Tem 33 anos, nasceu na região do Sobrado e foi um dos vencedores mais surpreendentes da Volta a Portugal, neste século. Rui Vinhas, da W52-FC Porto, naquela altura, continuou com a hegemonia da sua equipa e recuperou o cetro português da prova após 2 vitórias do seu colega Gustavo Veloso e outras vitórias dos também espanhóis, mas adversários, Alejandro Marque e David Blanco. Hoje, continua a ser parte importante para a estrutura da W52-FC Porto e uma peça fundamental para o bom espírito de grupo.
O vencedor da Volta a Portugal 2016 e um guerreiro nato, que sobreviveu – e ainda terminou a prova – a ferimentos graves numa etapa da Volta a Portugal 2018 para poder ajudar a dar o título ao seu companheiro de equipa Raúl Alarcón, deu-nos a conhecer aspetos do passado, particularidades sobre o presente e curiosidades sobre o futuro, numa entrevista que podem ler abaixo:
Portuguese Cycling Magazine (PCM) – O tema mais em foco ultimamente tem sido relacionado com esta pandemia ligada ao SARS-CoV-2 (mais conhecido por COVID-19) e como ela afetou as mais diversas áreas. Começamos por perguntar o que é que mudou para si, pessoalmente, mas também para a sua equipa? Como é que o Rui e a W52 se têm adaptado a este “novo normal”?
Rui Vinhas (RV) – Mudou bastante, alem de estar mais resguardado temos de ter os máximos cuidados.
Dia após dia temo-nos adaptado de forma gradual ao novo estilo de vida. Por mais difícil que seja, temos de ser positivos e seguir em frente.
PCM – Nos tempos de quarentena, como é que conseguiu ir tentando manter a forma e com que atividades foi mantendo o seu tempo ocupado?
RV – Na quarentena treinei bastante em casa, entre rolos e trabalho de core, mas como tínhamos uma permissão por parte do governo para treinar no exterior acabei por também fazê-lo várias vezes.
PCM – Tendo em conta todas as medidas já anunciadas, será possível revelar se a equipa já tem os planos bem definidos para esta remodelação da época e quais serão as prioridades da equipa além da Volta a Portugal?
RV – A equipa tem de se adaptar a todas as regras impostas pelas entidades responsáveis, só assim funcionará. As prioridades serão as mesmas dos últimos anos, como tentar sempre vencer essa prova.
PCM – Quais os objetivos do Rui para esta diferente época desportiva?
RV – Os objetivos passam por tentar estar a um nível aceitável no restante da época e se possível tentar alguma vitória.
PCM – Numa breve viagem ao passado, iniciou-se no ciclismo quando tinha 12 anos, na equipa ADRAP, de Penafiel. Depois representou a CASATIVA, equipa criada pela União Ciclista de Sobrado, sendo que, após isso, foi para a Paredes Rota dos Móveis. Em 2010, foi vencedor da prova ALUVIA-Valongo, na categoria de sub-23, algo que também poderá ter ajudado no futuro interesse da LA Alumínios-Antarte, onde começou o seu percurso profissional. No meio deste caminho todo, quais são os momentos que guarda com maior saudade e carinho?
RV – Os momentos de saudades são bastantes, era um jovem sem grandes responsabilidades e que desfrutava daquilo que adoro fazer. Foram anos em que evolui bastante.
PCM – Entre 2011 e 2014, esteve na LA e no Louletano. Quão importante foram estas equipas para o seu crescimento como atleta profissional?
RV – Apenas estive na LA em 2011, de 2012 a 2014 estive no Louletano. E no qual agradeço a todos eles pela oportunidade que deram, sem eles era impossível chegar onde cheguei e sim foi muito importante esses anos de aprendizagem para mim.
PCM – Em 2015, é contratado pela estrutura da W52, que na altura ainda era W52-Quinta da Lixa (no ano seguinte é que passou a designar-se por W52-FC Porto). Alguma vez sonhou ou pensou que iria vencer a Volta a Portugal por esta mesma equipa? Era um objetivo seu na altura ou nunca sequer imaginou tal situação?
RV – Vencer a Volta a Portugal é um sonho para qualquer um, mas o meu objetivo nunca passou por aí, mas quando tive a oportunidade aproveitei com a minhas maiores forças.
PCM – Na Volta a Portugal 2016, naquela etapa incrível da sua fuga, que depois acabou por ser crucial no título, quais foram os seus pensamentos à medida que a etapa se ia desenrolando até chegar ao inesperado momento de vestir a camisola amarela? E como é que foram os momentos, umas etapas depois, após a confirmação de que tinha mesmo vencido a “Grandíssima” – ainda por cima após um excelente contrarrelógio?
RV – Os pensamentos passavam apenas por dar sempre o meu melhor e não errar, depois no contrarrelógio o que fiz foi sofrer do início ao fim para tentar segurar a camisola amarela e felizmente consegui.
PCM – Como lidou com o regresso a um papel de não ser o líder da equipa após ter ganho a Volta?
RV – Na nossa equipa temos sempre mais que um homem que possa ganhar, eu estava bem fisicamente, tive uma oportunidade para lutar pela vitória e todos me respeitaram, sendo que agradeço a todos eles por isso.
