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Tour de France: O Legado

Julho está a chegar, o mês pelo qual todos os fãs de ciclismo asseiam, o mês da emblemática Volta a França. Sábado, dia 1 de Julho arranca a 110ª edição da Volta a França (Tour de France).

Vão ser 21 dias de espetáculo de ciclismo, 21 etapas desde Bilbau, Espanha, até ao mítico final em Paris, França. 3404 quilómetros, 22 equipas, 18 equipas World Tour e 4 UCI ProTeams, com os melhores atletas da modalidade.

Teaser Tour de France 2023.

Este ano os olhos estão postos no duelo entre o mais recente detentor da camisola amarela, Jonas Vingegaard (Team Jumbo-Visma), e o bicampeão, Tadej Pogačar (UAE Team Emirates). E por cá os portugueses terão uma razão extra para viver o ciclismo, em prova estarão 3 atletas portugueses: Rui Costa (Intermarché – Circus – Wanty); Rubén Guerreiro e Nelson Oliveira (Movistar Team).

Portugueses no Tour

A primeira participação portuguesa no Tour foi em 1956 através de Alves Barbosa, um marco histórico para Portugal, mas o nome que mais se destaca quando se fala de presenças portuguesas é o de Joaquim Agostinho. Agostinho detém o recorde de presenças nesta grande prova, com 13 participações, e 5 vitórias em etapas. Não obstante, arrecadou ainda dois 3º lugares na classificação geral (luta pela camisola amarela) em 1978 e 1979.

A primeira vez que um português subiu ao lugar mais alto do pódio no Tour foi em 1969 e nesse ano, logo por duas vezes. A 3 de Julho de 1969, Joaquim Agostinho ganhou isolado a 5.ª etapa e dez dias mais tarde, o ciclista luso voltava a vencer uma etapa em Revel ao fim de 234 quilómetros.

Em 1973, Joaquim Agostinho, venceu mais uma etapa no Tour, desta vez num contrarrelógio que decorreu em Bordéus. Segundo os meios de comunicação da altura, a vitória da 18.ª etapa da Volta à França em 1977 foi-lhe retirada devido a um controlo positivo de doping. No ano seguinte, Joaquim Agostinho voltou ao Tour, onde arrecadou o 3.º lugar na classificação geral.

Entre as vitórias de Joaquim Agostinho, destaca-se a mítica vitória na chegada ao Alpe d’Huez, que foi imortalizada com uma estátua na 14.ª curva dessa subida, subida onde se distanciou do pelotão e iniciou a tirada que o levaria à vitoria nessa etapa.

Joaquim Agostinho na tirada que lhe deu a vitoria no Alpe d’Huez. Fonte: Desconhecida

A história de Portugal não foi só marcada por atletas portugueses, mas também por equipas portuguesas: em 1975 a equipa Sporting/Sotto Mayor/Lejeune constituída por 6 atletas portugueses e 4 franceses, incluído Joaquim Agostinho, alinhou para a edição daquele ano terminando em 9º lugar entre 13 equipas; em 1984 a equipa Sporting/Raposeira, participou no Tour tendo obtido uma vitória individual na 5ª etapa por intermédio de Paulo Ferreira. 

Acácio da Silva tem no seu palmarés um dos maiores feitos portugueses nesta corrida. O atleta foi o único português que conseguiu envergar a camisola amarela, em 1989, onde foi líder durante 4 dias. Em sete presenças no Tour, Acácio da Silva ainda venceu três etapas.

Acácio da Silva a envergar a camisola amarela no Tour de 1898. Fonte: Diário de Notícias.

Em 2002, José Azevedo, atual diretor desportivo da Efapel Cycling, iniciava a sua participação no Tour, conseguindo arrecadar o 6º lugar na classificação geral. Em 2006, José Azevedo envergou o prestigioso dorsal número 1 pela equipa Discovery Channel. O número 1 é normalmente reservado ao vencedor do Tour no ano precedente, Lance Armstrong, vencedor da edição de 2005 e antigo colega de equipa de José Azevedo. Uma vez que ele não participou no Tour de 2006, o número passou para José Azevedo, que terminou nesse ano no 5º lugar na classificação geral.

