O Tour entra na fase decisiva. Os 130km entre Saint-Gaudens e Peyragudes podem ser uma das últimas oportunidades para fazer diferenças na classificação geral.

Coincidência ou não, em Saint-Gaudens há o costume de a camisola amarela mudar de mãos. Na 18ª etapa de 1955, Antoine Bobet retirou a camisola ao compatriota Antonin Rolland e conquistou o seu terceiro Tour consecutivo. Cinco anos antes acontecia um dos maiores insólitos da prova. O clima pós-guerra ainda estava bem presente e havia uma animosidade para com os ciclistas italianos, devido ao papel da Itália na Segunda Guerra Mundial. Depois do segundo dia de descanso, o Tour retomou com uma etapa entre Pau e Saint-Gaudens. Na subida do Col D’Aspin, Gino Bartali foi ameaçado e atacado pelos imensos espetadores que estavam ao longo da montanha e, ainda assim, retomou ao grupo da frente e venceu o final da etapa. Mas esta tensão entre franceses e italianos não eram nova. No contra-relógio dessa edição tinham já acontecido incidentes com Bartali e um espetador que tentou fazer com que o ciclista caísse. O descontentamento, principalmente de Bartali, levou a que todos os ciclistas de Itália abandonassem o Tour, mesmo o líder Fiorenzo Magni, que teve de abdicar da amarela contra a sua vontade.

A luta que agora pretendemos ver no Col D’Aspin resume-se exclusivamente à estrada. Esta dificuldade tem sido presença frequente nas etapas do Tour, com a última a acontecer em 2018. Nesse ano Roglic foi o mais forte no final à frente dos principais adversários, Thomas, Froome e Dumoulin.

A 30km do final os corredores vão superar Col de Val Louron-Azet, com 10,7km a 6,8% de inclinação. Anthony Perez cruzou sozinho no topo em 2021, para depois ser deixado para trás pelos três do costume nessa edição, Pogacar, Vingegaard e Carapaz, que deram espetáculo subida acima.

Os difíceis últimos quilómetros levam o Tour até 1580m de altitude em Peyragudes. A estatística favorece os franceses que, em quatro chegadas neste local, venceram duas. Na 15ª etapa da Vuelta de 2013, Alexandre Geniez, e na etapa 12 do Tour de 2017, Romain Bardet, deixaram marcada a força da França na chegada ao altíssimo aeródromo de Peyragudes. Vamos ter novamente um homem da casa a levantar os braços na meta?