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A Magia do Ciclismo: Como eu e um ciclista americano nos tornámos amigos

O primeiro contacto que tive com o Keegan Swirbul, ciclista de 26 anos da Human Powered Health, foi através de um trabalho da Portuguese Cycling Magazine, de antevisão à 82ª Volta a Portugal, que pretendia recolher testemunhos de ciclistas estrangeiros sobre a singularidade da prova. A disponibilidade e simpatia mostradas por ele desde o início permitiram-nos trocar inúmeras mensagens ao longo do ano e ultimamente, conhecermo-nos pessoalmente durante a presente edição da ‘Grandíssima’.

A entrevista ao Keegan começou pela ligação que ele já tem com Portugal e com a Volta, desde a sua primeira participação em 2020, quando ainda era estagiário da Rally Cycling (atual Human Powered Health): “Esta foi a corrida que assegurou o meu lugar na equipa. É uma corrida louca, muito difícil e que significa muito para todos os corredores, especialmente os portugueses”. Além da projeção que ganhou, a ‘Grandíssima’ também contribuiu para o seu desenvolvimento como ciclista: “Sou um corredor de etapas, o que significa que melhoro com os dias e para além da Volta, não existem muitas corridas tão longas, pelo que é um teste único”.

Keegan Swirbul em 2020, captado pelas câmaras da RTP no Alto da Torre

Depois de se apresentar em boa forma nas montanhas da Volta à Suíça (25ª e 26ª lugares), o objetivo de Swirbul para esta Volta é o top 10 na classificação geral, estando porém consciente da dificuldade do feito. O calor não o incomoda, muito menos as alturas, visto que praticou tanto esqui como parkour profissional antes de se dedicar por inteiro ao ciclismo. O principal obstáculo que continua por ultrapassar é… andar em pelotão: “Absolutamente não estou melhor nisso (risos). O problema de andar em pelotão é confiar em pessoas que não conheço, enquanto nos outros desportos era só eu – se eu caísse, tudo dependia só de mim”. Fiquei surpreendido com esta explicação, porque nunca tinha pensado na questão desta forma.

O resultado que projetou Keegan Swirbul para a ribalta foi um 12º lugar no Alto da Torre, a quase 3 minutos do vencedor, Jóni Brandão, daí que a conversa cedo tenha fugido para a mítica subida e para essa experiência em particular: “Eles (a Efapel) puxaram com tanta força no início e na altura, não tinha a confiança para seguir esse ritmo. Então encontrei o meu próprio ritmo e quando a subida tornou-se mais plana, alcancei um pequeno grupo. Quando chegámos à maior altitude, senti-me muito bem e andei bem até ao final”.

Expliquei-lhe que um ciclista que sobreviva ao ritmo elevado à saída da Covilhã, bem como aos ataques iniciais dos favoritos, consegue recuperar forças quando as pendentes aligeiram e até aproveitar uma certa indecisão para atacar, como fez Alejandro Marque de forma brilhante no ano passado. Assim, a estratégia para a etapa de hoje está delineada: “Se tiver boas pernas, vou tentar estar nesse grupo de líderes, para depois dar tudo em altitude”.

A conquista da camisola amarela por Rui Sousa, em 2013, mostrou-me a ‘magia do ciclismo’ em primeira pessoa

Contei-lhe então sobre a subida por Seia, que ele não conhecia e tão pouco desconfiava que tinha decidido muitas Voltas no passado, e partilhei com ele uma memória do distante ano de 2013, uma das primeiras como espetador de ciclismo: o entusiamo matinal de um jovem de 11 anos, a paragem no Sabugueiro para comprar o almoço, a Lagoa Comprida vista do carro dos meus pais, o contrarrelógio para chegar lá acima antes do fecho da estrada, 5 horas à espera dos corredores e no final, a festa que o povo fez quando o Rui Sousa conquistou a camisola amarela, que viria a perder no contrarrelógio para o Alejandro Marque.

Após lançarmos as nossas previsões para a etapa, a conversa continuou para além do ciclismo, mas não posso deixar de referir que esse foi o ponto de partida. Porque é a magia do ciclismo que permite a um ciclista nascido em Basalt, Colorado, EUA (2015 metros do nível do mar) e um jovem nascido em Setúbal, Portugal (0 metros do nível do mar), conhecerem-se, partilharem as suas histórias e ultimamente, tornarem-se amigos.

Pela oportunidade de viver esta magia na primeira pessoa, deixo um agradecimento especial aos meus pais, à Volta a Portugal e claro, à Portuguese Cycling Magazine. Obrigado a todos!

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