Diogo e Sérgio Saleiro, ciclistas da ACDC Trofa, são a mais recente dupla de gémeos no pelotão nacional, seguindo as pisadas dos Gonçalves e dos Oliveira. Acabaram de terminar a sua primeira temporada como ciclistas sub-23 e após a conclusão da última prova do ano, o Grande Prémio Jornal de Notícias, falaram com a Portuguese Cycling Magazine. Nesta entrevista os gémeos contam como tudo começou no mundo do ciclismo e como foi a sua primeira temporada no escalão de sub-23. Saibam tudo isto e muito mais em mais uma PCM Entrevista!
De realçar que ambos ainda se encontram à procura de um contrato profissional para a próxima temporada, não tendo, até à data, chegado a acordo com nenhuma equipa.
O início no ciclismo
A aventura no ciclismo começou cedo quando tinham 6/7 anos e se juntaram à Associação Cultural e Recreativa de Roriz, conforme nos explicou Diogo: “Nós dávamo-nos bem com o Professor Matias e a Professora Isabel e começamos a ir para casa deles”. A entrada para a equipa foi muito simples, como nos confidenciou Diogo: “Ia haver uma corrida lá em Roriz e decidimos perguntar se podíamos entrar na equipa e foi assim que começou a nossa etapa no ciclismo”. Segundo Sérgio no início tudo foi muito estranho: “As velocidades eram muito elevadas e nós queríamos ter entrado logo nas corridas, mas tivemos de começar pela gincana”, no entanto considera que isso foi “uma boa aprendizagem na mesma e faz muita falta”. Depois de alguns anos nos escalões de formação da Associação Cultural e Recreativa de Roriz, os jovens completaram os anos de júnior no Centro Ciclista de Barcelos.
O primeiro ano de sub-23 a correr contra os elites
Em 2022 os gémeos começaram uma nova etapa na carreira com o seu primeiro ano no escalão de sub-23. A primeira experiência a correr no pelotão de sub-23 deu-se pela mão da ACDC Trofa, sendo que foi um ano complicado para ambos, visto que começaram logo a correr as provas do calendário nacional onde se incluem as equipas continentais portuguesas. Para Sérgio a primeira experiência no escalão foi um ano duro: “Nós em juniores já achávamos que sofríamos. Aqui temos de sofrer a corrida toda e dar o melhor de nós para acabar as provas, visto que é assim que nos podemos mostrar um bocado”. Diogo afina pelo mesmo diapasão do irmão ao considerar que foi um ano complicado: “É uma experiência muito dura, mas claro que foi uma grande experiência correr contra atletas que só os vemos na televisão e que até apreciávamos vê-los correr”, dizendo, ainda, que é “totalmente diferente do que tínhamos experienciado até aqui, sofremos a corrida toda e temos de nos tentar colocar ao máximo e por vezes lutar por posições”.
As condições e o calendário do escalão sub-23
A situação do calendário do escalão sub-23 em Portugal naturalmente não escapa aos gémeos Saleiro, com Diogo a confessar-nos que as condições que tiveram este ano não foram as mais adequadas: “Fizemos as corridas por etapas do calendário sem um massagista”, pelo que “depois chegávamos a algumas etapas já com as pernas muito massacradas do dia anterior”, algo muito difícil para qualquer ciclista visto que “as pernas inchavam logo em qualquer subida e tínhamos de sofrer a corrida toda para aguentar com as dores”. Sérgio apontou outro tipo de dificuldades, em relação ao equipamento: “A bicicleta que nós usamos também não era a melhor, usamos todo o ano uma bicicleta com 10 quilogramas”, sendo que as bicicletas dos ciclistas profissionais pesam menos 3 quilogramas, em média. Sérgio acredita que “se tivéssemos tido uma bicicleta um pouco mais competitiva tinha-nos ajudado mais, mas temos de andar com o que temos e dar o nosso melhor”.
Outro ponto importante contemplado na conversa foi o do diminuto calendário para o escalão de sub-23, visto que em 2022 só existiram 5 provas (10 dias de competição) exclusivamente para o escalão sub-23. Neste tema as opiniões de ambos divergiram um pouco. Sérgio considera que esta é “uma situação muito triste, uma vez que somos sub-23 e devíamos correr mais com o escalão e não sempre com os profissionais”, acrescentando que “assim não conseguimos evoluir muito”. Finaliza dando um exemplo: “Há 10 anos havia imensas corridas exclusivas para o escalão, o que dava outra competitividade”. Já Diogo olha para o lado positivo de correrem quase sempre com os profissionais: “Ao correr com os profissionais vamos adaptando-nos a um ritmo e andamentos diferentes”, sendo que o mais difícil de correr com os profissionais é o facto de “eles acelerarem em todo o lado e nós temos de acompanhar todas essas movimentações”, acrescentando que não é fácil “vir dos juniores e parar diretamente neste pelotão, já que começamos a ficar para trás e a levar muito tempo, não acabando as provas, por vezes”, algo muito difícil de digerir para os gémeos.
Data powered by FirstCycling.com
Data powered by FirstCycling.com
Os resultados dos gémeos ao longo do ano.
Fonte: FirstCycling
O melhor momento na jovem carreira
Nem tudo é negativo no contexto em que os gémeos competem e nesse espírito, desafiámo-los a elegerem o melhor momento das suas carreiras até ao momento, que foi consensual entre ambos: o Campeonato Nacional de Pista de 2020. Diogo conquistou a Corrida por Pontos: “Fui logo Campeão Nacional de Juniores no primeiro ano. Trabalhei muito, só fazia rolos para treinar para a prova, visto que tinha de conciliar os treinos com a escola”. Por sua vez, Sérgio foi o grande vencedor da prova de Eliminação: “Como o meu irmão disse nós só treinávamos nos rolos e um bocado ao fim de semana e ainda assim conseguimos chegar lá em boa forma e ganhar!”
São estes momentos que levam Diogo e Sérgio Saleiro a concluírem esta entrevista com a promessa de continuação o bom trabalho desenvolvido, mediante boas condições: “No próximo ano vamos trabalhar para estar melhor, no entanto temos de ver se teremos as condições necessárias para poder continuar na próxima temporada”. Connosco fica a curiosidade em relação aos frutos desse trabalho e sobretudo, um agradecimento especial a ambos.