Gino Mäder nasceu em Flawil, na Suíça, a 4 de janeiro de 1997. A sua experiência no ciclismo começou na pista, onde participou em campeonatos europeus, e só depois fez a transição para a estrada, com o grande apoio da Federação Suíça de Ciclismo.
Na estrada, o ano de reconhecimento de Mäder veio em 2018, quando conquistou etapas na Ronde de l’Isard, no Tour Alsace e no Tour of Hainan. Mais notoriamente, venceu duas etapas de montanha na Volta à França do Futuro e aí fechou no pódio final, atrás de Thymen Arensman e Tadej Pogačar. Foi na mesma edição em que João Almeida acabou no 7º lugar.
Hoje, para homenagear o seu colega de profissão, Arensman relembrou esse pódio. “Esperava por mais batalhas como essa no Avenir 2018”, confessou o ciclista neerlandês na story do Instagram, apresentando as suas condolências.
Seguiram-se os Mundiais de sub-23, onde uma estratégia de ataques mútuos com o seu companheiro de seleção Marc Hirschi conseguiu levá-lo à vitória, terminando ele próprio no 4º lugar. No país-vizinho, a Áustria, o futuro do ciclismo da Suíça mostrava-se risonho.
A boa época valeu a Mäder um bilhete para o World Tour, pela mão da Team Dimension Data, que depois virou NTT Pro Cycling. A adaptação não foi fácil para o ciclista suíço, mas ele nunca desistiu e conseguiu o 2º lugar numa etapa da Vuelta a España 2020, a última prova que fez pela equipa.
Quando a NTT Pro Cycling cessou atividade, a Bahrain – Victorious ofereceu-lhe a oportunidade de continuar a competir ao mais alto nível. E essa oportunidade quase deu frutos logo na 7ª etapa do Paris-Nice, quando após 107 quilómetros em fuga, Mäder seguia isolado em La Colmiane. Contudo, o arranque final de Primož Roglič acabaria por tirar-lhe a vitória a meros 100 metros da meta.
A decisão de Roglič de passar Mäder mereceu críticas por alguns adeptos, mas Mäder foi o primeiro a congratular o seu adversário: “Obviamente eu preferiria que ele me deixasse [vencer], mas é uma das suas qualidades. Eu aspiro à mesma energia para procurar a vitória todas as vezes. Tiro-lhe o meu chapéu!”
Foi isso que Gino Mäder fez e apenas dois meses depois, conseguiu finalmente a sua primeira vitória como profissional e logo no Giro d’Italia! Na subida de San Giacomo, deixou os seus companheiros de fuga para trás e resistiu aos ataques de Egan Bernal e Remco Evenepoel, vencendo com uma vantagem de 12 segundos.
“Assim que fiquei sozinho, só pensava no Paris-Nice. Fiquei com a dúvida até os últimos 100 metros e depois foi um sentimento muito bom”, disse Mäder após a vitória, que na altura dedicou a Mikel Landa, líder da Bahrain – Victorious para aquele Giro, que tinha abandonado por queda na etapa anterior.
No próximo Tour de France, o ciclista basco e toda a equipa Bahrain – Victorious certamente procurarão retribuir-lhe o favor.
Seguiu-se a Volta à Suíça, corrida da ‘casa’, onde conseguiu mais uma vitória em etapa. Mas foi na Vuelta a España que a versão mais regular de Gino Mäder emergiu. Como principal homem de apoio a Jack Haig na luta pelo pódio, Mäder foi subindo de forma ao longo das semanas e terminou a prova espanhola na 5ª posição da classificação geral, levando também a camisola branca do melhor jovem.
Mas a nobreza dos feitos de Mäder ultrapassava as estradas por onde corria. No início da mesma Vuelta, prometeu doar um franco suíço por cada ciclista que terminasse atrás de si nas etapas, a uma instituição de caridade. No final, conseguiu reunir mais de 9000 francos suíços.
