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Rui Oliveira procura dupla estreia a vencer nos Campeonatos Nacionais: “Têm um significado especial”

Os Campeonatos Nacionais estão em marcha! Esta sexta-feira (27), António Morgado, Ana Caramelo e Lucas Lopes sagram-se campeões portugueses de contrarrelógio nas categorias de elites masculinos, elites femininas e sub-23 masculinos, respetivamente. Muitos outros ciclistas participaram neste primeiro dia e serão ainda mais no sábado e no domingo.

ANTEVISÃO PCM: CAMPEONATOS NACIONAIS

Neste fim de semana, Rui Oliveira é um homem numa missão. Depois de três 2.º lugares nos últimos quatro anos, o ciclista da UAE Team Emirates-XRG almeja conquistar o tão desejado título nacional de elites masculinos. Além desse galardão, ele procura também a sua primeira vitória na estrada como profissional, da qual foi privado na Volta à Eslovénia, face a uma desqualificação polémica.

Assim, Rui Oliveira conversou com a Portuguese Cycling Magazine sobre este grande objetivo da temporada e da carreira, realizando a antevisão da prova de fundo de elites masculinos, que terá transmissão em direto na RTP.

Portuguese Cycling Magazine (PCM): Olá, Rui. Em primeiro lugar, qual é o significado dos campeonatos nacionais para ti?

Rui Oliveira (RO): Têm um significado especial. Ganhando, tens a possibilidade de representar o teu país lá fora, com a bandeira de Portugal. Acho que esse é o principal significado. Claro, tenho estado a lutar há muitos anos por isso, tenho sempre estado perto, mas nunca o consegui. Vamos a mais uma tentativa!

PCM: Como se preparam os campeonatos nacionais? Há alguma diferença para outras corridas?

RO: A corrida em si é muito mais caótica, mas a preparação é praticamente igual. Tenho vindo a preparar [os campeonatos nacionais] nas corridas que já tive neste mês de junho. Por isso é só fazer um seguimento do que é a preparação e abranger mais uma semana de treinos para poder estar aqui ao mais alto nível e, após o nacional, aí sim ter um pouco de repouso.

PCM: Como olhas para o percurso da prova de estrada?

RO: É um percurso que está mais ao menos ao nível dos anteriores, tanto em Santa Maria da Feira como em Mogadouro. Mas acho que o calor vai afetar a corrida, porque vamos estar em muitas zonas expostas. É também um circuito muito rompe-pernas, com poucas zonas planas. Mesmo aquele sobe e desce antes de entrar no circuito vai ser determinante para fugas, ou quem estiver bem se adiantar e quem estiver mal ficar para trás. A corrida vai chegar muito fracionada. É isso que eu penso que vai acontecer, mas nos nacionais podemos fazer todas as previsões e sair tudo ao lado.

PCM: Tens algum plano especial para lidar com o calor?

RO: Não vou dizer, porque assim estaria a dar as minhas táticas (risos). Há técnicas que se pode usar durante a corrida e acho que a hidratação será o fundamental.

Rui Oliveira no pódio dos Campeonatos Nacionais 2023. Foto: UVP-FPC

PCM: Quando a UAE Team Emirates corre, as outras equipas olham para a vossa. Mas, nos campeonatos nacionais, estão em inferioridade numérica perante as equipas portuguesas. Como é que lidam com essa situação de corrida?

RO: Todos os anos são uma incógnita. Tendo bastantes ciclistas a correr aqui em Portugal, [as equipas] vão tentar jogar as suas cartadas… se calhar muito desde início, pondo ciclistas em fuga. Somos três, penso que somos fortes e estamos ao nível, mas é sempre muito difícil prever o que vai acontecer. Felizmente, nos outros anos, estive na discussão da corrida. Não a venci, mas estive na frente. Isso é o mais importante, tentar não perder a corrida logo de início, porque depois pode ser difícil recuperá-la. Porque, como disseste, há muita gente a olhar para a nossa equipa. Mas obviamente dá-me sempre muita confiança correr aqui em Portugal. Por isso, tenho sempre uma motivação extra para conseguir a camisola.

PCM: Como é, para ti, correr sem a estrutura normal da equipa?

