E para acabar da melhor maneira o Kerstperiode (o período do Natal e Ano Novo onde se concentram várias corridas de ciclocrosse), realizou-se hoje a jornada da Taça do Mundo de Zonhoven, a última prova desta competição em território belga, e a última prova daquelas que foram semanas eletrizantes e recheadas de corridas que irão ficar para a história desta modalidade. A Portuguese Cycling Magazine foi o único meio nacional a marcar presença, e conseguiu chegar à fala com os “monstros” Mathieu Van der Poel e Wout Van Aert.
No seguimento da tempestade de areia que se abateu esta semana no calendário de ciclocrosse internacional (principalmente em Koksijde), os ciclistas enfrentaram hoje mais um circuito onde a areia era uma constante. O prato forte em Zonhoven, e um dos marcos mais bonitos e espetaculares da temporada, é o De Kuil, um “poço” de areia para onde os crossers mergulham três vezes durante a corrida.
Assim sendo, o circuito baseia-se em redor deste anfiteatro natural, com a aproximação aos dois primeiros mergulhos a ser feita por longas retas com ligeira inclinação e em terreno relativamente fácil, duro e coberto, em algumas zonas, por relva. Mas tudo o que sobe, desce, e algumas secções do percurso, nomeadamente aquelas contíguas às saídas do De Kuil são também bastante rápidas, em ligeira descida. Para dificultar ainda mais a tarefa dos ciclistas, a saída do segundo mergulho é feita por uma secção off camber. Após as passagens pelo De Kuil, o circuito segue por um trajeto com ligeiras subidas e descidas misturadas com areia, até à reta da meta. Um percurso duro, bastante técnico, mas muito bonito e ideal para uma corrida fantástica.
Tendo em conta as características de circuito, era quase garantida mais uma batalha entre os eternos rivais Van Aert (Jumbo-Visma) e Van der Poel (Alpecin-Deceuninck). O belga tem estado soberbo e é já o crosser com mais vitórias na temporada, enquanto Van der Poel chega a Zonhoven depois de alguns problemas nas costas sentidos na corrida de Koksijde. Teve luz verde para participar hoje por parte da sua equipa médica, o que parece afastar o pior cenário da lesão que o afastou do ciclocrosse no ano transato. Num percurso com areia podemos sempre contar com Laurens Sweeck (Crelan-Fristads) também, o líder da geral da Taça do Mundo e um dos especialistas do pelotão internacional nesta superfície. Ainda, Michael Vanthourenhout (Pauwels Sauzen-Bingoal) poderia estar na luta pelo pódio, ele que tem sido dos poucos a imiscuir-se nas lutas dos Big 3.
Demorou cerca de dois minutos até os principais favoritos assumirem a cabeceira do pelotão, ainda antes da primeira passagem pelo De Kuil. Foi Van der Poel o primeiro a mergulhar para a areia, mas teve aí o primeiro de alguns erros que marcaram a corrida do neerlandês, uma queda no fim da descida. Erro esse que foi prontamente aproveitado por Van Aert, que tentou logo ali abrir algum espaço, mas não foi suficiente para se isolar, pois fechou a primeira volta na companhia de Van der Poel e Vanthourenhout, com poucos segundos de vantagem para os perseguidores Sweeck e Lars Van der Haar (Baloise Trek Lions). Um dos momentos decisivos no desenrolar da corrida aconteceu logo na segunda volta, no segundo mergulho para o “poço”, quando Van Aert demonstrou absoluta mestria na arte de domar a bicicleta, e numa zona tecnicamente difícil, na subida off camber do “poço”, impôs um ritmo alucinante, sufocando os seus opositores. O único que ainda esboçou uma resposta foi Van der Poel, demorou meia-volta até colar ao campeão belga. Quando já se perspetivava mais uma daquelas magníficas lutas entre os dois titãs, um erro (mais um) de Van der Poel deitou tudo por terra (ou devemos dizer, por areia?): mais uma queda já na segunda metade da terceira volta, permitiu a Van Aert lançar-se na frente da corrida.
O neerlandês viria a ser alcançado por Sweeck e Vanthourenhout, e o belga ativou o modo foguete, exibindo-se a um nível soberbo, numa inequívoca demonstração de boa forma, força, técnica… em suma, de pura classe. A duas voltas e meia do fim, Van der Poel viria a desenvencilhar-se dos dois colegas de perseguição, no entanto a desvantagem para o líder era irrecuperável. Ao fim de 58:49 minutos, Van Aert cruzou a meta, deixando todos os outros a comer areia. O segundo classificado ficaria entregue a Van der Poel, a 1:23 minutos, e Sweeck viria a conquistar o último lugar do pódio a Vanthourenhout, a 1:31 minutos do vencedor.
Na geral da Taça do Mundo, Sweeck consolidou a sua liderança, com 333 pontos; seguido de Vanthourenhout, com 309 pontos, e o terceiro lugar pertence a Eli Iserbyt (Pauwels Sauzen-Bingoal), com 249 pontos, que não participou hoje na prova de Zonhoven. Desta forma, Sweeck e Vanthourenhout são os únicos que ainda podem lutar pela vitória na competição.
No próximo fim de semana, teremos os campeonatos nacionais da modalidade. Em Portugal, terá lugar em Vouzela, e realiza-se no dia 15, próximo domingo.
Foto: UCI Ciclocrosse
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