Voltando atrás no tempo, tornaste-te agente em 1997. Todos sabemos que o ciclismo mudou muito desde então, mas como mudou nos bastidores?
Posso confirmar que, desde que comecei no ramo, as coisas mudaram totalmente. A primeira grande mudança ocorreu em 2005, quando a UCI decidiu criar o World Tour. Outra grande mudança ocorreu depois de 2010, quando a mentalidade dos ciclistas começou a mudar – tornaram-se mais sérios e hoje temos menos problemas com doping. [A mais recente] grande mudança foi depois da pandemia, porque a nova geração começou a obter grandes resultados desde jovem, e as equipas passaram a contratar os ciclistas não por 1/2 anos, mas por 4/5/6 anos, garantindo mais dinheiro para os ciclistas e por mais tempo. É um desporto totalmente diferente do ciclismo de 1997.
Numa entrevista de 2008, disseste “eu só lido com pessoas que são sérias naquilo que fazem”. Existem negócios pouco sérios no ciclismo?
O ciclismo é um desporto transparente e 90% das pessoas trabalham de forma correta.
No inverno passado, a transferência do Cian Uijtdebroeks para a Team Visma | Lease a Bike foi um dos maiores desafios da tua carreira. Como conciliaste os interesses de todas as partes para chegar a um acordo?
O Cian não estava satisfeito com a sua equipa em 2023, então ele queria mudar, e tive que trabalhar para encontrar uma solução entre as três partes. Porque a minha prioridade é só uma: que o ciclista esteja feliz. Não foi fácil, mas no final encontrei uma solução que deixou felizes as três partes. As três assinaram os documentos para transferir o Cian da Bora para a Visma. Não posso acrescentar mais comentários.
O Uijtdebroeks já vem de uma geração mais recente que a do Pogačar. Acreditas que as próximas gerações serão capazes de desafiar o domínio dele e do Vingegaard nas grandes voltas?
Sim, com certeza. Não sei quando, se em 2025, 2026 ou 2027, mas não dá para parar o tempo. Quando chegar a hora, a nova geração chegará também. É a mesma história das três grandes estrelas do ténis – Nadal, Djokovic e Federer – agora que a nova geração – Alcaraz e Sinner – chegou e venceu o Grand Slam. Não sei quando, porque a geração atual – Pogačar, Van Der Poel, Vingegaard, Van Aert e Remco – é muito forte, mas certamente que a nova geração – Cian Uijtdebroeks, Isaac Del Toro, Antonio Tiberi, Albert Philipsen e Léo Bisiaux – vencerá as maiores corridas do mundo.

Foto: Beeld RV
Falando da Itália em particular, o seu país sente falta de um ciclista capaz de vencer grandes voltas desde que o Nibali se retirou. Achas que esse ciclista já chegou?
Ultimamente na Itália, toda a gente vê que existem dois grandes talentos que podem ganhar grandes voltas no futuro: um é o Antonio Tiberi, o outro é o Giulio Pellizzari. Eles são o futuro da Itália.
O que dizes para convencer um ciclista a entrar na A&J All Sports? Depois, dentro da agência, com que frequência interages com os ciclistas?
Digo apenas que somos pessoas sérias, temos experiência, e só posso prometer uma coisa: que eu e todas as pessoas que trabalham na A&J All Sports estamos disponíveis para resolver o problema de um ciclista 24 horas por dia, 7 dias por semana. Com alguns ciclistas, temos interações todos os dias, para outros todas as semanas, para outros a cada duas semanas. Cada ciclista é diferente. Alguns ciclistas gostam de interagir sempre, mas outros preferem manter-se calmos. Tens de entender que relação os ciclistas desejam; tu não és o mesmo para cada ciclista.
Como encontras essa relação para cada ciclista?
Tens de compreender, com a tua experiência, o caráter dos ciclistas. Há alguns ciclistas que gostam de ficar o tempo todo no telemóvel, e outros que se esquecem do telemóvel num canto da casa e só pegam nele a cada três dias (risos). Cada ciclista é uma história diferente.
Qual é a conquista que te deixa mais orgulhoso?
No final de contas, não perco muito tempo a ver o meu passado; prefiro ver o meu futuro. Não penso nas minhas melhores conquistas do passado. Tenho um sonho: vencer o Tour de France e o Giro d’Italia com 5 ciclistas diferentes. Vencemos o Giro seis vezes com cinco ciclistas diferentes: Simone, Cunego, Di Luca, Nibali e Pogačar. Vencemos o Tour com ‘apenas’ três ciclistas diferentes. O meu objetivo é vencer o Tour com mais dois ciclistas diferentes.

Foto: Instagram Alex Carera
Em 2013, tiveste um acidente de carro que te deixou em estado grave. Depois, em 2021, o teu irmão Johnny também sofreu um acidente de carro. Como é que lidam com esses momentos difíceis?
Temos a sorte de, como fundadores da nossa agência, não estarmos sozinhos, mas sermos duas pessoas. Quando passei muitos meses no hospital, ele [Johnny] trabalhou muito, e quando ele ficou muitos meses no hospital, eu trabalhei muito. Fico feliz por os ciclistas entenderem estas situações e não nos pedirem muito nesses momentos. Criámos uma estrutura onde os outros que trabalham connosco podem ajudá-los.
Qual é a lição mais valiosa que aprendeste enquanto agente?
Que se trabalhares bem e fores honesto com os teus ciclistas, esses ciclistas trarão outros ciclistas até ti. A melhor publicidade para aumentar um portfólio é trabalhar muito e bem.
Última pergunta: Acompanhas os ciclistas portugueses?
Sim, mas temos de ser realistas. A agência do João [CORSO Sports Marketing] funciona bem, então é normal que os ciclistas portugueses gostem de estar com ele. Como eu disse, um ciclista traz outro e todos os ciclistas portugueses acabam com ele. Como é difícil ao João ter um ciclista italiano, a mim é difícil ter um ciclista português. No final o João está feliz, nós estamos felizes e é isso que importa.
Agradecemos a Alex Carera e à A&J All Sports pela disponibilidade em concederem-nos esta entrevista, e desejamos-lhes uma boa continuação do seu importante trabalho no ciclismo!