E o dia chegou! O dia mais aguardado da temporada internacional de ciclocrosse e talvez um dos momentos mais ansiados pelos fãs das duas rodas: o dia em que Mathieu Van der Poel (Alpecin-Deceuninck), Wout Van Aert (Jumbo-Visma) e Tom Pidcock (INEOS Grenadiers) se encontraram pela primeira vez na mesma prova. Sem desprimor para o restante pelotão, estes são, provavelmente, os três melhores crossers da atualidade (para além de estrelas na estrada), os três embaixadores do ciclocrosse junto da generalidade dos fãs de ciclismo, que trazem cada vez mais público para esta vertente, fazendo com o que o ciclocrosse ganhe cada vez mais adeptos e se torne ainda mais mediático. Condimentos que faziam desta 8ª prova da Taça do Mundo em Antuérpia muito mais que um simples cross.
Mas no que à corrida diz respeito, e ao percurso do dia de hoje, a única palavra que nos vem à cabeça é: areia! Areia… muita areia. Não podemos falar do Scheldecross sem falar das longas secções de areia que marcam parte significativa do percurso, e que se revelam decisivas no desfecho da prova. Esta é uma corrida adequada àqueles capazes de debitar muitos watts, ou, como se diz na gíria, aos que têm um motor potente. Num percurso plano, com poucas zonas de curvas apertadas, e onde a relva reveste a parte do percurso não ocupada por areia, tornando o piso mais duro, era inevitável não incluir os Big 3 na luta pela vitória. No entanto, alguns fatores poderiam tornar a corrida mais aberta e imprevisível. Depois da queda de ontem, a condição física de Van der Poel era uma incógnita. Apesar de ser o recordista de vitórias em Antuérpia, e o vencedor das últimas quatro edições, o próprio admitiu ontem que o seu joelho não estava nas melhores condições após a queda, e isso poderia afetar a sua performance. Van Aert fazia a sua estreia na temporada de ciclocrosse, e o ritmo competitivo poderia, ainda, não ser o melhor. Já Pidcock, naturalmente, iria sentir mais dificuldades no circuito de Antuérpia, uma vez que a sua fisionomia não se adequa às características do terreno. Desta forma, também teríamos de convidar Laurens Sweeck (Crelan-Fristads), líder da Taça do Mundo, ou Lars Van der Haar (Baloise Trek Lions) a integrar este lote de favoritos. Sweeck, o Rei da Areia, teria aqui, talvez, um dos melhores percursos para poder mostrar o seu valor contra os Big 3, e Van der Haar, outro nome que se adaptava bem às condições de hoje, tem estado em boa forma nas últimas semanas.
Logo no tiro de partido, Van Aert mostrou ao que vinha, com um forte arranque que o colocou imediatamente no comando da corrida, seguido de perto por Van der Haar. Van de Poel, como tem sido hábito nas últimas corridas, consequência de partir nas linhas secundárias da grelha devido à sua classificação no ranking UCI, encetou a recuperação de posições no pelotão que o viria a colocar junto dos melhores em poucos metros. Já Pidcock sentiu, mais uma vez, dificuldades no arranque, situação o que o atirou para a cauda do pelotão, e acabou com as suas aspirações à discussão da corrida.
No final da primeira volta, já um grupo de cinco corredores se destacava na cabeça de corrida: Van der Haar, Van Aert, Van de Poel, Sweeck e Michael Vanthourenhout (Pauwels Sauzen-Bingoal). Mas Van der Poel não estava para brincadeiras, confirmando que a lesão no joelho não era limitativa, e ainda na primeira metade da segunda volta lançou um forte ataque que mais ninguém conseguiu seguir.
Van Aert, Van der Haar e Vanthourenhout eram os que mais diretamente tentavam responder, mas o espaço foi-se abrindo progressivamente. Nas voltas seguintes, a vantagem de Var der Poel foi sendo consolidada, e os únicos com capacidade para perseguir eram Van Aert e Vanthourenhout. O campeão belga, contudo, imprimiu um ritmo demasiado forte para o campeão europeu, e isolou-se na segunda posição, esboçando uma tentativa de recuperação para o líder da corrida. Mas Van der Poel estava demasiado forte, e com alguns erros à mistura por parte de Van Aert (uma queda na passagem pelas barreiras na penúltima volta), foi impossível destroná-lo do primeiro lugar. Após 59:04 minutos de prova, e com uma exibição fantástica em solitário, Van der Poel levou de vencida a prova da Taça do Mundo de Antuérpia, com 23 segundos de vantagem sobre Van Aert e 34 segundos sobre Vanthourenhout (que ainda teve de se preocupar com Sweeck na penúltima volta). Pidcock cruzou a meta na 8ª posição, a 1:14 min do vencedor.
Na classificação geral da Taça do Mundo, Sweeck mantém-se na liderança, com 236 pontos, seguido por Eli Iserbyt (Pauwels Sauzen-Bingoal), com 230 pontos, e Vanthourenhout (204 pontos).
Na próxima semana, teremos a prova do Exact Cross Essen (dia 10/12) e no dia seguinte, dia 11/12, a nona prova da Taça do Mundo, em Dublin.
Foto de capa: UCI Ciclocrosse