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“Para mim é melhor quando a corrida é dura” – Entrevista com Stefan Küng

O ciclista suíço da Groupama – FDJ sobre as clássicas preferidas, o equilíbrio com os contrarrelógios e como lida com os azares.

Stefan Küng tem 30 anos e é a principal arma da Groupama-FDJ para voltar a ganhar um ‘monumento’ do ciclismo – já não o faz desde 2018, quando Thibaut Pinot ganhou a Il Lombardia. O suíço não tem estado longe de o conseguir, visto que nas últimas duas temporadas, nunca terminou o Tour de Flandres e o Paris-Roubaix abaixo do 6º lugar. Em 2024, apesar de um arranque de temporada com menos rugido, ‘King Küng’ acaba de ser 3º lugar na Dwars door Vlanderen, provando mais uma vez que, caso a oportunidade surja, ele estará pronto para dominar as estradas belgas e francesas.

Na antecâmara dos dois monumentos do empedrado, a Portuguese Cycling Magazine esteve à conversa com Stefan Küng, um dos principais outsiders na luta pela vitória nestas corridas.

English Version: “For me it’s better when the race opens up early” – Exclusive interview with Stefan Küng

Foto: Heinz Zwicky/Getty Images

Desde 2018, só por uma vez não correste a Volta ao Algarve. O que há de especial em Portugal para escolheres abrir aqui a temporada?

Gosto muito desta corrida como preparação. Tem uma boa combinação de etapas, um contrarrelógio e dois dias duros. Mesmo as etapas de sprint não são totalmente fáceis. O clima é bom, as pessoas são simpáticas, gosto muito de estar lá. Também tem funcionado muito bem para mim, porque, mesmo não sendo uma corrida World Tour, o nível é quase o mesmo. É uma corrida perfeita para iniciar a temporada.

Ao longo da temporada, tens grandes objetivos nas clássicas e no contrarrelógio. Como equilibras a preparação para cada especialidade?

A primeira parte da temporada é muito focada nas clássicas, depois de Roubaix foco-me mais no contrarrelógio. Funciona bastante bem. Com os grandes objetivos no contrarrelógio este ano a aparecer no verão e no outono, tenho tempo suficiente para trabalhar nisso. De qualquer forma, já trabalho durante o inverno. Nunca paro completamente de treinar contrarrelógio, mas na primeira parte da época o foco é manter e, depois, volto a fazer trabalho mais específico.

Nas últimas temporadas, estiveste várias vezes perto da vitória nas clássicas do empedrado, tanto em corridas muito atacadas, como em corridas mais calmas. Qual é o cenário perfeito para venceres?

Para mim é melhor quando a corrida é dura, quando se abre desde cedo. Sou muito bom nestas corridas, mas não sou o ciclista mais explosivo e, se a decisão da corrida se resumir a apenas uma subida, vou sempre ter mais dificuldades do que se for uma corrida mais desgastante ao longo de todo o dia.

Foto: Groupama – FDJ

És um dos grandes ciclistas de clássicas atrás de Mathieu van der Poel, Tadej Pogačar e Wout van Aert. Como é que a presença desses ciclistas influencia as corridas?

Eu diria que eles estão um nível acima do resto de nós. Obviamente é difícil batê-los, mas não se vai para a partida de uma corrida a pensar, ‘Oh, eles estão aqui, é impossível ganhar’. É apenas mais uma chance e nunca se sabe o que vai acontecer. Se no final estás com eles, então tentas batê-los, mas não é fácil.

O que seria para ti a temporada de clássicas perfeita?

Por acaso estive a pensar nisso há uns dias no treino. Se preferia uma vitória, mesmo que numa clássica mais pequena, ou estar sempre na luta. Acho que quando se pode ganhar uma corrida, seja qual for, é uma coisa importante, mas claro que gostava de estar no pódio novamente, como em 2022 [foi 3º no Paris-Roubaix]. Quando estás a lutar pelo pódio, também estás na luta pela vitória, o que é uma boa situação.

Ao longo dos anos tens tido alguns azares que te têm impedido de alcançar objetivos importantes. Como é que lidas com essas situações?

Faz parte do ciclismo. O nosso desporto tem um certo risco e às vezes tudo se resume a algumas frações de segundo. Não podemos olhar para o passado à procura do que mudar, devemos olhar para o futuro e para o que podemos fazer para alcançar os objetivos. É isso que estou a fazer.

A Groupama – FDJ é uma das equipas com mais talento jovem no pelotão. Como é para ti correr com ciclistas como o Laurence Pithie? Sentes alguma responsabilidade de assumir o papel de “mentor”?

Eu tento dar-lhes conselhos, mas não posso forçá-los a nada. Estou sempre aberto se tiverem perguntas, fico feliz por responder e ajudá-los. Consegue-se sentir que alguns estão mais à procura desses conselhos e outros fazem as coisas à sua maneira. Acho que é bom ter rapazes jovens e talentosos no grupo, porque dão uma atmosfera nova à equipa. Às vezes tento contar-lhes algumas histórias da minha carreira para que não cometam os mesmos erros que eu cometi, mas há alguns erros que cada um tem de fazer para aprender mesmo.

Agradecemos a Stefan Küng e à Groupama – FDJ a disponibilidade para nos conceder esta entrevista e desejamos-lhes boa sorte nos próximos desafios!

Foto de capa: Getty Images

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