Um colombiano em destaque: uma vista que se tornou cada vez mais distante dos olhos desde as lesões de Egan Bernal, os anos de Rigoberto Uran e os casos bicudos de Nairo Quintana e Miguel Ángel López. Certo é que Santiago Buitrago, ciclista de 23 anos da Bahrain – Victorious, tem sido o produto de excelência da Colômbia em grandes voltas. Este ano, conquistou o Tre Cime di Lavaredo, subida mítica do Giro d’Italia, e já esteve próximo de levantar os braços novamente na 15ª etapa desta Vuelta, não fosse o português Rui Costa. A Portuguese Cycling Magazine apresenta a entrevista exclusiva de Santiago Buitrago, o 12º classificado da Vuelta a España que trabalha para ser “um homem que esteja na frente no Giro, na Vuelta e no Tour“.
Buitrago conquista o Tre Cime di Lavaredo, no Giro 2023. Foto: Getty Images
A temporada de 2023 de ‘Santi’, como é conhecido Buitrago, tem sido muito positiva, refletindo a evolução gradual do ciclista:
Este ano tem sido positivo para mim. Ganhei uma etapa no Giro, fiz pódio num monumento [Liège-Bastogne-Liège] e agora na Vuelta, estamos a lutar por uma boa geral com o Mikel e comigo. Por isso, estou contente com um ano de bons resultados e espero terminá-lo da melhor maneira.
Santiago Buitrago
Santiago Buitrago mostra-se satisfeito com a sua corrida, talvez porque o pior momento já tenha passado: depois de um bom resultado na primeira chegada em alto, em Andorra, Buitrago sofreu uma queda que o afastou, desde logo, do top-10 da classificação geral:
Ter caído foi um golpe duro, na verdade. Durante vários dias tive problemas no joelho, que me afetaram um pouco. Naquele dia, ter perdido 2 minutos e meio foi também um golpe moral, mas agora acredito que encarei a última semana da melhor maneira possível e estamos contentes. Tentaremos fazer top-5 com o Mikel e esta semana vai ser muito interessante!
Santiago Buitrago
Buitrago na Vuelta 2023. Foto: Sprint Cycling Agency
Com a mentalidade certa, Buitrago iniciou a sua recuperação em direção ao objetivo. Minimizando as perdas e com a ajuda de algumas fugas, ocupa agora o 12º lugar da Vuelta, estando a menos de 2 minutos do top-10. O objetivo é o top-10 e uma vitória numa etapa; o obstáculo tem sido Portugal: João Almeida é 10º classificado e Rui Costa já lhe ‘tirou’ uma vitória em etapa, ao 15º dia. O que deu certo e errado para o colombiano nesse dia?
Eu e o Rui Costa não nos entendemos bem na subida. Ele sabia que no final seria mais rápido e eu sabia que ia ser muito complicado vencer contra ele. Eu fiz a subida ao máximo, desde o sopé até ao topo, mas não consegui deixá-lo para trás e no final, aconteceu tudo o que aconteceu: o Kamna atacou na descida, depois caiu e permaneceu o Rui, que com grande experiência ganhou. Foi uma pena ter tido as minhas melhores pernas e não ter podido ganhar. O importante foi que tentei.
Santiago Buitrago
Buitrago com Rui Costa em fuga. Foto: Getty Images
De melhor a pior, tem ido toda a Vuelta da Bahrain – Victorious. Mikel Landa também começou atrasado, mas conseguiu recuperar o tempo perdido graças à mesma fuga que colocou Lenny Martinez na liderança e projetou Sepp Kuss para alcançar essa liderança mais tarde. O ciclista basco prepara-se para abandonar a formação do Bahrain (e um papel de líder) em prol da Soudal – Quick Step (e um papel de gregário). Assim, Buitrago não podia deixar de agradecer ao seu companheiro pelos 4 anos juntos e alimenta o sonho de uma despedida em grande:
O Mikel é um grande companheiro e uma pessoa com quem aprendi muito nos últimos 4 anos. Ele mostrou-me a essência de lutar e que quando as coisas começam mal, não têm de terminar mal. Como exemplo temos esta Vuelta, em que a primeira semana não foi tão boa para ele e na segunda semana, entrou no top 10 com a possibilidade de sacar um top 5. Acredito que nesta última semana vamos tentar. Ele quer despedir-se da equipa da melhor maneira, com o melhor resultado possível. Ainda vamos dar muita luta até Madrid!
