e também na Vuelta a España que começou em Portugal. É sempre bom, o tempo normalmente é quente, as estradas são boas, as terras são boas… é um sítio onde se pode fazer uma corrida.”
É precisamente isso que Luca Vergallito está a fazer: uma corrida… a sua corrida. A sua história demonstra que não existe um caminho singular para o mesmo objetivo. Nem todos os ciclistas precisam de excelentes prestações nos escalões jovens para depois se tornarem profissionais. Mas todos precisam, como o ‘Bandido’, de investir nas próprias capacidades (e ter capacidade para isso), no tempo certo. Considerando que já realizou um sonho, veremos o que mais consegue realizar nesta Volta ao Algarve.