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EXCLUSIVO: “Espero um dia melhorar a posição do Joaquim Agostinho, e também ganhar uma etapa” – João Almeida no dia de descanso do Tour de France

João Almeida sobre o paralelo com Joaquim Agostinho, o papel dentro da UAE Team Emirates e o seu próximo objetivo.

João Almeida está no 4º lugar do Tour de France. Desde Joaquim Agostinho que um português não estava tão bem classificado na prova-rainha do ciclismo, e com sérias hipóteses de levar essa classificação até final. Curiosamente, Almeida alcançou esta posição não como líder da UAE Team Emirates, mas como mais um ajudante do estratosférico Tadej Pogačar, e que ajudante! Tudo começou no Col du Galibier, impondo o ritmo elevado que permitiu ao esloveno atacar para a camisola amarela, e continuo depois no Pla d’Adet, enquanto no Plateau de Beille houve flexibilidade para fazer a sua corrida e, através de uma impressionante recuperação, manter o 4º lugar. Agora chega a última semana de Tour e, com ela, os Alpes. Ele está pronto para o desafio.

No dia em que se cumprem 45 anos desde um dos maiores feitos do ciclismo português, a vitória de Agostinho no Alpe d’Huez, assim como o último dia de descanso do Tour de France antes da chegada a Nice, conversámos com João Almeida sobre o que já veio e o que ainda está por vir.

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Joaquim Agostinho venceu o Alpe d’Huez no Tour 1979.
Foto: Desconhecido

Portuguese Cycling Magazine – Boa tarde, João. Em primeiro lugar, queríamos dar-te os parabéns pelo grande Tour de France que tens feito! Hoje cumprem-se 45 anos desde a vitória de Joaquim Agostinho no Alpe d’Huez. Neste momento estás em 4º e, caso mantenhas este lugar, será a melhor classificação de um português no Tour em 45 anos. Como te sentes ao tomar consciência deste facto?

João Almeida – É bastante positivo. Ficaria feliz se terminasse na 4ª posição, obviamente porque é o meu primeiro Tour. Está a correr bastante bem e tem sido bastante duro. Espero um dia igualar ou melhorar a posição do Joaquim Agostinho, e também ganhar uma etapa. É um objetivo que gostava de realizar. Sem ser isso, acho que tem sido uma corrida bastante boa e estes factos dão-me mais motivação. Claro que até ao fim tudo é possível, mas mantendo-se tudo normal, a 4ª posição já seria uma vitória e um bom primeiro Tour para mim.

Agora que o Pogačar tem uma vantagem mais folgada na classificação geral, com 3 minutos sobre o Vingegaard, acreditas que poderás ter mais liberdade não só para defender o teu lugar, como também para procurar essa vitória em etapa?

Sim, temos uma vantagem bastante confortável, neste momento, na geral. Mas o Tour só fica ganho em Nice e até lá, temos etapas bastante duras e importantes. Acho que será muito difícil eu lutar por uma etapa, portanto, este ano, será muito complicado realizar esse objetivo. Temos dias duros pela frente em que temos de estar ao lado do Tadej, para o que for necessário, e esse é o foco até ao último contrarrelógio.

Como tens abordado a necessidade de conciliar a tua geral com a camisola amarela do teu companheiro de equipa?

O objetivo é mesmo o Tadej. O foco é nele. Então não estou a pensar tanto na minha geral. Não vou deitar a toalha ao chão nem dar tempo grátis, mas o meu lugar na geral é secundário. O meu objetivo é sempre ajudar o Tadej o máximo que conseguir e é assim que tenho ido diariamente.

João Almeida com Tadej Pogačar no Tour 2024.
Foto: ASO

No início do Tour, precisamente no Col du Galibier, incentivaste o Juan Ayuso a subir no grupo para trabalhar em conjunto contigo. O que nos podes dizer sobre essa situação de corrida?

É muito simples. Nós tínhamos um plano antes da corrida e o plano não foi cumprido a 100%, porque não estávamos todos bem posicionados na frente. Depois tivemos de adaptar um pouco o plano. Mesmo assim, conseguimos alcançar o objetivo, que era o Tadej ganhar tempo ao Vingegaard e ganhar a etapa. Portanto foi um dia bem cumprido, mais uma vez adaptámos bem o plano e correu na perfeição, conseguimos alcançar o objetivo.

Quanta à etapa de ontem, foi uma das grandes performances da história do Tour e do ciclismo. Como sempre, correste de forma muito inteligente, gerindo o esforço desde o início da subida. Quando ficaste para trás, acreditaste que ias terminar no 5º lugar da etapa?

Nestes últimos dias não tenho tido as melhores sensações. Então, quando começámos a última subida, soube que aquele não era o meu ritmo. O Tadej estava ‘entregue’, dali para a frente não havia muito mais que eu pudesse fazer, então pus o meu ritmo, maximizei o meu esforço e os adversários explodiram. Esse foi o meu objetivo, maximizar o meu esforço e as pernas que eu tinha, e espero vir a ter melhores sensações.

Depois do Tour, virá a Vuelta, outro dos teus objetivos. Desde a Volta à Suíça que estás naquela que é talvez a melhor forma da tua vida. Como planeias manter essa forma nos próximos meses?

Neste momento, no Tour, sinceramente não acho que tenha as pernas da Suíça… também estive doente depois da Suíça, talvez tenha sido isso, mas tem corrido minimamente bem, estou feliz com a minha prestação na mesma. Obviamente que, até à Vuelta, o segredo será descansar e fazer uma preparação minimamente boa para começar a corrida em boa forma. Depois a corrida é longa, são três semanas, e há tempo para me cansar.

Há uns meses, chegou a ser anunciado, por um dos teus patrocinadores, que correrias os Jogos Olímpicos, mas acabaste por não integrar a lista final do selecionador José Poeira. O que mudou nesse objetivo?

Gostava muito de ter feito os Jogos. É sempre uma honra e um orgulho representar Portugal, ainda mais nos Jogos Olímpicos. Foi a total decisão do selecionador levar o Rui Costa e o Nelson Oliveira. Obviamente que respeito a decisão do selecionador e acho que Portugal vai estar bem representado, fará com certeza uma boa prestação. Não há ressentimentos. Que corra tudo pelo melhor! E o facto de só termos duas vagas, mas termos ciclistas bastante bons, já é um bom sinal, quer dizer que temos vários ciclistas que podem fazer uma boa corrida.

João Almeida puxa no Galibier no Tour 2024.
Foto: Sprint Cycling Agency

Por último, queríamos-te pedir uma mensagem para os adeptos portugueses, que certamente vão aparecer em força nos Alpes.

Uma mensagem de agradecimento a todos os portugueses! Tem sido um apoio incrível todos os dias na estrada, na partida, no autocarro, na estrada, nas subidas, em todo o lado. Claramente fazem a diferença. É um orgulho e uma honra ter sempre bandeiras portuguesas, tudo a gritar pelo ‘Bota Lume’, e estou muito grato pelo apoio de todos!

Agradecemos a João Almeida e à UAE Team Emirates a disponibilidade para nos conceder esta entrevista e desejamos-lhes boa sorte no resto do Tour de France.

Foto de capa: Thomas Samson/AFP

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