PCM – Acha que será possível para si voltar a vencer uma Volta a Portugal, ou terminar no pódio, no futuro?
RV – Penso que sim, estando bem fisicamente poderá ser possível lutar por um pódio mas não estou a pensar nisso atualmente, pois estarei lá para cumprir ordens.
PCM – Durante uma das etapas da Volta a Portugal 2018, ficou ferido com gravidade na sequência de uma colisão com uma carrinha, tendo inclusive, segundo o mencionado, desmaiado. Onde é que arranjou forças para terminar essa etapa e, até mesmo, conseguir acabar essa Volta a Portugal? E que sentimentos teve após ter sido realmente importante para Alarcón conquistar mais um título para a W52?
RV – A sensação que tive foi dever cumprido e orgulhoso por conseguir manter-me em prova e inclusive terminar a mesma. Tive bastante apoio quer da equipa, família, amigos e todos os apoiantes da modalidade, sem exceção. Também tudo o que passamos para estar nas melhores condições nestas competições faz-nos continuar de qualquer forma e não desistir facilmente (eu, pelo menos, penso assim).
PCM – Já são vários anos da W52-FC Porto a vencer a Volta a Portugal. Quem é que acha que poderão ser os próximos ciclistas a tentar fazer frente a este domínio? E qual acha que poderá ser o próximo passo para a vossa equipa, principalmente depois de terem subido de escalão?
RV – Os ciclistas que podem fazer frente à W52 já se têm evidenciado nos últimos anos, que são o Joni Brandão e o Vicente de Mateos e penso que em breve surgirão outros, mas na atualidade são estes. A equipa tem sempre como principal foco a Volta a Portugal.
PCM – Sabemos que é bastante amigo do Raúl Alarcón. Como é que é a vossa relação dentro e fora das estradas e que palavras lhe gostaria de deixar aqui?
RV – A nossa relação é bastante boa, somos grandes amigos e é uma pessoa em quem confio muito.
PCM – Dentro da vossa estrutura, qual é a pessoa mais teimosa? Mais engraçada? A mais sorridente? Mais confiante? E, por fim, o mais “trapalhão”?
RV – O mais teimoso é o mecânico Nelson Rocha, o mais engraçado o Diretor Maximino Pereira, mais sorridente João Rodrigues, mais confiante o diretor Nuno Ribeiro e o mais trapalhão o Tiago Ferreira.
PCM – Numa perspetiva mais geral, o que é que acha que poderia mudar no ciclismo nacional, por um lado, e no ciclismo internacional, por outro?
RV – Acho que o ciclismo nacional deveria ter mais cobertura televisiva em outras provas para além da Volta a Portugal e Volta ao Algarve. No ciclismo internacional, talvez abrirem mais oportunidades e surgirem convites para equipas como as nossas.
PCM – Tocando no tema da formação no ciclismo em Portugal, qual a sua opinião sobre o que tem sido feito e sobre a evolução que tem tido?
RV – Acho que de momento temos tido boa formação e até têm surgido bastantes bons atletas nos últimos anos, tal como os gémeos Oliveira, o João Almeida, entre outros.
PCM – Aproveitando ainda o tema da formação, quer deixar algumas palavras para os jovens que estão a tentar progredir nesta “nossa” modalidade?
RV – As palavras que deixo é que têm de ser dedicados e persistentes, mas acima de tudo desfrutarem a cada dia da paixão que é o ciclismo.
PCM – Quais são as opções que tem em cima da mesa para o seu futuro no ciclismo? Já teve propostas para sair da W52 e pensa ainda em tentar correr no World Tour?
RV – Correr no World Tour já fica difícil, as apostas deles atualmente passam pelos mais jovens, mas sim, tive alguns convites, mas para já sinto-me bem na W52.
PCM – Tocando um pouco na sua vida mais pessoal, como é conciliar a sua vida profissional com o facto de ter uma família, principalmente um filho que, curiosamente, nasceu no ano da sua vitória na Volta a Portugal?
RV – É relativamente fácil porque a família apoia-me bastante e sinto que o meu filho tem orgulho no que o pai faz, que é ser ciclista.
PCM – Quais são os seus maiores sonhos dentro do mundo do ciclismo e fora dele?
RV – Dentro do mundo ciclismo será dar continuidade à academia de ciclismo que tenho com o meu nome e tentar chegar ao escalão profissional, fora dele é conseguir dar uma vida estável à minha família e, se conseguir, montar um negócio próprio.
PCM – Melhor ciclista da atualidade, nacional e internacional, e qual é o ciclista em que mais se revê ou que mais admira neste mundo das duas rodas?
RV – Para mim o melhor da atualidade é o Froome pelo seu vasto currículo, mas o que mais admiro é o jovem Egan Bernal pela sua forma de se superar.
PCM – Se tivesse que escolher qualquer desportista, sem ser do ciclismo, para se juntar à equipa, qual escolheria e porquê?
RV – Cristiano Ronaldo, pela sua forma de encarar a competição e pela forma de vencer.
PCM – O que diz a sua bicicleta?
RV – Tem um desenho do Rato Atómico, alcunha que me puseram durante a Volta que ganhei.
Foto de Capa: Facebook Volta a Portugal