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Tom Dumoulin, um épico do ciclismo!

O título desta publicação não é assim tão prometedor, uma vez que parece soar à publicidade de um filme de sábado a tarde, mas prometemos que irá valer a pena, assim como valeu a pena seguir a carreira do ciclista oriundo de Maastrischt.

Dumoulin, de apenas 31 anos, irá retirar-se prematuramente tendo conquistado um Giro D’Itália (em 2017), um título mundial de contrarrelógio, 9 etapas em Grandes Voltas e uma medalha olímpica (Tóquio 20′, na vertente de contrarrelógio). É sem dúvida um excelente palmarés, mas não faz jus à atitude que sempre mostrou em cima da bicicleta. Daqui a 40 ou 50 anos, quando a memória encurtar será difícil analisar Tom Dumoulin da forma como o fazemos atualmente.

A “Borboleta de Maastricht”, como é que conhecido Dumoulin (apesar de não ser adepto do nome), iniciou a sua carreira essencialmente como contrarrelogista e que, aqui ou ali, conseguia subir um pequeno topo com competência mas muito de longe de ser um trepador. Mas, a partir de 2013, particularmente após uma exibição épica na penúltima etapa do então Eneco Tour (atual Benelux Tour) começou a mostrar os seus dotes de trepador. Essa exibição numa etapa com chegada a Aywaille seria um reflexo do que seria o resto da sua carreira, um ciclista sem medo de assumir a corrida e de ir para lá dos limites para conseguir os seus objetivos. Nessa tarde conseguiu chegar à liderança da prova, após um esforço brutal, mas no último dia não seria capaz de ganhar a prova, mas conquistou e respeito e admiração da maioria dos fãs:

A próxima paragem no nosso artigo, apesar do grande salto temporal e de inúmeros momentos que se poderiam referir, é a Vuelta a España 2015, o momento em que Dumoulin deu o salto definitivo para a ribalta. Ainda com imagem de contrarrelogista colada a si, até pela própria fisionomia do holandês (quase 1,90m), Dumoulin conseguiu fazer uma das prestações mais memoráveis de uma grande volta, até pela improbabilidade da ocorrência. Logo à segunda etapa, foi o único a conseguir seguir com Esteban Chaves na subida a Caminito del Rey e assumiu a 2ª posição na geral. No quinto dia chegaria à liderança, apenas para a perder no dia seguinte e é aqui que começa a ganhar contornos espetaculares. Falo da memorável etapa 9, com final na Cumbre del Sol. Não vou escrever mais, vejam só. (Dumoulin chegou à liderança novamente):

Após esta magnífica conquista frente a Froome e Rodríguez, Dumoulin seguraria a liderança por mais dois dias e voltaria a perder, após uma etapa diabólica em Andorra que não teve um único metro plano. Contudo, Dumoulin é chato e já na 17ª etapa, após um contrarrelógio de outro planeta, conseguiu alcançar a liderança da corrida novamente e só a perderia na penúltima etapa, numa etapa que definiu a carreira de Fábio Aru.

O ano seguinte seria a afirmação de um ciclista de topo. Venceu o prólogo do Giro 16′ em casa, mais precisamente em Apeldoorn, e vestiu a maglia rosa por 6 dias, até uma etapa onde existiram diversos setores de sterrato que afastaram “Big Tom” da contenda pela camisola rosa. Acabaria por abandonar a prova e reaparecer na Volta à França, onde venceu a chegada a Andorra batendo Rui Costa. Seria novamente com contornos épicos, visto chover de forma tal que uma tarde de verão mais parecia uma noite de inverno.

E chegou 2017, o ano dos anos! O Giro de 2017 é uma das provas do século XXI mais acarinhadas pelos fãs. Eu sei que todos queremos recordar o momento atípico de Dumoulin em Bórmio, quando se deu ao luxo de sair da bicicleta numa fase decisiva da corrida para ir à “casa de banho”, contudo vou recordar a etapa em que Dumoulin deu o seu melhor para homenagear Marco Pantani em Oropa. E conseguiu de forma absolutamente avassalador. Nenhum Quintana, Nibali ou Landa conseguiu travar o neerlandês nessa tarde. Mesmo com a rosa em seu poder não perdeu a sua postura de ataque:

Venceria mesmo essa edição do Giro D’Itália, após conseguir remontar de 4º para 1º no contrarrelógio final. Ainda nesse ano seria campeão mundial de contrarrelógio e venceria o BinckBank Tour.

2019 foi um ano brilhante a todos os níveis e só a Team Sky impediu de termos aqui uma época absolutamente lendária para os livros. Foi a época em que dois dos melhores voltistas do mundo decidiram tentar fazer a dobradinha Giro-Tour, Froome e Dumoulin. No Giro, Dumoulin só foi travado por Froome que conquistou a prova após um solo de 80km na antepenúltima etapa, numa cavalgada iniciada no Colle delle Finestre. Aí, Dumoulin cometeu o erro de esperar por Sam Oomen na descida e acabou por perder tempo que se revelou fatal. No Tour, Dumoulin acabaria por ser superior a Froome mas, acabou por encontrar um super Geraint Thomas pela frente que não deu qualquer hipótese a qualquer rival. Feitas as contas, Dumoulin terminaria em segundo no Giro D’Italia e Tour de France no mesmo ano. Ele e Froome (também em 2018) foram os únicos ciclistas no século XXI a terminar no pódio do Tour e Giro no mesmo ano!

A partir daí, Dumoulin entraria numa espiral negativa após uma lesão no Dauphiné de 2019 que provocaria uma ausência de mais de um ano do ciclismo de competição, não só devido à lesão mas também à pandemia. E apesar de ter sido 7º no Tour 2020, Dumoulin nunca voltou a ser realmente o mesmo.

O melhor é aproveitarmos uma vez mais para recordar as melhores exibições de Tom Dumoulin. Um contrarrelogista por natureza cuja tendência atacante faz invejar a maior parte dos trepadores puros da atualidade. Um espécime verdadeiramente raro, alguém que não só não procurava defender-se apenas nos contrarrelógios como assumia a corrida num terreno que não era o seu. Obrigado Tom!

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