A Vuelta a España entra na sua derradeira e decisiva semana, e Portugal está em suspenso. João Almeida ocupa o 2.º lugar da geral, a apenas 48 segundos de Jonas Vingegaard, bicampeão do Tour de France e habitual rival de Tadej Pogacar. Tão perto e, ao mesmo tempo, tão longe de um feito histórico para o desporto nacional. A Portuguese Cycling Magazine esteve presente na conferência de imprensa em que o ciclista português da UAE Team Emirates-XRG partilhou as suas perspetivas e ambições para a reta final da prova.
“Bem-vindo ao ciclismo”
Questionado sobre o que esperar da fase final da Vuelta, João Almeida reconheceu a dureza acumulada, mas mostra-se confiante: “Foram duas semanas muito duras de corrida. Esperamos uma terceira semana muito dura, todos os dias muito duros com muitos metros de desnível, chegadas em alto, contrarrelógio. Esperamos manter a boa forma e que corra tudo bem, sem azares.”
Para Almeida, não há apenas montanhas no horizonte: os terrenos planos podem ser igualmente determinantes. “Temos uma etapa em que pode haver ventos laterais, vai ser tão ou mais dura que uma etapa de montanha. Vai ser uma questão de capacidade física e estarmos atentos a movimentações.”
Sobre a preparação mental para enfrentar esta semana decisiva, o português resumiu em poucas palavras a dureza da modalidade: “Sabemos que a terceira semana é sempre dura, tem de se ser mentalmente forte. Mas ‘bem-vindo ao ciclismo’. Não é um desporto para qualquer um.”

A muralha Jonas Vingegaard
Sobre a estratégia para destronar o camisola vermelha, João Almeida não esconde a dificuldade: “O adversário é bastante forte, por isso não vai ser uma tarefa fácil. Mas é tentar ir por todos os segundos que possamos alcançar. Para ganhar tempo, tem de se ser superior e estar mais forte que o adversário. É isso que temos de ser.”
Deixa claro que ainda não viu qualquer fraqueza em Vingegaard: “Tem-me parecido bastante forte todos os dias, bastante consistente. É a sua marca.” Ainda assim, não descarta o fator desgaste depois de o campeão dinamarquês ter feito todo o Tour de France: “É sempre uma incógnita. Normalmente sim, mas ele é um corredor excecional. Com o desgaste de todos, estamos em pé de igualdade.”
A vitória no Angliru e o impacto em Portugal
A conquista do mítico Angliru foi um momento que marcou a carreira do ciclista da UAE Team Emirates, além dos adeptos: “Foi definitivamente um dia muito especial. Tínhamos um plano e executámos como planeado. Felizmente tive excelentes pernas. Já conhecia a subida, sabia como é do início ao fim. Foi talvez uma das vitórias mais especiais da minha carreira.”
O feito não passou despercebido em Portugal: “Li que fui capa de vários jornais, o que é bastante positivo e um orgulho; ter o ciclismo como centro de atenção em Portugal é bastante bom. A mensagem que posso dar é que vou tentar dar o meu melhor e agradeço pelo apoio de todos.”
Com o 2.º lugar da geral, Almeida já igualaria o feito de Joaquim Agostinho na Vuelta. Mas prefere relativizar as comparações: “Há sempre as comparações entre mim e o Joaquim Agostinho, mas são tempos diferentes. O ciclismo era diferente. Igualar o melhor de sempre de Portugal é uma honra e dá-me mais motivação. Esperamos que depois venha outro [português] e faça ainda melhor!”

Companheirismo e união na UAE
Esta segunda-feira (8) de manhã, a Portuguese Cycling Magazine presenciou a regresso conjunto de João Almeida e Juan Ayuso ao hotel da UAE Team Emirates-XRG, cerca de meia-hora depois dos restantes colegas de equipa, após o treino. Partilharam um momento de boa disposição, que depois o português comentou: “Não temos qualquer problema um com o outro. Damo-nos todos bem. Tivemos o mesmo tempo de treino, foi por causa disso.”
Por fim, Almeida destacou o apoio do compatriota Ivo Oliveira: “É importante. O Ivo já mostrou o ciclista que é, tanto quando está por ele como pelos colegas de equipa. O facto de ser português ainda melhor. Passamos bons momentos, que vamos lembrar para o resto das nossas vidas.”