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Biniam Girmay prepara 2025: “Não é sobre o dinheiro ou a equipa grande”

Biniam Girmay é um dos ciclistas mais consensuais da atualidade. Não há nada a apontar ao atleta nascido em Asmara, capital da Eritreia, pequeno país do corno de África. Ele só é culpado de, quando dança em cima da bicicleta, pôr o mundo do ciclismo a dançar com ele. Depois solta um sorriso e o mundo está feliz. Foi assim quando venceu a Gent-Wevelgem de 2022. Foi assim quando venceu uma etapa no Giro d’Italia do mesmo ano. E foi assim quando ganhou três etapas e a camisola verde do Tour de France de 2024.

Agora, Biniam Girmay apresenta-se na Intermarché-Wanty para dar seguimento a uma “boa temporada” que o Tour de France tornou inesquecível, mas foi um momento entre muitos. Numa entrevista divulgada pela equipa, ‘ Bini’ aborda os momentos do último ano, ao mesmo tempo que prepara os momentos da nova temporada. Estas são as declarações de uma pessoa frontal, humilde e que só alcança a felicidade com a felicidade daqueles que estão à sua volta.

“Desde que conheci as Clássicas, a minha paixão aumentou”

Para ser honesto, queria mesmo ganhar numa grande volta, era o meu grande sonho. Mas desde que conheci as clássicas, a minha paixão aumentou. Toda a gente conhece o Tour de France, mas eu estava muito entusiasmado era para correr as clássicas.

Assim, a conversa começa pelas provas que mais entusiasmam Bini e das quais faz um balanço positivo. “Estava ao nível de 2022, de competir e discutir os pódios“, afirmou o campeão da Gent-Wevelgem desse ano, estabelecendo ainda o contraste para 2023, em que “estive completamente fora, não fiz nada”. Na temporda de clássicas de 2025, vai começar pela Milano-Sanremo, o monumento ao qual atribui maior potencial:

Em Sanremo, melhorei muito. Simplesmente quebrei no último momento. Daqueles pequenos erros. Não comi o suficiente e depois descolei no plano. Imaginem ultrapassar as partes difíceis da corrida e depois descolar nos últimos 5 km por causa da nutrição…

Estava a desenvolver-me muito bem“, admite Biniam Girmay. Mas semanas depois, ficou na “queda muito feia” que também afetou Wout Van Aert na Dwars door Vlaanderen. Ainda correu o Tour de Flandres, mas em retrospetiva, admite que não devia ter participado no monumento. Regressou no Giro d’Italia e fez 3º no primeiro sprint em pelotão, só atrás dos melhores sprinters da volta, mas outra queda atirou-o para fora da corrida. Foi então que iniciou um período de reabilitação.

Depois do Giro, disse à equipa que queria mesmo correr, porque treinei muito durante um mês, sacrifiquei tudo e não queria esperar até que as feridas sarassem.

A vitória no Circuit Franco-Belge – em Tournai, onde está localizada a base da Intermarché-Wanty – e outros bons resultados deram-lhe “muita motivação para voltar a casa e preparar o Tour de France.” O resto é história.

Girmay foi o primeiro africano negro a vencer uma clássica World Tour. Foto: Luca Bettini/Sprint Cycling Agency

“Imaginem que vão lançar o vosso colega e depois vencem a etapa… no Tour de France!”

Foi o melhor momento da minha vida. Nada se compara. Com a minha mulher, a minha filha, os meus colegas de equipa, os patrocinadores, todos os eritreus… foi mais do que eu podia imaginar. Para o resto da minha vida, vou recordar aquele dia, porque foi um passo para a Eritreia, para África e para todos os ciclistas negros.

É assim que Biniam Girmay descreve a vitória na etapa 3 do Tour de France. Nessa vez, conseguiu escapar à queda do dia, que afastou Jasper Philipsen e Mark Cavendish da discussão. Ele estava bem posicionado, mas não estava imediatamente na frente. Mesmo assim, com um sprint potente, acabou a dançar em cima da bicicleta.

Não esperávamos. Talvez conseguissemos bons resultados na última semana, mas no primeiro sprint em pelotão, estão todos frescos ​​e famintos para procurar a vitória. Vencer entre os melhores sprinters do mundo na primeira semana do Tour não me passava pela cabeça. Além disso, o Gerben Thijssen é que era o líder, eu era o ajudante. Imaginem que vão lançar o vosso colega de equipa e depois vencem a etapa… no Tour de France!

