O campeão belga fala ainda sobre a sua preparação, analisa a dupla com Mikel Landa e escolhe o seu grande objetivo da temporada.
Remco Evenepoel está de regresso a Portugal, para correr a Figueira Champions Classic e a Volta ao Algarve. Nesta tarde chuvosa e ventosa de 9 de fevereiro, em conferência de imprensa, o campeão belga da Soudal – Quick Step fez a antevisão das duas provas portuguesas com cariz internacional, ainda que a meteorologia tenha obrigado, desde logo, a uma pequena alteração de planos. “Fiz uma volta do circuito, mas no carro, não na bicicleta, porque estava a chover demasiado. Hoje está um dia muito mau, mas acho que amanhã só chove de manhã e depois, à tarde, a corrida vai estar seca.” Boas notícias, não só para ele, como para todos os fãs de ciclismo.
Antes da meteorologia, já tinha havido outra alteração nos planos de Evenepoel em Portugal. “Era suposto começar só no Algarve, mas depois a equipa decidiu fazer esta corrida com base no ano passado. É uma boa combinação, como um aquecimento antes da semana no Algarve”. A sua estreia na Figueira Champions Classic servirá então como aquecimento para o regresso à Volta ao Algarve, prova que já venceu por duas ocasiões, em 2020 e 2022, e que sempre procura adicionar ao calendário.
“Penso que os percursos em Portugal, especialmente no Algarve, têm tudo o que um corredor de gerais completo deve ser: etapas planas, etapas com colinas e de média montanha, e contrarrelógio”, responde o ciclista belga quando questionado sobre as especificidades de correr em Portugal. Quanto às suas previsões, tanto para a corrida de amanhã como para a semana algarvia, a experiência diz-lhe que, em Portugal, “as corridas são sempre explosivas”, realçando a explosividade do circuito da Figueira Champions Classic, que os ciclistas terão de atravessar por quatro vezes, como maior prova.
A Figueira Champions Classic e a Volta ao Algarve são instrumentais no início de época de Remco Evenepoel, que relembra como “é sempre bom começar a época a vencer”, ainda que o principal objetivo seja “construir forma para o Paris-Nice.” No final da época transata, admite ter-se sentido mais cansado do que o habitual, pelo que tomou a decisão, em conjunto com o seu treinador, de fazer uma pausa de cinco semanas nos treinos, trocando a bicicleta pelo próprio pé: “Só corri perto de casa e nas férias, foi dessa forma que mantive o corpo a mexer. E assim que recomecei, senti-me fresco, no corpo e na cabeça, e foquei-me logo.” Os bons resultados da mudança de filosofia levam Evenepoel a retirar uma lição importante: “É bom saber que, para os próximos anos, quando o corpo se sente muito cansado no final da época, estar cinco semanas fora da bicicleta não lhe vai fazer mal.”
A dupla das provas portuguesas marca também o começo da parceria com Mikel Landa, a quem Evenepoel deu as boas-vindas à equipa Soudal – Quick Step no último inverno, destacando a sua experiência em grandes voltas e enorme capacidade de subida. “Vamos usar esta semana especialmente para nos ficarmos a conhecer em corrida”, porque apesar do primeiro contacto que tiveram nos treinos, “nunca sabemos o que o outro sente, nem quando se sente bem ou mal.” Assim, as circunstâncias prometem também determinar o papel que cada um vai ter, e Remco Evenepoel mostra-se otimista: “Se um dos dois tem um mau dia, vai esvaziar as suas pernas pelo outro. Vai ser uma parceria fácil.”
O caminho para o Tour de France começa no Paris-Nice e, ao contrário do que por vezes acontece, tem alguns encontros marcados com os principais favoritos à conquista da camisola amarela, nomeadamente Primož Roglič no Paris-Nice, Jonas Vingegaard em Itzulia Basque Country, e ambos no Criterium du Dauphiné. Contudo, Evenepoel recusa que o modelo de negócios atual do ciclismo, que concebe cada vez mais o protagonismo das ‘estrelas’ como fonte de rendimento, possa condicionar os calendários. “Eles podem alinhar onde quiserem, e onde quer que eu esteja à partida, mas um ciclista não pode deixar de fazer uma corrida só porque alguém está lá. Temos de olhar para os nossos próprios programas e fazer o que nos fizer sentir melhor.” Resumindo esta posição numa frase: “São as escolhas pessoais que nos juntam ou afastam.”
O Tour de France é o culminar de toda a preparação, e exige uma preparação acima de todas as outras, pelo que a Soudal – Quick Step, com Remco Evenepoel, já procedeu ao reconhecimento de duas etapas que prometem ser chave: o contrarrelógio e a etapa da gravilha. Contudo, apesar do histórico negativo que muitas vezes se atribui ao ciclista belga neste terreno, a etapa deixou boa impressão nele. “A etapa não é técnica e os setores não são perigosos, vai ser mais louco do que realmente é. Certamente temos de ter cuidado, para não perder tempo, mas acho que é uma etapa muito bonita e gostei muito de a reconhecer.” No contexto do Tour, escolhendo o principal objetivo da temporada, entre os muitos que ele tem, Evenepoel pouco hesita: “Estar no pódio em Nice, não importa o lugar.”
Com esta convicção de Remco Evenepoel, resta esperarmos para ver o que pode fazer tanto na Figueira Champions Classic e na Volta ao Algarve, como nas corridas seguintes e principalmente no Tour de France!