Santiago Buitrago
Buitrago e Mikel Landa foram companheiros de equipa por 4 anos. Foto: Bahrain – Victorious
Temos falado do corredor que é Santiago Buitrago e do quão bem ele tem usado as suas habilidades, vencendo etapas importantes em grandes voltas e conseguindo um pódio num monumento. Um trepador puro, com alguma explosividade e traços de consistência. Mais do que o muito que já demonstra, que corredor quer Santiago Buitrago ser?
Quero ser um corredor de 3 semanas, que lute pela geral. Alguém que possa ser perigoso durante 3 semanas para um top 5, um top 3 ou uma classificação geral. As fugas, procurar as vitórias, isso assenta-me bem, mas quero centrar-me mais em ver o quão longe posso chegar numa corrida de 3 semanas.
Santiago Buitrago
O desafio é colocado pelo próprio Buitrago, e nesse desafio há uma dificuldade que se destaca, da qual ele está perfeitamente ciente:
Sem dúvida que aquilo que mais preciso de melhorar é o contrarrelógio, porque é um fator que me prejudica bastante. Mas pouco a pouco vou melhorando. O importante é seres constante e o teu corpo responder bem durante as 3 semanas, física e mentalmente. Há dias em que a corrida explode, não estás na frente e perdes tempo, por isso tens de estar sempre muito concentrado. Espero que no próximo ano, ou em 2 anos, ou em 3, possa estar a discutir uma classificação geral.
Santiago Buitrago
Buitrago, puro trepador, trabalha para melhorar no contrarrelógio. Foto: Bahrain – Victorious
No último domingo, Buitrago perdeu para Rui Costa. Mas as querelas da etapa não passam para fora dela e o português deixa rasgados elogios ao colombiano, acreditando no seu potencial como corredor de 3 semanas:
Para ser um corredor de três semanas, é preciso ser muito completo. Antigamente, um corredor de três semanas não precisava de ser muito forte no contrarrelógio, bastava apenas defender-se. Mas hoje em dia, face ao novo ciclismo, um voltista tem de ser muito forte no contrarrelógio, além de ser um excelente trepador. O Buitrago é um escalador fantástico; se virmos o palmarés dele, as vitórias são quase todas em etapas de alta montanha ou mesmo rainhas. O que não lhe ajuda é o contrarrelógio, mas é uma questão de trabalho, de dedicar mais tempo à especialidade. Ele tem demonstrado estar bem e tem conseguido grandes resultados. Mesmo nesta Vuelta, tem aguentado com os melhores de modo a lutar pelo top 10.
Rui Costa
Antes do futuro, vem o presente. Antes de formarmos expetativas sobre o futuro de Buitrago, o que podemos esperar dele no que resta desta Vuelta?
Agora, na Vuelta, o que mais quero é chegar a Madrid e pessoalmente, gostaria de ter a oportunidade de disputar outra etapa e entrar no top 10; seria ideal para mim. No futuro, é continuar a crescer e pouco a pouco ir lutando por provas de 3 semanas. É para isso que trabalho, ser um homem que esteja na frente num Giro, numa Vuelta ou num Tour. Assim, espero que no futuro possa melhorar.
Santiago Buitrago
Buitrago no seu ‘habitat’ natural, as montanhas. Foto: El Colombiano
O Angliru vai certamente apresentar um prato grande (literamente, na bicicleta) e delicioso para Buitrago, que será um adversário a ter em conta para João Almeida no top 10, até porque o colombiano será menos vigiado pela Jumbo-Visma na hora de entrar na fuga. Fiquem desse lado e acompanhem tudo sobre a Vuelta a España no site e nas redes sociais da Portuguese Cycling Magazine!