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Afonso Eulálio em EXCLUSIVO: “Espero estar em 2 ou 3 fugas do Giro d’Italia”

Afonso Eulálio, ciclista da Bahrain-Victorious, participa pela primeira vez numa prova de três semanas, o Giro d’Italia. O ciclista natural da Figueira da Foz falou em exclusivo com a Portuguese Cycling Magazine antes de começar a aventura em Itália e garante que “o objectivo principal é aprender e ajudar a equipa no que conseguir e lhe for pedido”.

O Salto para o World Tour

Eulálio trocou o cenário continental português, onde representava a ABTF Betão-Feirense, pelo escalão máximo do ciclismo e para representar a Bahrain-Victorious. Começou a competir no WorldTour logo em janeiro, com um 15º lugar no Tour Down Under, assumindo que “depois de ter começado [na Austrália] tenho feito sempre corridas WorldTour junto da equipa, para ajudar no meu crescimento e tentar estar dentro das expectativas e para o que a equipa precisar”. Sempre junto dos dois líderes incontestáveis da equipa, o francês Lenny Martinez e o italiano Antonio Tiberi, que esta temporada já alcançaram resultados importantes em corridas que contaram com o apoio do português – Martinez terminou a Volta a Catalunha no 5º posto e Tiberi fechou o pódio da edição deste ano do Tirreno-Adriatico.

Afonso Eulálio estreou-se no WorldTour no Tour Down Under (© Bahrain Victorious)

O que esperar em três semanas?

No entanto, estas provas são apenas de uma semana e segue-se um desafio ainda maior para Eulálio, uma corrida muito mais longa. Optimista, o ciclista português confessa que “normalmente vai sempre em crescendo nas provas por etapas”, por isso “correr uma prova de três semanas vai ser óptimo”, mas não deixa de “ser uma surpresa”. No entanto, considera que “a maior diferença serão mesmo as longas e inúmeras ascensões, que na minha experiência só se podem comparar, em Portugal, com a subida à Torre”, local onde Eulálio quase venceu na Volta a Portugal do ano passado e onde começou a sua jornada de seis dias de amarelo – liderança que viria a perder nos últimos dias de prova, mas não sem proporcionar muitos dias de espectáculo aos aficionados do ciclismo.

Muitas dessas subidas longas e duras estão concentradas na última semana de Giro d’Italia, mas Eulálio acredita que “a classificação geral acaba sempre por ser decidida nos 21 dias, mas claro que a última semana vai ser muito dura”. Em relação à sua preparação, revela que “não foi perfeita, porque o plano inicial era descansar em março e ir para altitude com a equipa, mas acabei por ter de fazer mais corridas do que o esperado”; mesmo assim pensa que vai “estar a um bom nível” e reforça que estará no Giro “mesmo para aprender, estar junto da equipa e ver como corre”. Acabou por não fazer o reconhecimento de subidas importantes, como o Passo del Mortirolo ou o Colle delle Finistre, mas garante que “os líderes o fizeram e estão confiantes”. Questionado sobre o dia que pode fazer mais diferenças, Eulálio atira que “todos os dias podem fazer diferenças, até os mais planos e simples na teoria, mas o dia do ‘sterrato’ [na etapa 9, onde o pelotão percorre parte do percurso da Strade Bianche] promete ser muito importante para as contas da geral”.

As fugas e o trabalho para Tiberi

O objectivo da Bahrain-Victorious é claro e Afonso Eulálio sabe-o bem: “o plano A é o Antonio Tiberi e vamos estar a 100% comprometidos com esse objectivo”. O ciclista italiano foi 5º em 2024 e prepara agora o ataque ao pódio e, quem sabe, à camisola rosa. Ainda assim, Eulálio reitera que a equipa “não vai descartar a oportunidade de jogar também etapas em fugas” e o próprio pode até vir a ser uma carta a jogar na tentativa de alcançar um bom resultado numa escapada vencedora – “a equipa vai dar-me essa liberdade e espero estar [em fuga] em duas, no máximo três etapas, tentar a minha oportunidade”.

O ciclista português sabe qual é o objectivo: levar Tiberi à melhor classificação possível no Giro d’Italia 2025
(© Bahrain Victorious)

Ao longo dos anos foram vários os dias de frio, chuva e até neve no Giro d’Italia, que apesar de proporcionarem imagens verdadeiramente épicas são também um pesadelo para os ciclistas em prova, resultando por vezes em etapas encurtadas ou até canceladas. Sobre como se sente a pedalar nessas condições, Eulálio conta que “gosto de correr com chuva, mas claro que quando chega a um nível extremo não é bom para ninguém”. A temperatura também influencia bastante o conforto do ciclista português: “quando baixa dos 10ºC começa a ser difícil para mim, embora também seja uma questão de hábito pois essas temperaturas não são frequentes em Portugal e é mais uma diferença que tenho de ultrapassar”.

O Giro d’Italia promete sempre etapas com muito frio e chuva, mas Afonso Eulálio sente-se confortável nesse ambiente
(© Bahrain Victorious)

Podemos concluir que o Giro d’Italia de 2025 será uma experiência de muita aprendizagem para o benjamim português do WorldTour, com desafios constantes e 21 dias de competição intensa em território italiano, em terra batida, subidas que demoram horas a terminar e, quem sabe, chuva e dias de temperaturas baixas.

O pós-Giro

Seguem-se dias duros no Giro d’Italia para Afonso Eulálio e para a Team Bahrain-Victorious. Depois disso, o plano é descansar e preparar a segunda metade da temporada, cujo calendário ainda não está definido. “Depois do Giro vou principalmente descansar, retomar aos poucos e voltar à competição nos campeonatos nacionais”, conta-nos o figueirense, rematando que “o calendário do que falta da temporada só será definido depois” da Volta à Itália.

Acompanha Afonso Eulálio e a Team Bahrain-Victorious no “Giro d’Eulálio”, a mais recente série de Pro Cycling Manager desenvolvida pela Portuguese Cycling Magazine