Antonia Niedermaier antevê os Campeonatos do Mundo e faz um balanço da sua temporada.
A Portuguese Cycling Magazine esteve à conversa com Antonia Niedermaier, ciclista alemã de 21 anos da Canyon//SRAM Racing, para antever os Campeonatos do Mundo e fazer um balanço da sua época. Niedermaier sagrou-se bicampeã do mundo de contrarrelógio sub-23 e é uma das principais favoritas ao título de estrada. No seu currículo tem também vitórias de etapa no Giro d’Italia Women e no Tour de l’Avenir, para além de vários top-10 em provas por etapas World Tour.
PCM: Ganhaste pela segunda vez o título mundial de contrarrelógio em sub-23. Como te sentes para a prova de estrada?
AN: Dá-me confiança ter feito um contrarrelógio tão bom e ter conseguido defender o meu título, estou muito motivada para a prova de estrada. Sei que é um percurso muito duro e que a corrida vai ser difícil, mas acho que combina bem comigo.
PCM: Qual é o teu objetivo para a prova? Vais ter liberdade para fazer a tua própria corrida e lutar pelo título sub-23, ou vamos ver-te a apoiar a Liane Lippert caso seja necessário?
AN: Acho que temos várias cartas para jogar e, dependendo da situação de corrida, é isso que vamos fazer. Tenho alguma liberdade para reagir a ataques ou eu própria atacar, acho que vai ser uma corrida muita aberta para toda a gente da nossa equipa. Temos um grupo muito forte e estamos todas muito motivadas, tudo pode acontecer nesta corrida.
PCM: A corrida de sub-23 ainda acontece em simultâneo com a prova de elites e algumas das grandes favoritas ao título sub-23 têm candidatas ao título de elites na equipa. Como é que isso influencia a dinâmica da corrida?
AN: É um pouco traiçoeiro, porque não podemos correr como estamos habituadas. Se estiveres na luta pelo título sub-23, claro que queres ganhar, mas o título de elites é mais importante. É um pouco difícil gerir esta situação e encontrar a forma perfeita de correr estas duas corridas numa.
PCM: O que achas do percurso? Qual é o cenário ideal para ti?
AN: O percurso é muito duro. É técnico, tem muitas subidas e muitas descidas. Acho que vai acontecer muita coisa, muitos ataques e toda a gente vai querer tentar fazer algo. Para nós, é bom se a corrida for muito dura. Acho que há muitos cenários possíveis, pode haver uma vitória solo, mas também pode chegar um grupo de 10-15 ciclistas.
PCM: Este ano não tiveste uma grande vitória como em 2023 com a etapa no Giro, mas tiveste muito bons resultados na classificação geral no Giro, na Volta à Suíça e na Vuelta. Que balanço fazes da época?
AN: A época não foi perfeita. Tive uns problemas com doenças na altura da primavera e não consegui entrar no ritmo, mas estou feliz com alguns bons resultados em classificações gerais. Todos os anos estou a aprender coisas novas, a minha mente e o meu corpo estão a ficar mais fortes e isso é muito bom. Acho que ainda tenho muito mais para aprender e estou motivada para o próximo ano. No geral, estou feliz com esta época. Claro que pode sempre ser melhor, mas para o que era possível fazer, dei o meu máximo e tirei o melhor de todas as situações.
PCM: Como é estar numa equipa cheia de corredoras jovens com muito potencial? Como é o ambiente?
AN: Estou numa equipa muito boa. Temos corredoras muito experientes de quem posso aprender muito, mas também temos muitas corredoras jovens, o que mantém as coisas novas e divertidas. Também trabalhamos muito bem em conjunto nas corridas, porque todas sabemos que em equipa podemos alcançar mais. Aprecio muito isso na nossa equipa.
PCM: És uma corredora muito jovem, que ainda cresce muito em cada prova. Como sentes que as outras corredoras te vêm e correm contra ti no pelotão? Sentes que isso muda quando tens boas prestações?
AN: Acho que as corredoras chave sabem quem eu sou e sabem que têm de estar atentas a mim, especialmente nas montanhas. Ainda não sou um dos principais nomes, ainda preciso de tempo para melhorar, aprender e ler melhor a corrida, mas tenho esse tempo. Ainda sou jovem, também sou relativamente nova no ciclismo. Acho que ainda há espaço para melhorar.
PCM: Começaste no esqui-alpinismo.
AN: Sim. Comecei a sério no ciclismo só em 2020. Foi o meu primeiro ano de júnior.
PCM: Há alguma coisa que tenhas aprendido no esqui-alpinismo que ainda usas agora no ciclismo, ou é completamente diferente?
AN: Há muita coisa que posso trazer do esqui-alpinismo, especialmente nas descidas. Estou habituada, porque quando descia a esquiar também era muita rápido e tinha de estar sempre focada e reagir a qualquer pequeno obstáculo. Especialmente para os contrarrelógios, também aprendi a levar o meu corpo ao limite e fiquei mais forte mentalmente, porque no esqui-alpinismo estás sozinho a subir uma montanha, sem ninguém a dizer-te o que fazer, e tens de ir até ao teu limite.
PCM: Há alguma coisa em particular que queiras melhorar durante esta off-season?
AN: Acho que durante a off-season não vou querer muito andar de bicicleta. (risos) Para mim é sempre bom ver corridas, perceber melhor as táticas e aprender, mas acho que onde se aprende mais é a andar na bicicleta.
PCM: Qual é o teu grande objetivo para o próximo ano?
AN: Não sei exatamente que corridas vou fazer no próximo ano, mas gostava de estar no Tour de France e talvez também no Giro. No geral, estou motivada para todas as corridas por etapas e para aprender, quero ter bons resultados e continuar a melhorar.
PCM: Como vês o estado atual do ciclismo feminino? Se pudesses mudar alguma coisa, qual seria a tua prioridade?
AN: Neste momento, acho que o ciclismo feminino está a crescer e é bom ver o quão rápido nos estamos a desenvolver. Isso deixa-me muito feliz, mas acho que ainda há muitas melhorias possíveis. Ainda não temos equipas pro-continentais suficientes para as ciclistas melhorarem antes de passar para o World Tour. Ainda é muito difícil passar do nível continental ou júnior para uma equipa World Tour. Isso também está a melhorar, mas acho que podemos fazer um pouco mais.
PCM: Vamos ver-te no futuro a correr noutras disciplinas? Ou estás completamente focada na estrada?
AN: Talvez, gostava de experimentar algumas corridas de cross, mas para já estou focada na estrada. É suficiente para mim, neste momento.
Agradecemos à Antonia Niedermaier e à Federação Alemã de Ciclismo por nos terem concedido esta entrevista, e desejamos-lhe boa sorte nos Campeonatos do Mundo!
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