Em Turim, Bini vidi e vici para si e para todos aqueles que sonham no ciclismo. Após a vitória, conseguiu dar sequência nas etapas 8 e 12, criando uma normalidade fora do normal para “um dos orçamentos mais baixos do World Tour”. A subida ao pódio, como vencedor da classificação por pontos, foi o ato com que Girmay encerrou um Tour de France histórico para a Intermarché-Wanty, e a história promete continuar a ser escrita.

“Estamos a caminhar no mesmo passo”

Se virem a minha história e a história da equipa, estamos a caminhar no mesmo passo. Lembro-me que a primeira vez que decidi ficar na equipa [depois da vitória na Gent-Wevelgem 2022] foi pelo mesmo motivo. Tinha contratos melhores em equipas maiores, mas quando ouvi falar do objetivo e do plano da equipa, isso inspirou-me. Então disse: “Ok, esta equipa é a melhor para eu me desenvolver”. Mas quando passei mais algum tempo, pensei: “Ok, esta equipa é, de certeza, a minha melhor equipa”.

Durante o Tour de France, Biniam Girmay decidiu prolongar o seu contrato com a Intermarché-Wanty, que terminava no próximo ano. Vai caminhar com a equipa até 2028. Apesar de Girmay ter sido um dos melhores júniores do seu ano – foi um poucos ciclistas que bateu Remco Evenepoel quando o belga dominava o escalão – ele não conseguiu entrar no World Tour. Porque os diretores das melhores equipas do mundo tinham dúvidas sobre a adaptação de um ciclista eritreu à vida na Europa.

Foi José Azevedo que deu o primeiro passo. O português orientava a Delko Marseille e apostou em Bini para discutir corridas no calendário francês. Ele venceu no seu continente, África, até que a equipa foi desmantelada por problemas financeiros. Felizmente, a crença de Azevedo já tinha sido suficiente para quebrar o estigma. Ainda em idade de sub-23, Girmay pôde assinar pela Intermarché-Wanty a meio da temporada de 2021.

É uma atmosfera familiar. A equipa está a formar-se à minha volta e isso dá-me muita confiança. Lembro-me que no ano passado tivemos uma má época, mas nunca me levaram ao limite. Apenas me deram tempo para encontrar a melhor forma de melhorar. Esta equipa é honesta comigo, por isso também preciso de ser leal. E é por isso que preciso de estar mais tempo na equipa. Não é sobre o dinheiro ou a equipa grande. O mais importante é aproveitar o meu tempo na bicicleta.

Questionado sobre os companheiros que fazem a “atmosfera familiar” da Intermarché-Wanty e lhe permitem aproveitar o tempo na bicicleta, Girmay cita Hugo Page e Laurenz Rex, jovens que estão a despontar na equipa. Ele espera que possam continuar a melhorar até ao dia em que, juntos, formem um dos melhores blocos tanto para sprints como para as clássicas.

Trabalhamos juntos há três anos e estamos a construir algo juntos. Por isso, eu acredito mesmo neles. Podem provar que são os mais fortes, já os vimos no Tour de France. Não é apenas um ano. O plano da equipa vai até 2028,. Acredito que se aprendermos com 25, 26, 27 e 28, seremos dos melhores comboios. Da minha parte, ainda falta alguma coisa, mas temos qualidade na nossa equipa.

Reconhecendo que nem sempre tem sido consistente e sabendo que tem capacidade para o ser, Biniam Girmay aponta, então, os objetivos pessoais e da Intermarché-Wanty para 2025.

Girmay prepara a temporada de 2025. Foto: Vincent Kalut/Photonews

“Podemos alcançar algo grandioso no Tour de France 2025”

O meu objetivo é estar na melhor forma para as clássicas e depois novamente para o Tour de France. É a corrida de bicicleta mais famosa do mundo, por isso preciso de lá estar. Preparando-me e trabalhando em conjunto com os meus companheiros de equipa, vamos tentar de novo. Conheço o meu potencial e o potencial da minha equipa, mas não esperava ganhar três etapas e a camisola verde. Vai ser difícil, mas ainda assim, quando chegar a minha vez, darei 100%. E, juntamente com a minha equipa, acredito que podemos alcançar algo grandioso no Tour de France.

Biniam Girmay abre a temporada em Maiorca e depois no sul de Espanha. Até março, o calendário não está definido, apeans sabemos que a Milano-Sanremo inicia um leque de grandes objetivos que passam pelo Tour de Flandres e o Paris-Roubaix. A temporada de Bini culmina, por fim, na maior corrida do mundo: o Tour de France.

Entrevista completa de Girmay. Vídeo: Intermarché-Wanty

Agradecemos a Biniam Girmay e à Intermarché-Wanty pela divulgação desta entrevista, e desejamos-lhes felicidades na temporada de 2025.

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