Os favoritos: Elite
Elite Masculino
O duelo mais aguardado da temporada. Entre os vários a que já assistimos, é no maior palco de todos, o Campeonato do Mundo, que atinge o seu apogeu. Uma rivalidade que nasceu nos escalões de formação, que não encontra paralelo na história moderna da modalidade, quer pelo domínio absoluto dos intervenientes sobre todo o resto, quer pelo respeito e admiração mútua que ambos demonstram. Domingo, é em Mathieu Van der Poel e Wout Van Aert que recaem todos as câmaras, todos os olhos, todos os focos. Será o empate ou o alargar da vantagem de Van der Poel em número de camisolas do arco-íris. O neerlandês corre em casa, e quando dizemos em casa, é literalmente em casa, já que Hoogerheide é a localidade natal de Van der Poel, e isso será por certo mais um fator extra de motivação. Infelizmente, não vamos ter o ramalhete completo, já que Tom Pidcock abdicou da sua presença na competição em favor da sua temporada de estrada. E assim sendo não teremos o ainda detentor do arco-íris a defender a sua camisola.
Van der Poel é o recordista de vitórias em Hoogerheide, com cinco triunfos. Conhece o circuito com a palma da sua mão, e chega a estes Campeonatos do Mundo em crescendo de forma (como prova a sua vitória em Besançon, na semana passada) depois de há cerca de um mês ter sofrido novamente de problemas nas costas. Conta com cinco vitórias na temporada, quatro delas em provas da Taça do Mundo e uma outra, ironicamente, em casa de Van Aert, na prova do Troféu X2O de Herentals. Irá partir da primeira linha da grelha, devido ao seu 6º lugar à geral na classificação da Taça do Mundo. Por aqui terá vantagem face a Van Aert, já que o belga irá alinhar na segunda linha da grelha, devido ao 13º lugar de Toon Vandebosch na Taça do Mundo de Besançon, que lhe “roubou” o 8º lugar na geral da Taça do Mundo, o último que dá acesso à primeira linha da grelha. No entanto, este não será certamente um fator decisivo no desenrolar da corrida.

Se o registo de Van der Poel é impressionante, o de Van Aert é estratosférico: o belga participou em 13 provas esta temporada, ganhou nove e as outras quatro terminou na 2ª posição. Em algumas delas bateu de forma muito direta e dominadora o seu rival, e é considerado por muitos o grande favorito ao título mundial. Contudo, Hoogerheide não é uma prova de boa memória para Van Aert, já que ali nunca conseguiu vencer. Estão reunidas assim todas as condições para uma corrida memorável.
Já no mundo dos comuns mortais, podem-se apontar alguns nomes que se podem imiscuir na luta pelo pódio ou, mais provavelmente, na luta pela medalha de bronze. Também a correr em casa, Lars Van der Haar é sempre alguém a ter em conta em Campeonatos Mundiais, ele que já tem no seu medalheiro duas medalhas de prata (16’ e 21’) e duas de bronze (13’ e 15’). Consistência é o nome do meio de Van der Haar, que conta com participação em 31 provas, quatro vitórias, e por apenas três vezes terminou fora do top-5.
Michael Vanthourenhout é mais um entrar nestas contas, após uma temporada que lhe valeu os títulos de campeão europeu e belga. Correu em 29 provas, venceu seis, apenas em duas terminou para lá do top-5, e é dos poucos que se pode gabar de ter dado alguma luta aos Big 3 em determinadas provas. A par de Van de Haar, é um dos maiores favoritos ao bronze.
A viver a sua melhor época de sempre, com a subida à liderança do ranking UCI e com a vitória na geral da Taça do Mundo, Laurens Sweeck pode também ser encarado como um nome sério para a corrida de domingo. O circuito de Hoogerheide pode não se adaptar da melhor forma às suas características, como corroboram os seus resultados aqui, mas na melhor forma de sempre, uma medalha pode tornar esta numa época de sonho para o belga.
