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Giro d’Italia: O Legado Português

José Azevedo, Etapa 17, Giro d’Italia 2001

José Azevedo, as memórias

José Azevedo foi e é um dos grandes nomes do ciclismo português, fazendo história além-fronteiras. Conhecido para sua aptidão natural para Grandes Voltas, Azevedo conseguiu um palmarés diverso, com o seu nome diretamente ligado ao Tour de France onde por duas ocasiões consegui estar no Top 10.

Em 2001, na sua estreia no Giro d’Italia pela equipa Once, conseguiu um histórico 5º lugar, e almejou a vitória na 17.ª etapa dessa edição. Nesse dia, José Azebedo atacou na subida final mas foi batido ao sprint por Pietro Caucchioli, terminando essa etapa na 2ª posição.

Como é correr numa prova como o Giro d´Itália?

“Correr o Giro requer um doseamento de esforço, um estudo bastante aprofundado e prévio da corrida: saber o percurso, as etapas decisivas, onde atacar, e é extremamente necessário uma concentração contínua. Nas etapas planas os corredores têm de estar sempre concentrados e atentos, a qualquer altura pode haver um corte e perda de tempo. Nas etapas de média montanha é a mesma coisa, por vezes há situações que podem provocar diferenças maiores que nas etapas de montanha. Esta necessidade de concentração cria desgaste psicológico, a nível de emoções quando se está na frente é tudo fácil de gerir, mas nos momentos menos bons o corredor tem de ser forte mentalmente e logicamente, além disso também tem de ter uma equipa a seu redor que o apoie, suporte e ajude a manter a motivação.”

Quais foram as sensações de correr o Giro d´Itália em 2001? Com foi ficar na segunda posição na etapa 17 nesse mesmo ano?

“Foi o primeiro Giro que fiz, com o nosso líder, Abraham Olano, e a minha missão era trabalhar para ele. Numa etapa de média montanha em que o final foi muito atacado, eu ataquei levando a formação de um grupo que ganhou algum tempo, permitindo-me subir à 2º da geral. Aí, não ter chegado à camisola rosa por 3 segundos deixou-me mais triste do que não ter ganho a etapa. A 17ª etapa foi uma chegada a Sanremo e na altura estava em 5º na geral. Ataquei na última subida com o objetivo de tentar ganhar tempo e subir na classificação geral, depois apanhei o Caucchioli, que já ia fugido, no final da descida. Faltavam cerca de 4 quilómetros para a meta e eu aí sabia que se o meu objetivo era ganhar tempo aos outros corredores da geral, arriscava não ganhar a etapa, são opções: quando se corre para a geral, as etapas são secundárias. E foi isso que aconteceu, naquela parte final quis puxar e sabia que no final ia ser difícil ganhar, mas como o objetivo era a geral, não ficou nenhum sentimento amargo.”

Quais é que são as maiores dificuldades que um ciclista atravessa numa prova deste calibre?

“Cada corrida de 3 semanas tem as suas particularidades. O Giro tem montanhas míticas, que mudam de ano para ano, este ano os ciclistas vão subir o Tre Cime di Lavaredo; tem sempre subidas muito complicadas, especialmente nos Dolomitas, é um maciço montanhoso , sempre concentradas na última semana de corrida. Há subidas que são mais difíceis, mas quem faz a corrida são os ciclistas, e às vezes subidas mais acessíveis (pelo seu perfil) acabam por ser as mais duras. Um corredor da geral tem de estar concentrado nas 3 semanas e não pode ter um dia menos bom, normalmente centra-se nas etapas dos Dolomitas, onde estão as grandes dificuldades do Giro d´ Itália. Este ano para além disso tem a particularidade dos 3 contrarrelógios, muitos quilómetros de contrarrelógio que, a meu ver, vão criar grandes diferenças.”

Quais é que são, do ponto de vista de um ciclista muito experiente e agora Diretor Desportivo, as expectativas para Portugal no Giro d´Itália deste ano? 

“As expetativas são criadas pelo atleta. Na última entrevista que eu li do João Almeida, ele diz que parte com o objetivo de fazer pódio e tudo o que venha acima é bem vindo. Faz todo o sentido ele ter essas pretensões, o João é um corredor que no Giro já fez 4º e 6º, fazendo também 5º na Vuelta, ou seja, já mostrou que é um corredor que pode fazer várias corridas de 3 semanas. Logicamente, atendendo à idade dele quando fez esses resultados, o objetivo seguinte é chegar ao pódio e com toda a legitimidade ele assume isso. Esperemos que ele consiga, ficava bastante satisfeito se o João conseguisse o pódio”.