As outras consequências do sistema
É mais do que sabido da relação simbiótica e volátil existente entre patrocinadores e equipas de ciclismo. Os patrocinadores são a principal fonte de receita destas equipas, no entanto, e como qualquer modelo de negócio, requerem que esse investimento seja retribuído. E como acontece esse retorno? Com a exposição das equipas nas principais provas mundiais. Ora, com o sistema que a UCI implementou, é possível que a incerteza sobre quem obterá uma licença WorldTeam para 2023-2025 se mantenha até às últimas semanas da temporada. Mesmo a limitada margem de manobra que as organizações têm na atribuição de wildcards pode ser prejudicial para algumas equipas importantes. Exemplo disso é o caso da TotalEnergies, que aumentou o orçamento para este ano contratando o tri-campeão do mundo Peter Sagan, e não irá marcar presença na Volta a Itália (devido à legítima, e em parte legal, opção da organização em convidar três -uma vez que a Arkéa-Samsic declinou o wilcard que tinha garantido- ProTeams italianas). Esta incerteza não é saudável nem para equipas nem, e particularmente, para patrocinadores, que, numa situação de risco, e de forma a tentar minimizá-lo, podem ver-se forçados a terminar as ligações que mantêm a equipas que estejam perto da linha de água. Situações essas que podem até estar previstas nos contratos que são estabelecidos com as estruturas. Por exemplo, 2022 será o último ano da Soudal como patrocinadora da equipa à qual dá o nome, passando a investir na estrutura da atual Quick-Step Alpha Vinyl a partir de 2023. Felizmente, a Dstny, uma empresa belga do ramo das telecomunicações assumirá o lugar deixado vago pela Soudal, passando a equipa a denominar-se Lotto-Dstny. E não está excluída a estreia do nome da empresa nas camisolas da equipa como terceiro sponsor durante a… Volta a França, pois claro. Por outro lado, mais casos como o da Team Qhubeka podem vir a acontecer, e isto significa incerteza e, em última instância, desemprego para muitos ciclistas.
Ainda muito falta correr da temporada de 2022, mas perspetiva-se desde já um ano cheio de emoção no que diz respeito à “promoção/despromoção” das WorldTeams. É certo que este é um modelo controverso, que suscita as mais variadas opiniões e que pode até ser melhorado em alguns aspetos, mas é o modelo que temos, para já. Veremos o rumo que esta luta irá ter com a chegada das grandes voltas, e na relação das equipas com os patrocinadores. Aguardemos o desenrolar das próximas batalhas e que no fim seja o ciclismo a ser “promovido”.
Este será um tópico a ser acompanhado na Portuguese Cycling Magazine ao longo do ano, com atualizações periódicas nos momentos relevantes da temporada.