Temos ainda Eli Iserbyt, que abriu a temporada a todo o gás, sendo imparável até aos Campeonatos da Europa, onde sofreu uma lesão que alterou por completo o rumo do seu inverno. Uma queda na Taça do Mundo de Val di Sole poderia ter tido piores consequências, mas estas circunstâncias não impediram Iserbyt de voltar a recuperar a forma, e terminar o ano novamente entre os melhores.
Elite Feminino
Tal como acontece no lado masculino, também a atual detentora da camisola do arco-íris no lado feminino, Marianne Vos, é baixa confirmada em Hoogerheide devido a lesão. Assim, é quase certo que teremos uma estreante com o arco-íris na categoria Elite, até porque se perspetiva, tal como no lado masculino, uma batalha que promete ficar nas páginas douradas do ciclocrosse, antecipando aquilo que se poderá vir a passar na próxima década no ciclocrosse feminino, até porque as intervenientes ainda têm idade para competir no escalão Sub-23. Fem Van Empel e Puck Pieterse partem para Hoogerheide como as principais favoritas ao ouro, após Shirin Van Anrooij ter renunciado a subida ao escalão Elite nestes Mundiais.
Após o 3º lugar no Campeonato do Mundo Sub-23 de Fayetteville, Van Empel estreou-se a tempo inteiro na categoria Elite com estrondo: 21 provas, 20 pódios (incluindo 13 vitórias), e uma queda impediu-a de terminar a corrida na Taça do Mundo de Val di Sole. Venceu o Campeonato da Europa, a geral da Taça do Mundo (incluindo sete provas conquistadas), é a atual líder da geral do Troféu X2O e do ranking da UCI. Melhor cartão de visita não poderia haver.

Por seu lado, Pieterse participou em 18 provas durante a temporada, subindo ao pódio em todas elas, nove das quais no degrau mais alto. Foi campeã europeia de Sub-23, campeã nacional Elite, 2ª classificada na geral da Taça do Mundo, e é a atual 2º classificada do ranking UCI. Poderíamos estar agora a atribuir total favoritismo a Van Empel, se não fosse pela decisão (muito aplaudida, diga-se) de Pieterse em subir definitivamente ao escalão Elite nas semanas que antecederam este Campeonato do Mundo.
No seio da armada holandesa que domina a seu bel-prazer o panorama internacional, poderemos ainda contar com Denise Betsema, Ceylin Del Carmen Alvarado, a velha raposa Lucinda Brand ou mesmo com a italiana Silvia Persico na luta pelo pódio. Betsema, apesar de não estar a ter uma época tão consistente como em anos anteriores, terminou aproximadamente metade das corridas que fez no pódio (incluindo dois triunfos), no entanto só uma delas aconteceu na competição de regularidade mais cotada, a Taça do Mundo. Ainda assim, é a atual 3ª classificada do ranking UCI, o que atesta bem da sua qualidade.
A ex-campeã do mundo, Alvarado, por seu lado, tem vindo gradualmente a adquirir a forma que a conduziu ao título mundial (2019/2020) e europeu (2020/2021). Após uma série de problemas físicos que a impediram de estar ao mais alto nível na temporada passada, Alvarado regressou às vitórias este ano, e nos últimos meses tem conquistado pódios em provas importantes do calendário, nomeadamente a medalha de prata nos últimos Campeonatos Nacionais, e a atual liderança da classificação geral do Superprestige.
Brand talvez tenha começado a acusar esta época o peso da veterania, e apenas saiu vitoriosa uma vez das corridas em que participou. No entanto, ela tem estado regularmente na luta pelo pódio em todas as competições, e numa corrida como o Campeonato do Mundo, ela irá com certeza aproveitar todas as oportunidades que surjam.
A medalhada de bronze nos Mundiais passados, Persico, não tem feito muitas corridas de ciclocrosse esta temporada, muito menos contra adversárias de peso como as que vai encontrar este fim de semana, mas quando o fez, rondou sempre o pódio, com três 4º lugares, dois deles em provas da Taça do Mundo.