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“A Mulher no Mundo EFAPEL”

É comum dizermos que nada acontece por acaso. Recordo-me como se fosse hoje do dia em que me foi colocada a possibilidade de trabalhar com a Equipa Profissional de Ciclismo EFAPEL. O desafio era ficar com toda a Comunicação da estrutura a meu cargo. Tamanha responsabilidade assustou, não minto. Mas não era a sorte a bater à minha porta. Era, isso sim, o fruto de todo um caminho palmilhado no mundo do ciclismo, essa modalidade maioritariamente masculina, mas onde as Mulheres vão ganhando asas.

Desde esse dia, em que surgiu o convite para trabalhar com a EFAPEL, tem sido uma viagem e tanto! Foi no imediato que percebi que ainda há equipas a fazer a diferença e a EFAPEL é seguramente uma delas. Reparem que, neste momento, já são sete as Mulheres que estão ao serviço da estrutura, quer profissional como na Escola de Formação. Sendo que na escola há oito atletas a correr com a camisola da EFAPEL (cinco no escalão de competição e mais três a competir na categoria Escolas). Um belo exemplo!

Foto: João Fonseca

Foi com o Grande Prémio ABIMOTA que a minha viagem começou, ao ser destacada para fazer a comunicação da 38.ª edição da prova, em 2017. Estranhei o ciclismo. Mas, quando me dei conta, a modalidade já se tinha entranhado e apoderado de mim. Mesmo debaixo de um ou outro olhar reprovador ou mal intencionado, porque, afinal, era uma Mulher e jovem, que chegava ao mundo deles.

É um grande privilégio poder viver uma corrida por dentro, estar junto das equipas e do seu staff, perceber como tudo funciona e fazer as etapas na caravana dos carros, com a adrenalina da condução ao som da rádio volta. O espírito de sacrifício, a estratégia, a humildade. De repente esquecemos que são homens e mais homens à nossa volta porque eles próprios vão deixando de fazer distinção.

Foto: João Fonseca

Trabalhei mais dois anos na prova e começou um namoro com a EFAPEL. Apaixonei-me pela ideia de poder integrar uma formação com o nível da EFAPEL e com toda a sua diferença. Apaixonei-me pela equipa. Não se trata apenas de uma formação profissional de ciclismo, mas de uma estrutura que desenvolve trabalho com crianças e jovens, quer ao nível do ciclismo de estrada como da prevenção rodoviária. E ainda há lugar para as ações de cariz social e solidário. Além disso, como já referi, tem Mulheres ao comando. Mulheres guerreiras e muito capazes, que levam o barco a bom porto.

Por isso ser “Mulher EFAPEL” é ter responsabilidades que crescem todos os dias. Mas ao mesmo tempo é ter o respeito e o compromisso pelo meu trabalho, por ter-me sido confiada a “joia da coroa”, que é a Comunicação de toda a estrutura. Deram-me total liberdade, deram-me asas e eu comecei a voar. E voo. Ao lado dos homens com quem trabalho diariamente, ao lado dos nossos corredores, que prezam tudo o que é feito do lado de cá.

Foto: João Fonseca

Obviamente nem tudo foi fácil, porque num mundo onde eles, os homens, estão em maior número, ainda somos vítimas de ideias pré-concebidas. Quando me estreei senti a necessidade de provar que não era apenas “mais uma cara laroca” que chegava à modalidade. Tive de conquistar o meu lugar, mostrar que era uma profissional competente e tal como todos os outros tinha o direito de exercer as minhas funções, merecendo respeito e consideração.

Tudo se ultrapassou. Com resiliência e o apoio de bons amigos que a modalidade foi trazendo, curiosamente homens, que deram o suporte para seguir, sem vacilar nem olhar para trás.

Quanto às Mulheres, estão todas de parabéns! Porque são cada vez em maior número no ciclismo, quer a trabalhar como a competir e cada vez são mais valorizadas.

Marta Varandas

Foto de capa: João Fonseca