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Taça do Mundo de Dublin: Génio de Van Aert à solta em Dublin

Os ciclistas hoje partiram para o desconhecido. Foi a primeira vez que se correu uma prova da Taça do Mundo em Dublin, como parte do intento da UCI em promover a vertente de ciclocrosse fora do epicentro da modalidade, a Bélgica e a Holanda. E Dublin vestiu o fato de gala, e acolheu os crossers de elite da melhor maneira, como manda a tradição: com lama, muita lama. Os últimos dias na capital irlandesa foram marcados por chuva e até neve, o que deixou o traçado de hoje bastante lamacento e pesado. Sem dúvida que o estado do terreno era um dos mais importantes fatores para o desfecho da corrida, no entanto o percurso de Dublin estava longe de ser pera doce. Apesar de maioritariamente plano, com longas e largas retas cobertas de relva, o traçado era polvilhado por algumas zonas técnicas, que muitas vezes coincidiam com inclinações (ligeiras, mas constantes na primeira metade, e curtas e duras já nos últimos metros) e uma secção de areia, por si só já seletiva.

Era, portanto, uma corrida bem ao jeito de Wout Van Aert (Jumbo-Visma), o principal candidato ao lugar cimeiro do pódio. Outro forte candidato seria, obviamente, Tom Pidcock (INEOS Grenadiers), pois, apesar do seu baixo peso ser um handicap em condições pesadas como as de hoje, adapta-se bem a um traçado destes. Ainda, nomes como Michael Vanthourenhout (Pauwels Sauzen-Bingoal), o melhor do resto na corrida de Antuérpia, Lars Van der Haar (Baloise Trek Lions), e Eli Iserbyt (Pauwels Sauzen-Bingoal) prometiam imiscuir-se na luta pelo pódio.

Os primeiros metros da corrida não promoveram muitas mexidas nas posições dos ciclistas nem movimentações relevantes. Van Aert não conseguiu subir posições após o tiro de partida, e Pidcock, novamente, teve dificuldades no arranque. Mas no ciclocrosse, o percurso trata de pôr cada um no seu lugar, e rapidamente estes dois alcançaram posições confortáveis no pelotão, ainda antes de cruzarem a linha de meta pela primeira vez. Os primeiros minutos de prova foram relativamente tranquilos, apesar de algumas tentativas tímidas de Iserbyt, Vanthourenhout ou mesmo Laurens Sweeck (Crelan-Fristads) de aumentar um pouco o ritmo da corrida e abrir alguns espaços, principalmente na parte mais técnica do circuito. Mas nada que fizesse quebrar o grupo de cerca de 10 unidades que se mantinha ainda unido ao fim de três voltas. Pelo meio, um erro de Van Aert (perdeu o controlo da bicicleta e embateu num poste delimitador do circuito) foi um dos poucos momentos de frisson da corrida, mas nada que fizesse alarmar o belga.

Foi no início da quarta volta que a história da corrida começou a ser escrita. Pidcock passou ao ataque, levando na roda Van Aert, e deixando os mais diretos competidores em alerta. No final da dessa volta, já só seis crossers resistiam na frente. Mas o momento da tarde, e talvez uma das imagens mais caricatas dos últimos anos aconteceu logo no início da quinta volta. Ao passar pela zona das boxes, Van Aert enfaixou uma toalha do mecânico de Vanthourenhout no seu guiador, e posteriormente na corrente, o que o fez desmontar da bicicleta, e percorrer a pé, e em sentido contrário ao da corrida, a distância que o separava da entrada desta zona para trocar de máquina. Com isto, o campeão belga caiu várias posições, e cerca de 17 segundos para o líder, mas foi o suficiente para instigar o animal competitivo de Van Aert.

A partir daqui, assistimos a uma masterclass de ciclocrosse: a resiliência, a técnica, a potência… sublime! Um a um, todos os que pedalavam à frente de Van Aert forma sendo ultrapassados, até que, em menos de uma volta, alcançou a frente da corrida, o que permitiu um novo reagrupamento de sete corredores. Mas o estrago já estava feito. Van Aert respirou, e no final da sexta volta lançou o ataque decisivo, após a passagem pela secção de areia. A partir daqui foi galgando metros em relação aos restantes, e só parou com os braços no ar, ao fim de 59:36 minutos de prova. Sweeck concluiu uma excelente prova na segunda posição, a 14 segundos, e Pidcock foi terceiro, a 17 segundos de Van Aert.

Na classificação geral da Taça do Mundo, o top-3 mantém-se inalterado: Sweeck lidera (266 pontos) aumentando a vantagem para Iserbyt (249 pontos) e para Vanthourenhout (225 pontos).

Na próxima semana teremos a prova da Taça do Mundo em Val Di Sole, no sábado, dia 17/12.

Foto: Jumbo-Visma

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