João Almeida prepara-se para disputar o seu segundo Tour de France. Na estreia, no ano passado, alcançou um impressionante 4.º lugar na classificação geral, mesmo tendo trabalhado em função do líder da UAE Team Emirates-XRG, Tadej Pogacar. Agora, com uma temporada de 2025 com nove vitórias, há grande expectativa sobre a possibilidade de o ciclista português alcançar finalmente o tão desejado pódio em Paris. Ainda que o objetivo seja igual ao do ano anterior, a ambição será certamente maior.
Então, na véspera da partida, em conferência de imprensa com meios de comunicação social portugueses, João Almeida começou por revelar otimismo quanto ao momento de forma atual: “As pernas, para já, estão boas (risos). A motivação está em alta, chegámos num bom momento de forma e temos tudo para as coisas correrem bem. Obviamente é sempre um início bastante tenso e nervoso. Temos de estar atentos e bem-posicionados.”
ENTREVISTA COM JOÃO ALMEIDA NO TOUR 2024
Em entrevista à Portuguese Cycling Magazine, no ano passado, João Almeida afirmou que os seus objetivos de carreira no Tour de France passam por terminar no pódio final e vencer uma etapa. O ciclista português respondeu assim à nossa questão sobre a viabilidade de alcançar essas metas nas próximas três semanas: “Acho que é relativo. Venho cá com o objetivo de apoiar o Tadej. Não venho como líder, logo o resultado é secundário. Obviamente, se tiver essa sorte e uma oportunidade de fazer isso, vou estar ao meu melhor. Mas o objetivo é ajudar o Tadej o máximo que conseguir. Estamos aqui para ganhar o Tour.”
Ajudar o “melhor de sempre” e lutar pelo pódio
Sem objetivos individuais definidos, Almeida será o último homem de trabalho daquele que considera ser “o melhor ciclista de sempre”: “É uma honra fazer parte da equipa do Tour e ser o último homem. Estamos a falar não só do melhor ciclista da atualidade, mas também de sempre. Pessoalmente, fazer parte dessa história dá-me uma motivação extra. É um orgulho fazer parte desta equipa.”
Na edição anterior da prova, os rivais tentaram desgastar a UAE Team Emirates-XRG com ritmos altos e constantes nas montanhas. No entanto, Pogacar resistiu e acabou por dominar. Este ano, poderá haver mudanças táticas, mas o essencial manter-se-á: “No final de contas, são etapas muito duras. Vão ser sempre as pernas a falar mais alto. Nós e a Visma somos os principais rivais. Temos equipas muito fortes, quase equivalentes. Taticamente há sempre várias coisas que se podem jogar, depende das situações de corrida e da classificação geral no momento. Temos de estar sempre preparados para tudo, para os adversários não nos surpreenderem.”
Quanto ao seu papel na estratégia da equipa, João Almeida deverá manter-se junto de Pogacar. Ele pensa então em “destruir o grupo [dos favoritos] quando puxar”, mas admite possíveis adaptações: “À partida, serei o último homem do Tadej, mas há sempre dias menos bons. Se os meus colegas conseguirem fazer um trabalho melhor, ficarão mais para o fim. E se houver uma situação de corrida propícia para isso acontecer, seria bom de aproveitar. Desde que seja uma vitória para toda a gente, é questão de ver a situação de corrida.”
Na luta pelo pódio fimal, João Almeida enfrentará a concorrência de Jonas Vingegaard e Remco Evenepoel. Questionado sobre a ambição que o belga demonstrou de melhorar o seu 3.º lugar do ano passado: “No contrarrelógio plano o Remco terá vantagem, mas o Vingegaard na montanha é um ciclista superior. Se pudesse apostar num para fazer 2.º, apostava no Vingegaard. Obviamente o 1.º será o meu colega de equipa (risos).”
O percurso de 2025 traz várias armadilhas, sobretudo na primeira semana, o que exige uma proteção especial aos líderes. Em caso de acidente com Pogacar, poderia Almeida assumir a liderança? “Sim, estou numa boa forma física. Não há nada que me impeça de fazer isso se alguma coisa não correr bem. Temos de ser realistas: o Tadej está num nível acima e os adversários estão muito fortes também. [Um acidente] mudaria bastante a dinâmica de corrida, mas temos de dar o nosso melhor.”
João Almeida tenta “dar o melhor e evoluir o máximo possível”
Para a temporada 2025, João Almeida definiu, em conjunto com a equipa, um calendário “preenchido, mas relativamente equilibrado”, que lhe permitiu vencer Volta ao País Basco, Volta à Romandia e Volta à Suíça. Assim, chega ao Tour de France com nove triunfos e ocupando o 6.º lugar no ranking UCI.
“Tem sido um ano bastante bom, o meu melhor ano desde que sou profissional… com mais vitórias e bastante boas. Quase todos os corredores do ranking mundial estão aqui no Tour. Os melhores posicionados aqui vão subir no ranking. Não vou propriamente lutar pelo ranking, é uma coisa secundária, mas acredito que possa subir”, afirmou.
Nos últimos anos, o ciclista português enfrentou diversos problemas de saúde, incluindo duas infeções por Covid-19 que o obrigaram a abandonar outras grandes voltas. Questionado sobre o que aprendeu com essas adversidades, foi honesto: “Não fico doente muitas vezes, mas fico sempre numa altura que não é muito boa. É sempre nas corridas. Não tem nada de bom ficar doente. É duro mentalmente, mas acabamos por superar isso e torna-nos mais fortes. Pessoalmente, quando fico doente, isso leva-me bastante abaixo fisicamente e demoro a voltar a ter a forma. Mas faz parte do ciclismo.”
Por fim, antes de iniciar o Tour, João Almeida não deixou de refletir obre a sua evolução desde que ingressou na UAE Team Emirates, em 2022: “A diferença é que estou mais maduro e experiente. Ao longo dos anos, percebemos o que funciona connosco e o que não funciona. É toda uma luta de dar o nosso melhor e tentar evoluir o máximo possível”, concluiu.