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Giro d’Italia: O Legado Português

Rui Costa, uma história agridoce

Falar de Rui Costa, é falar de grandes feitos no ciclismo português, a sua história é bem conhecida e está ligada diretamente aos Campeonato do Mundo de Estrada 2013 e ao Tour de França onde arrecadou 3 etapas, 1 em 2011 e 2 em 2013.

Rui Costa na edição do Giro d´Itália de 2017.

A história de Rui Costa com o Giro d´Itália é agridoce, em 2017, ficou perto da vitória em 3 etapas, conseguindo o louvável segundo lugar nas mesmas, como Rui Costa nos disse: ”três vezes na trave”.  Em 2022 Rui Costa, ainda parte da UAE Team Emirates, vestiu as cores da equipa para o Giro como fiel gregário do seu colega de equipa, o português João Almeida, que como mencionado anteriormente viu-se obrigado a desistir por COVID-19. 

Fomos descobrir um pouco mais da história de Rui Costa no Giro d´Itália.

Qual é que foi a sensação de correr numa prova como o Giro d´Itália? O que é que significa para ti correr nesta Grande Volta? 

“Eu adorei fazer o Giro d´Itália, foi uma das grandes voltas, e talvez a que me tenha dado mais prazer e a qual mais desfrutei. O Giro, concilia todas as pequenas coisas.”

Como dita a tradição, o Giro d´Itália irá decorrer no mês de maio, a sua primeira edição foi a 13 de Maio 1909. Este ano, o Giro d´Itália irá decorrer de 6 a 28 de Maio.

Fotografia: Site oficial do Giro d´ Itália.

“O Giro foi uma corrida que me surpreendeu, é uma corrida que é organizada no mesmo Maio, onde acaba por, em modo geral, ser mais calma, por exemplo as pessoas não estão de férias. O Tour de França, já sabemos que é uma prova à parte, muito mais stressante e tudo mais, torna-se complicado pelo facto de haver milhares e milhares de pessoas na mesma estrada, temos de ter mais atenção, não só aos atletas que temos ao nosso redor, mas também às pessoas que estão na estrada.” 

“Claro que é de valorar todo esse apoio que as pessoas dão longo do percurso, é bom terem a possibilidade de vir apoiar e ver os atletas, mas têm que ter sempre uma atenção redobrada aos atletas, porque muitas das vezes as pessoas são um fator de perigo.”

Em 2017, por 3 vezes, subiste ao pódio na segunda posição no Giro d’Itália quais foram as lembranças dessa edição? 

“Lembro-me bem de 2017 ter feito o meu primeiro ano no Giro d´Itália, onde as coisas não correram, não diria mal, mas também não foram totalmente favoráveis, porque acabei por acertar, como se costuma dizer, não duas, mas três vezes na trave e não conseguir a vitória. Fiquei um bocadinho triste, frustrado, como é óbvio, mas foram três bons resultados, do qual foi mesmo pena não ter conseguido a vitória.”

Dessa edição do Giro d´Itália, 2017, ficam mais na memória os melhores momentos do que a infelicidade de não conseguir finalizar. Como foi sentir o apoio dos portugueses durante esta prova, que estavam atentos à sua prestação? 

“Sem dúvida que sim, que o apoio de todos os portugueses foi fantástico, sem dúvida que é brutal sentir o apoio de todos eles, mesmo quando não se ganha. Mas claro, quando somos atletas, quando temos a possibilidade de poder fazer mais e às vezes por uma situação ou outra de corrida ficamos fora de poder ganhar, o segundo lugar acaba por às vezes saber a pouco, não é? É um sentimento agridoce. Ter feito três segundos lugares, posso dizer que sai do Giro meio insatisfeito, mas ao mesmo tempo contente pela minha prestação.”

Quais é que são as maiores dificuldades que um ciclista atravessa numa prova deste calibre?

“É uma prova dura, uma prova que é preciso saber gerir muito bem, as energias, as emoções. São três semanas, às vezes entramos muito bem fisicamente e psicologicamente, mas tudo isso é preciso ser gerido muito bem, porque no Giro, muitas das vezes, a parte mais difícil não é o início. Na primeira semana todos estamos bem fisicamente, com o ânimo nas nuvens, queremos fazer tudo e mais alguma coisa, mas sabemos que as dificuldades vêm sempre na última semana.”

Na sua primeira edição, em 1909, o Giro d´Itália contou 8 etapas que perfizeram um total de 2 448 quilómetros. Atualmente, são 21 etapas que fazem a delícia dos aficionados do ciclismo. Este ano os ciclistas irão percorrer 3489,2 quilómetros, uma média de 166,2 quilómetros por etapa. As 21 etapas irão se dividir em: 3 contrarrelógios individuais; 8 etapas planas; 5 etapas de média montanha; e 5 etapas de alta montanha, sendo o ganho de altitude total de 51400 metros. 

“O Giro é uma prova que tem sempre muita montanha, as montanhas do Giro são completamente diferentes de todas as outras Voltas, são subidas mais longas…são as míticas subidas do Giro d´ Itália. A última semana acaba por ser uma semana muito desgastante porque encaixa 3/4 dias muito duros e todos eles seguidos. É preciso, sempre, deixar um bocadinho de fogo para a última semana, isto é fundamental.”

Vencer uma etapa no Giro d´Itália ainda faz parte dos planos?

Fonte: Twitter Rui Costa. Rui Costa: “I found a new life with Intermarché-Circus-Wanty. I can’t believe I won this race. I was dropped in the last climb but managed to come back alone. I did not realize I also won the overall, it’s incredible.” 

“Não sei, não sei… sem dúvida que é uma boa pergunta, mas acho que desde que dei o salto para a Intermaché-Circus-Wanty, o meu objetivo foi realmente voltar ao Tour de França, sem dúvida. Os últimos Tours de França que eu fiz foi em prol dos meus companheiros de equipa, e não tinha um plano livre de poder fazer aquilo que eu gosto e aquilo que eu posso vir a obter durante as etapas. O Giro, do ano passado, foi um bocado igual, em prol da equipa, do João Almeida, o foco foi ele e não a nível individual.”

“Este ano irei ao Tour, no próximo ano não sei o que irei fazer, é certo que a primeira passagem no Giro de Itália é bastante animada pelo facto de ter feito três segundos lugares e não poder ganhar uma etapa, porque podia sim marcar a história do ciclismo nacional, e também marcar a minha carreira a nível individual. Gostava de poder ter ganho no Giro, ter ganho no Tour e ter a oportunidade de ganhar na Volta à Espanha. “

“Este ano volto a ir ao Tour, espero que as coisas saiam bem, porque o Tour sabemos que é uma prova muito louca e pronto… o Giro não sei, gostava, gostava de voltar porque é uma prova que me fascina. “

Quais é que são, do ponto de vista de um ciclista muito experiente, as expectativas para Portugal no Giro d´Itália deste ano? 

Rui Costa em apoio ao colega de equipa, João Almeida, em 2020.

“As expectativas são boas, eu acredito que todos os portugueses estão animados. Temos um atleta, um português que pode disputar uma grande Volta, e isso é sempre interessante para todos nós portugueses. Eu acredito que se o João Almeida fizer aquilo que tem vindo a fazer, até o momento, nas corridas de uma semana, possa estar a lutar pelo top 3 ou top 5 facilmente. É um corredor com elevada qualidade e sem dúvida interessante para nos dar vitórias em Voltas, e eu acredito que Portugal este ano possa vir a sorrir.”