Barry Miller, nome algo desconhecido para os fãs de ciclismo portugueses antes do início do mês de agosto, foi um dos grandes destaques da 83ª Volta a Portugal Continente. O ciclista norte-americano de 33 anos, que reside na Galiza, mostrou-se em grande nível nas chegadas em alto do Observatório de Vila Nova (6º) e da Senhora da Graça (9º), finalizando a geral da Grandíssima num honroso 16º lugar inserido na equipa da BAI – Sicasal – Petro de Luanda. Em entrevista à Portuguese Cycling Magazine, no final da 6ª etapa da Volta a Portugal (Águeda – Maia), o norte-americano conversou connosco para conhecermos um pouco mais da sua carreira até agora.
De referir que esta entrevista vem na sequência da nossa publicação antes do prólogo sobre o ciclista norte-americano, que pode ser vista abaixo.
O início no ciclismo e a primeira experiência na Europa
Barry começou por detalhar-nos o seu percurso no ciclismo: “Comecei a correr na pista como um ciclista júnior e sub-23, e corri aqui na Europa”, no entanto, a vinda para a Europa como ciclista de estrada foi algo curiosa: “A minha equipa americana foi correr à Suécia e ganhei uma corrida lá e isso levou a ser contratado por algumas equipas suecas”, disse-nos.
O ciclista norte-americano encontrou bastantes diferenças no ciclismo deste lado do Oceano Atlântico como fez questão de nos referir: “O ciclismo na Europa é muito mais agressivo com lutas por todas as posições e com estradas mais estreitas e sinuosas, precisas de muito mais habilidade técnica do que na América. É um verdadeiro desporto aqui na Europa.”
A experiência na Suécia viria a terminar no final de 2015, como nos referiu: “Estava muito feliz com a equipa onde estava inserido [Team Bliz – Merida], mas eles não me renovaram”, explicando-nos que a equipa estava em processo de mudança de patrocinador e não tinham espaço para um corredor norte-americano.

Foto: Valentin Baat
Decidiu, então, voltar ao seu país natal: “Acabei por receber uma boa oferta da Lupus Racing Team”, explicando-nos no que consistiu essa oferta: “[A equipa] era para ser um projeto muito ambicioso e eles deram-me um contrato de 2 anos”, no entanto, mais uma vez, o azar bateu-lhe à porta, visto que a equipa acabou por fechar portas no final do primeiro ano de contrato de Miller no final de 2016.
A travessia no deserto e uma nova experiência na Europa
Entre 2017 e 2019, Barry não teve a vida fácil dizendo-nos, mesmo, que foram anos perdidos na sua carreira, no entanto no início de 2020 voltaria à Europa para o projeto da Cambodia Cycling Academy: “Estava prestes a desistir da modalidade quando um dos meus antigos companheiros de equipa, um ciclista francês do tempo da Lupus Racing Team, me colocou em contacto com a Cambodia Cycling Academy. Acabei por assinar com a equipa em 2020, pouco antes da pandemia de COVID-19 se alastrar”, destacando a participação no Mont Ventoux Dénivelé Challenge, como uma das provas em que correu pela equipa do Camboja sediada em França.

Foto: Strava de Barry Miller
No entanto, uma vez mais, nem tudo foi um mar de rosas para Miller: “Voltei para correr na equipa em 2021 e foi aí que os verdadeiros problemas acabaram por acontecer”, referindo o escândalo que assolou o projeto: “A equipa tinha muito potencial, com um bom programa de corridas e acho que eles tinham boas intenções, mas que infelizmente terminou devido ao COVID-19 e às complicações que o diretor desportivo teve com alguns ciclistas que acabaram por dar azo a uma investigação por parte da UCI sobre queixas de bullying”, algo, que, felizmente Barry nunca presenciou no seio da equipa. Acabou por rescindir o contrato quando foi negado à equipa o estatuto de equipa Continental, em 2021, e foi em busca de outras opções na carreira.
A JAVA Kiwi Atlántico e o novo desafio na BAI – Sicasal – Petro de Luanda
Pouco depois de rescindir o contrato com a Cambodia Cyling Academy, o atleta norte-americano encetou negociações com a estrutura de licença venezuelana liderada por Enrique Salgueiro, que na altura se chamava Gios – Kiwi Atlántico, no entanto a equipa não o conseguiu contratar para o resto da temporada de 2021 como nos contou: “Não me puderam contratar em 2021, no entanto acabei por ir para a Espanha correr no pelotão amador durante o outono e fiz algumas corridas por lá”, naquilo que foi uma espécie de preparação para 2022, onde acabou efetivamente por assinar com a JAVA Kiwi Atlántico.
Barry, ao início, estava confiante com a escolha que fizera para a sua carreira como nos confidenciou: “Sinto que fiz bem o meu trabalho de casa em relação à equipa, já que a equipa existe há alguns anos e tinham um programa de corridas muito bom e eu disse a mim mesmo: ‘OK, esta é uma equipa pequena, mas com este programa de corridas posso fazer alguns bons resultados’”, no entanto o tempo viria a trazer 2 grandes problemas a Miller: o equipamento usado pela equipa e a falta de melhor calendário de corridas. Barry passou a explicar-nos as suas grandes preocupações: “Tive grandes problemas com o equipamento ao ponto de me sentir preocupado com a minha própria segurança e, além disso, sentir que não seria competitivo, e, também, o programa de corridas simplesmente não estava a acontecer, a equipa não estava a receber convites para as provas como os que recebiam no passado”, sendo estas as duas razões para sair da equipa a meio da temporada.
Encontrou uma nova casa na estrutura angolana de Carlos de Araújo, conforme nos referiu: “O agente Juan Campos ajudou-me em tudo, ele tem muitos contactos em Portugal. Portugal é um bom destino para mim, porque a idade aqui não é muito relevante”, ele que esperava ter mudado de equipa mais cedo, visto que tinha planeado correr o GP Torres Vedras – Troféu Joaquim Agostinho. Finalizando a entrevista com um “felizmente pude vir correr a Volta a Portugal, e estou bastante feliz com isso!”, ele que acabaria por ser um dos protagonistas da Volta e dar-se a conhecer ao ciclismo português com as suas sólidas exibições nas subidas da prova.

Foto: João Fonseca (UVP – FPC)
Depois de uma prestação tão boa na Volta a Portugal será interessante saber onde irá correr o ciclista norte-americano no futuro. Miller mostrou-se capaz de estar à altura dos acontecimentos em relação aos melhores trepadores em Portugal e mostrou que tem muito a dar em equipas estrangeiras ou portuguesas. Será que a prestação na Volta a Portugal lhe irá abrir outro tipo de portas?