Categories Opinião

Fórmula 1 e Ciclismo, as semelhanças entre ambos

Pilotos e o ciclismo

A ligação entre F1 e ciclismo torna-se ainda mais vincada quando os próprios pilotos se tornam ciclistas. E esta conversão não é assim tão rara quanto isso. Muitos dos pilotos da atual grelha, senão mesmo todos, utilizam a bicicleta como complemento ao seu programa de treinos. Por exemplo, para manter a sua forma física, o atual campeão do mundo Max Verstappen costuma dar umas voltas de bicicleta pelas famosas estradas do Mónaco e arredores; já Daniel Ricciardo aproveita habitualmente os trilhos nos arredores da sua cidade natal, Perth, para uns passeios de mountain biking; também Lewis Hamilton já partilhou nas suas redes sociais alguns momentos na sua bicicleta todo-o-terreno; George Russell já admitiu que o ciclismo o ajuda tanto a nível físico como psicológico.

George Russell é um avido utilizador da bicicleta

No entanto, os dois exemplos paradigmáticos desta simbiose são mesmo Valtteri Bottas e Fernando Alonso. O finlandês é um grande entusiasta da bicicleta, e surpreendeu o mundo do automobilismo (e do ciclismo) quando, em agosto do ano passado, em plena pausa de verão da F1, participou na SBT GRVL, uma corrida de gravel de 94 quilômetros, no Colorado, EUA. Nesta corrida, onde formou equipa com Tiffany Cromwell (ciclista australiana da Canyon SRAM e sua atual esposa, que os adeptos da F1 talvez conheçam pelas suas aparições no paddock e no Drive to Survive), alcançou o quinto lugar à geral (num total de 500 participantes), e sendo, inclusive, o segundo melhor corredor do seu escalão. No seu currículo, conta também com algumas corridas na Austrália e no Mónaco. Além disso, Bottas organiza, anualmente, uma prova de duatlo na Finlândia, o Valtteri Bottas Duathlon, onde o próprio também participa, com resultados bastante interessantes. 

Valterri Bottas pedalou no estágio da Canyon SRAM este ano

A fasquia é ainda mais elevada quando falamos de Fernando Alonso, o asturiano também já teve um plano para entrar no mundo de ciclismo, mas não deu resultado, um pouco à semelhança do “El Plan”. O bi-campeão do mundo de F1 é um aficionado pelas duas rodas – as da bicicleta – tendo já tentado, por duas vezes, investir e formar uma equipa profissional. Em 2013, Alonso tentou (e notícias chegaram a dar o acordo como certo) comprar a licença da equipa Euskaltel-Euskadi, onde corria o português Ricardo Mestre. À data, a estrutura basca passava por um momento complicado em termos financeiros, e corria o risco sério de fechar portas, quando Alonso entrou em cena para garantir a sua continuidade. No entanto, as duas partes não conseguiram chegar a um acordo à última da hora, e o negócio caiu por terra, assim como a equipa. Após a primeira tentativa falhada, Alonso propôs-se a um desafio ainda mais entusiasmante: criar uma equipa de raiz que competisse no escalão World Tour. Para isso, e durante o ano de 2014, Nando estabeleceu vários contactos no mundo do ciclismo, sendo, inclusive, convidado VIP da 18ª etapa da Volta a Itália 2014 (etapa com final em alto em Rifugio Panarotta, vencida por Julián Arredondo, na altura ciclista da Trek. No final, foi Alonso a entregar a maglia rosa a Nairo Quintana, que viria a vencer aquela edição do Giro). Rumores da altura indicavam que Alonso tinha garantido um patrocínio do governo dos Emirados Árabes Unidos no valor de 100 milhões de euros por um período de cinco anos, e que teria encetado negociações com vista à contratação de Peter Sagan. No entanto, mais uma vez, as intenções do piloto espanhol não se materializaram. Curiosamente, dois anos mais tarde, os patronos dos UAE viriam a adquirir a licença da Lampre-Merida. Na estrada, Alonso faz as delícias dos seus seguidores partilhando frequentemente os seus treinos de bicicleta, que por vezes chegam a atingir centenas de quilómetros (ainda dizem que os pilotos da F1 não são atletas!). Ironicamente, nem ele tem ficado arredado do mal que atormenta muitos praticantes de ciclismo, profissionais e amadores. Em fevereiro de 2021, Alonso foi atropelado por um camião enquanto treinava na Suíça, o que lhe causou uma fratura do maxilar e quase lhe adiou o regresso ao “grande circo”. Apesar do contratempo, Alonso continua a declarar o seu amor ao ciclismo, e continua a fazer da bicicleta um dos seus métodos de treino prediletos.

Fernando Alonso é um dos pilotos que mais utiliza a bicicleta na sua preparação

Noutro registo temos Alex Zanardi, piloto italiano que competiu no mundial de F1 nos anos 90, em equipas como Minardi, Lotus e Williams. Após um grave acidente ocorrido em 2001 e que resultou na amputação de ambas as pernas, Zanardi dedicou-se ao paraciclismo. Nesta modalidade, participou nos Jogos Paralímpicos de Londres 2012 e alcançou a medalha de ouro no contra-relógio masculino H4 (curiosamente no circuito de Brands Hatch), e a prova de fundo masculina H4 e a medalha de prata na prova de equipas mistas H1-4. Nos Jogos Paralímpicos do Rio 2016, voltou ao pódio, vencendo as medalhas de ouro no contra-relógio maculino H5 e na prova de equipas mistas, e a medalha de prata na prova de fundo. Às medalhas olímpicas juntou ainda 12 títulos mundiais. Infelizmente, em junho de 2020, Zanardi sofreu mais um grave acidente, desta feita nos campeonatos nacionais italianos para atletas paralímpicos, deixando-o em coma durante vários meses. Apesar de mais um revés, o imbatível Alex teve alta hospitalar em dezembro passado, encontrando-se atualmente na segunda fase da sua reabilitação. 

Alessandro Zanardi tornou-se ciclista paralímpico depois do seu grave acidente em 2001