Só em 2010, após 21 anos sem um português sair vitorioso numa etapa em linha no Tour, Sérgio Paulinho, na altura corredor da equipa Radio Shack, venceu na 10.ª etapa entre Chámbery e Gap. Sérgio Paulinho esteve à conversa com a Portuguese Cycling Magazine onde nos contou um pouco sobre este palmarés na sua carreira.

Como é ganhar uma etapa no Tour de France?

Sérgio Paulinho: “A sensação é sempre ótima, para mais numa Volta à França, aquela que é a melhor corrida a nível do mundo que se disputa ao longo de três semanas. Todos os 180 corredores à partida, têm como objetivo ganhar uma etapa. E quando o consegue, a satisfação é sempre enorme, por conseguirmos ganhar uma etapa naquela que é, para nós, considerada a melhor corrida do mundo.”


No dia da vitória como decorreu a etapa?

Sérgio Paulinho: “Neste dia, lembro-me praticamente de como começou a etapa: começou bastante louca, os primeiros 50 quilómetros foram bastantes atacados na tentativa de formar uma fuga, porque toda a gente sabia que era uma etapa que ia chegar a fuga. O nosso objetivo era tentar ganhar etapas, após o Lance Armstrong ser afastado da geral. Depois de entrar na fuga, foi tentar gerir as forças o máximo possível para a parte final.”

O que é que mudou na sua vida depois desta vitória?

Sérgio Paulinho: “No geral não mudou muita coisa, foi saber que tinha ganho uma etapa na melhor corrida
do mundo. A nível desportivo, é sempre bom ter uma vitória destas no nosso palmarés, mas não mudou assim muita
coisa. O nosso contrato pode ou não ser um pouco melhorado, não foi o meu caso, já tinha um contrato para mais um ano.

Quais as expectativas para a edição de 2023 do Tour de France relativamente à participação portuguesa?
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Sérgio Paulinho: “O Rui Costa, por exemplo, já deu mostras de que é sempre um candidato a uma vitória numa etapa.
O Nélson Oliveira vai ter o Enric Mas e muito possivelmente o Rúben Guerreiro a apontarem os dois ao top-10. Talvez o Nélson vá ter mais entraves a puder integrar fugas, mas a partir do momento que tem essa ordem, também é um ciclista que já demonstrou que pode ganhar etapas. No caso do Rúben depende daquilo que a equipa pretender fazer com ele. Se a equipa pretender que o Rúben esteja sempre ao lado do Enric Mas, aí ele vai ter mais dificuldades em lutar por uma etapa. Mas se o Rúben tiver a liberdade, é um ciclista que sobe muito bem, é muito inteligente e penso que poderá estar na disputa de algumas etapas também.”

Sérgio Paulinho na vitória da etapa 10 na edição de 2010. Fonte: The Guardian

A última vitória de um português no Tour foi obtida por Rui Costa. O Atleta da Póvoa do Varzim já conta com 9 participações no Tour e 3 vitórias em etapas: em 2011 na sua terceira participação, pela Movistar Team, foi vitorioso na etapa 8, nesta etapa integrou a fuga bem sucedida e a 5km para o fim realizou um ataque, vencendo na chegada a Super-Besse; Em 2013 venceu duas etapas, a etapa 16 em Gap depois de 19 quilómetros a solo, e logo depois na etapa 19 festejou vitória em Le Grand Bornand. Em 2016, ganhou o prémio de combatividade na etapa 19. O ciclista atualmente da equipa Intermarché – Circus – Wanty irá alinhar na partida da 110ª edição do Tour de France.

Vitória de Rui Costa em 2013 na etapa 19 do Tour de France. Fonte: The Guardian

Outros portugueses como Marco Chagas, Fernando Mendes, José Martins, Tiago Machado, José Mendes e Nélson Oliveira também participaram e concluíram o Tour de France em diversas edições.

Na classificação geral, Joaquim Agostinho é, até ao momento, o português melhor classificado, com o 3º lugar em 1978 e 1979. Seguem-se José Azevedo com um 5º lugar em 2004 e Alves Barbosa que fechou o Top-10 em 1956.

A 2 dias do início do Tour, com todo este Legado de Portugal em mente, desejamos boa sorte aos três ciclistas portugueses em prova para aumentá-lo ainda mais!

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