O México por detrás de del Toro
Em 2022, quando o Isaac já estava em rota para se tornar num ciclista profissional, sofreu uma lesão grave. Como o apoiaste nesse período difícil e depois na recuperação?
Foi realmente muito difícil. Ele teve um acidente em julho e rompeu a artéria femoral [na perna]. Esteve em estado crítico. Felizmente, a operação correu bem. Além de ser fisicamente difícil, o acidente também foi mentalmente desafiante. Sendo um miúdo de 17 anos sozinho na Europa, além de ter o sonho de competir no Tour de l’Avenir e de repente, não saber sequer se iria correr novamente foi chocante. Então, conversámos muito e dei-lhe apoio psicológico. Mas todos sabemos que ele é um rapaz muito forte, por isso começou a recuperar muito rapidamente. Após dois meses, voltou a andar de bicicleta! No início, estava impaciente e fazia treinos loucos, porque queria começar a temporada seguinte em grande, por isso tive de o acalmar e dizer ‘vamos passo a passo’.
A capacidade de recuperação é essencial para um ciclista que quer vencer Grandes Voltas, não concordas?
Sim, com certeza que é crucial e podem ver na Course de la Paix, no Sibiu, no Valle d’Aosta e no Avenir que o Isaac estava-se a sentir melhor a cada dia que passava.
Apesar dos bons resultados que obteve nessas provas, por toda a Europa, o Isaac raramente surgia entre os favoritos do Tour de l’Avenir. Acreditas que ele foi subvalorizado, talvez por vir de um país periférico como o México?
Sim, isso tem a ver claro. Para ser honesto, sabia que ele era capaz de lutar pelo pódio, estava a melhorar a cada dia e no Valle d’Aosta demonstrou que era um dos ciclistas mais fortes. Mas, infelizmente, não é comum ver mexicanos no topo [no ciclismo], tem a ver com isso.
Apesar da nacionalidade de Isaac Del Toro ter contribuído para moderar muitas das expetativas decorrentes das suas prestações nas grandes provas onde participou, eis que o jovem ciclista mexicano começou a surpreender até o próprio treinador.
Duas a três semanas antes do Avenir, fizemos um estágio em altitude; eu vi os números dele e ele estava a produzir praticamente a mesma potência que produziu na Aosta e em todas as corridas por etapas em grande altitude, o que é realmente difícil de fazer, por isso sabia que ele estava a ficar ainda mais em forma. Na Aosta, ele era definitivamente um dos melhores, mas o Avenir é uma corrida ainda mais difícil; é como o Tour de France em comparação com o Giro e a Vuelta. Eu sabia que ele podia lutar pelo top-3, mas o que ele fez superou até as minhas expectativas.”
Um futuro (já presente) campeão, liderando uma geração jovem, com uma boa estrutura para os apoiar. A realidade do ciclismo mexicano contrasta muito com a de outros desportos. Assim, qual é o segredo do ciclismo mexicano?
A realidade é que o México gira em torno do futebol. Desse modo, o governo não apoia outros desportos de forma alguma. O ciclismo está a crescer muito (coisas como a Netflix estão a ajudar bastante), mas antes disso, não era um grande desporto. Sempre houve problemas e, felizmente, este projeto é financiado por um investidor privado [A.R. Monex], não depende do governo mexicano. É ótimo que tenham conseguido montar o projeto e os resultados estão à vista num curto espaço de tempo. Há muito talento no México, mas não havia oportunidades antes; agora existem. Os ciclistas têm a oportunidade de competir ao mais alto nível do ciclismo europeu e isso tem dado resultados.
O México sempre teve talento no ciclismo: Raul Alcalá venceu etapas no Tour de France no final da década de 1980, enquanto Julio Alberto Pérez conquistou o Passo Pordoi no Giro d’Italia 2001, para dar dois exemplos. Porém, o talento precisa de oportunidades para brilhar, oportunidades essas que hoje são garantidas pela A.R. Monex Pro Cycling Team, que começou com financiamento estatal mas entretanto rompeu com a Federação do seu país, ao ponto de operar exclusivamente a partir da Europa.
O que vai acontecer a seguir, ainda não sabemos. Mas espero que muitas pessoas abram os olhos e vejam que o México pode estar no topo, não apenas no ciclismo, mas em todos os desportos. Existe talento, precisamos de apoio, precisamos de oportunidades, precisamos de organizações como a Monex, para que possamos estar nas maiores provas do mundo.