Em memória de Gino Mäder, algumas figuras do ciclismo estão a incentivar os fãs a doarem para a organização Justdiggit, de preocupações ambientais, à qual Mäder decidiu doar o montante referido. As doações podem efetuar-se aqui: https://justdiggit.org/donate/
O ano de 2022 foi discreto em termos de resultados, mas ainda assim muito combativo. Talvez este seja o melhor adjetivo para caracterizar Gino Mäder, enquanto ciclista: um jovem que nunca desistiu e procurou sempre “estar limpo consigo mesmo”.
Em 2023, depois de um top-5 na classificação geral do Paris-Nice, Mäder tinha esta Volta à Suíça como último desafio na preparação para o Tour de France, onde seria esperada a sua presença.
Na 5ª etapa, com chegada a La Punt, estava a ter o seu melhor na prova, não andando muito longe dos favoritos. Quis o destino que a sua vida terminasse na descida do Albulapass, numa velocidade próxima dos 100 km/h, depois de ter sido reanimado por uma equipa médica e transportado de helicópetro para o Hospital de Chur. Por fim, não resistiu aos ferimentos e faleceu na madrugada de 16 de junho de 2023.
O mesmo acidente vitimou também Magnus Sheffield, ciclista da INEOS Grenadiers, com quem também estão os nossos pensamentos nesta altura difícil.
Na etapa inicial da Volta à Suíça, dia de contrarrelógio, Gino Mäder, em entrevista, partilhou o seu maior desejo para aquela semana: “[Estarei feliz no final] se estiver saudável e a aproveitar a corrida do meu país”. Infelizmente, não foi assim que as coisas aconteceram…
Ontem, a 6ª etapa da Volta à Suíça foi neutralizada e encurtada para os derradeiros 20 quilómetros, tendo prosseguido como uma homenagem a Gino Mäder. Centenas de pessoas saíram às ruas para prestar um último adeus ao filho daquele país, na companhia de todo o pelotão e os restantes elementos da equipa Bahrain – Victorious na frente.
A Bahrain – Victorious retira-se hoje da Volta à Suíça, que, com o consentimento da família de Gino Mäder, vai prosseguir até ao seu final, amanhã.
Falamos de Gino Mäder enquanto ciclista. Mas quem era ele enquanto pessoa? Deixamos as respostas para os seus amigos e conhecidos:
Milan Erzen, diretor executivo da Bahrain – Victorious: “Estamos devastados pela perda do nosso excecional ciclista, Gino Mäder. O seu talento, dedicação e entusiasmo foram uma inspiração para todos nós. Ele não era apenas um ciclista extremamente talentoso, mas um grande pessoa fora da bicicleta. Estendemos as mais profundas condolências à sua família e entes queridos, e os nossos pensamentos estão com eles durante este momento difícil.”
Ashley House, diretor de comunicação da Bahrain – Victorious: “Hoje perdemos um colega, um homem, um corredor e, acima de tudo, um amigo. O meu coração está quebrado, assim como o de todos na Bahrain – Victorious. Amo-te. Descansa bem. Eras um dos bons. Hoje e todos os dias, corremos por ti, Gino.”
Nikias Arndt, ciclista da Bahrain – Victorious: “Ainda sem palavras pela perda do meu amigo e companheiro de equipa, Gino Mäder. Vou-me sempre lembrar do teu otimismo e energia, Sentiremos a tua falta. Os meus pensamentos e orações estão com a tua família e entes queridos.”
Jan Tratnik, ciclista da Jumbo – Visma e ex-companheiro da Bahrain – Victorious: “Corríamos muito juntos e muitas vezes éramos colegas de quarto. Nunca vou esquecer a Vuelta em 2021, quando ele levou a camisola branca. O Gino era prestativo e trabalhador, cordial e calmo, um verdadeiro profissional. Ele era um pouco tímido quando nos conhecemos. Mais tarde, aproximamo-nos. O Gino defendeu os seus princípios e, com isso, inspirou-me. É inacreditável que ele não esteja cá mais. Vou sentir a falta dele, e vou-me lembrar dele para sempre.”
Com o tributo prestado a Gino Mäder, os membros da Portuguese Cycling Magazine endereçam as mais sinceras condolências à sua família e ente queridos, com quem os nossos pensamentos estão neste momento. Descansa em Paz, Gino Mäder!