RO: Felizmente temos a sorte de trazer uma estrutura. Nestes últimos anos, temos vindo com um diretor desportivo, um mecânico e massagistas. Então temos uma estrutura mais pequena, mas também sendo menos ciclistas dá para gerir a situação. Mas não temos rádios. Isso limita um bocado a corrida, porque em todo o ano estamos habituados a correr com rádios. Claro, o fator de haver poucos ciclistas torna a corrida muito mais difícil. Mas é igual para todos e temos de lidar com isso.

PCM: Com 18 nacionalidades dentro da equipa, apoiar os vários ciclistas em campeonatos nacionais requer uma grande estrutura…

RO: Sim, estamos neste momento a disputar vários campeonatos nacionais. Mas temos pequenas estruturas em cada campeonato nacional. É assim que nos vamos organizando para que nada falte. Nesse aspeto a equipa é fantástica, porque consegue dar suporte a todos os ciclistas de todas as ações, seja com diretor, seja com algum apoio técnico. Isso faz toda a diferença.

PCM: Devido à proximidade do Tour de France, é difícil para um ciclista como João Almeida disputar os campeonatos nacionais. Como olhas para essa situação?

RO: Depende de atleta para atleta. Os campeonatos nacionais sempre foram, mais ou menos, a uma semana da Volta à França. Obviamente que isso é uma limitação grande para quem faz a Volta à França, porque talvez o campeonato nacional seja bastante longe das suas casas e é difícil ir estando com o foco no Tour. Claro, não fazendo o Tour, estando mais perto e tendo essa vontade, alguns conseguem fazer. Mas compreendo totalmente que quem faz o Tour queira fazer a preparação toda correta. Acho que é a data mais eficaz, porque não há nenhuma corrida neste momento. Toda a gente pode, se quiser, disputar o título. É uma questão de tempo e prioridades.

PCM: Além das equipas portuguesas, há ciclistas como Iúri Leitão ou Rui Costa. Prestam uma atenção especial a estes ciclistas?

RO: Claro, o Rui ganhou o campeonato nacional no ano passado. Fui para a linha de meta com ele. Portanto, é um ciclista com quem temos de ter atenção redobrada. Tem muita experiência. Ainda é um dos melhores ciclistas do mundo. E claro que o Iúri é um companheiro que conheço bastante bem da pista e, estando num dia bom, também pode surpreender na estrada. Mas não nos podemos guiar apenas por quem está a correr lá fora. Aqui em Portugal, o nível é bastante alto e temos de ter atenção com praticamente todos os atletas.

PCM: Tu e o Iúri Leitão formam uma dupla temível na pista, que trouxe o ouro para Portugal nos Jogos Olímpicos. Mas, se tivessem de se enfrentar num sprint na estrada, quem ganharia?

RO: Depende (risos). Depende da corrida, das condições, de muita coisa. Mas normalmente ganhar-me-ia o Iúri.

PCM: Desde a tua última conversa com a Portuguese Cycling Magazine, em março, qual é o balanço da primeira metade da temporada?

RO: Tive bastantes azares desde essa altura, com a fratura nas costelas e depois a queda feia na Hungria, que me limitou também o braço. Tenho vindo a melhorar desde aí e, obviamente, já consegui fazer o meu leadout na Volta a Eslovénia e na Volta à Bélgica. Estou satisfeito com isso. Agora é tentar colmatar com os nacionais e aí sim penso que a primeira parte ficará bem feita.

PCM: Na Volta à Eslovénia, foste do céu ao inferno na etapa 2. Passado algum tempo, como olhas para essa situação?

RO: Foi uma situação complicada, porque já estava a procurar há bastante tempo esta vitória. Iria ser a minha primeira [oficial]. Vivi tudo aquilo que foi a vitória em si, até ao momento em que recebi a notícia de que o sprint que fiz estaria a ser analisado. Obviamente, não concordo. Penso que foi um sprint justo e limpo, mas coube aos comissários retirar a minha vitória. Aquelas primeiras horas custaram um bocadinho. Mas o ciclismo é assim e há coisas piores na vida. Tenho de seguir em frente e lutar por essa primeira vitória.

PCM: Por último, quais são os teus objetivos para a segunda metade da temporada?

RO: É uma incógnita. Não sei bem o meu calendário. Até ao final do ano, devo fazer algumas corridas de cinco dias ou uma semana, as que houver ainda, e também algumas clássicas. […] Não é um plano fazer a Vuelta.

Agradecemos a Rui Oliveira por nos ter concedido esta entrevista e desejamos-lhe sorte nos Campeonatos Nacionais e nos próximos objetivos.