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Oliver Rees, uma visão refrescante do ciclismo em Portugal

Depois de várias renovações e novas adições ao seu plantel, Oliver Rees é um dos mais recentes recrutas da equipa de ciclismo Sabgal /Anicolor, equipa continental portuguesa da UCI. Nascido no Reino Unido (UK), o ciclista de 22 anos fez recentemente uma mudança significativa da Trinity Racing, para se juntar às “fileiras” da Sabgal/Anicolor.


Em 2024, Oliver Rees já correu pela Sabgal / Anicolor Professional Cycling Team na Clássica Comunitat Valenciana 1969 – Gran Premi Valéncia, prova de 1.1, onde terminou no 54º lugar com o tempo de 04h35m42s, o mesmo tempo do vencedor, Dylan Groenewegen (Team Jayco AlUla). Portugal é familiar para o ciclista britânico, já que participou na Volta a Portugal em 2022, alcançando o pódio em duas etapas. Além disso, em 2023, competiu na Volta ao Alentejo, onde vestiu a camisola de líder da Juventude.

Oliver Rees partilha as suas experiências a correr em Portugal, reflectindo sobre os diversos percursos, paisagens e competições que moldaram a sua abordagem ao desporto em Portugal. O seu percurso nas estradas portuguesas oferece aos entusiastas do ciclismo a oportunidade de compreenderem as complexidades cas corridas em Portugal para um ciclista estrangeiro.

Em Portugal temos um ditado: ” A relva do vizinho é sempre mais verde que a minha”, e no que toca ao ciclismo, qualquer português consegue exprimir algum desagrado com a figura do ciclismo nacional. Oliver Rees, nesta entrevista, oferece uma abordagem diferente, quase refrescante, sobre o ciclismo nacional comparativamente à realidade vivida no Reino Unido. Nesta conversa, aprofundamos as nuances do ciclismo no Reino Unido para o panorama do ciclismo em Portugal. O ciclista partilha a sua perspetiva sobre as diferenças que encontrou, tanto na estrada como fora dela, ao participar nas corridas portuguesas pela Trinity Racing.

Além disso, Oliver partilhou algumas das suas razões por detrás da sua decisão de se juntar à Sabgal/Anicolor, uma mudança que marca, sem dúvida, um capítulo emocionante na sua carreira de ciclista, como afirma. Da dinâmica da equipa aos objectivos pessoais, exploramos as motivações que levaram Oliver à equipa portuguesa e as suas aspirações para o futuro.


Junte-se a nós enquanto desvendamos a história por detrás da integração de Oliver Rees no panorama do ciclismo português, descubra os desafios da transição entre culturas, enquanto conhece as histórias deste promissor ciclista britânico que está a dar que falar em Portugal.


O novo desafio

Oliver Rees fala mais detalhadamente sobre as diferenças entre pedalar em Portugal e noutros países, mencionando nomeadamente a Bélgica, onde garantiu o 9º lugar na Liege – Bastogne – Liege sub-23 volvido a 2022, mostrando a sua forma física, capacidade e habilidade em comparação com os ciclistas sub-23 a nível internacional. O ciclista destacou a caraterística única de Portugal, que ele curiosamente refere como uma forma de “seleção natural” no pelotão.

Como é que as corridas em Portugal se comparam às corridas no Reino Unido e noutros países onde já estiveste?

Oliver Rees: “Fiz várias corridas em França e na Bélgica e acho que essas corridas são muito mais stressantes do que em Portugal. Penso que o terreno (percurso) em Portugal seleciona naturalmente o vencedor, porque há muitas vezes subidas desafiantes, enquanto na Bélgica e na França, é mais a iniciativa dos ciclistas que determina quem vai ser o vencedor. Por isso, acho que é menos stressante, o que é uma das razões pelas quais tenho gostado tanto de correr em Portugal nos últimos anos.”

Depois de ter participado na Volta a Portugal, Rees nota o notável contraste de apoio e entusiasmo do público entre Portugal e o Reino Unido. De acordo com o ciclista, o Reino Unido está a passar por dificuldades no mundo do ciclismo, dificuldades para reunir um amplo apoio para as corridas, enquanto Portugal está a prosperar.

Quais são as principais diferenças entre o ciclismo em Portugal e o ciclismo no Reino Unido, na perspetiva de um ciclista?

Oliver Rees: “Oh, são enormes. A primeira vez que corri em Portugal foi quando vim para a Volta a Portugal e não me apercebi da dimensão da corrida até lá chegar. As multidões eram enormes todos os dias, parece uma corrida tão grande com muita história e é tão bem apoiada em Portugal. É algo que não acontece no Reino Unido; neste momento, o ciclismo está a lutar muito para conseguir apoio suficiente para as corridas, e parece que em Portugal há tantas corridas ao longo da época e é algo muito bom, parece que o ciclismo está a prosperar”.

O ciclista considerou que o ambiente próspero do ciclismo e os apoios em Portugal foram uma das principais razões, mas não a única, que influenciaram a sua decisão de fazer a transição e procurar novas oportunidades em Portugal, mesmo que ainda esteja numa equipa Continental.

Quais foram as razões que te levaram a mudar da Trinity Racing, uma equipa continental, para a Sabgal-Anicolor, outra equipa continental, mas em Portugal?

Oliver Rees: “O ambiente do ciclismo português foi uma das principais razões. A Sabgal/Anicolor parece ser uma equipa muito segura, o que me agrada. Parece uma família e toda a gente é próxima, pelo que os vi nos últimos dois anos e parece que têm um ambiente muito bom nas corridas, o que, espero, significará que poderei tirar o melhor partido de mim próprio. Espero fazer algumas grandes corridas este ano, outra oportunidade de me testar contra ciclistas profissionais e ciclistas do circuito mundial, o que me deixa ansioso.”

A discussão desenvolve-se com a questão de saber se a mudança para uma equipa portuguesa foi uma escolha premeditada ou uma oportunidade inesperada. O ciclista esclarece a cronologia, revelando uma ligação estabelecida durante a Volta a Portugal em 2022 com Rubén Pereira, Diretor Desportivo da Sabgal/Anicolor, e discussões subsequentes durante a Volta ao Alentejo em 2023. À medida que se aproximava o último ano do ciclista com a Trinity, a equipa portuguesa apresentou um projeto entusiasmante, o que levou a uma decisão positiva.

Oliver Rees: “Sabia que ia deixar a Trinity no final deste ano porque era o meu último ano como sub-23. Falei pela primeira vez com o Ruben na Volta a Portugal em 2022. Depois voltei a encontrá-lo quando estive no Alentejo, falámos um pouco e depois chegou o final da época e eles disseram-me que gostariam de me ver correr e apresentaram-me o projeto. Pareceu-me muito entusiasmante, por isso estou contente por o ter escolhido”.

Correr em Portugal

Oliver Rees fez a sua estreia em Portugal em 2022, na Volta a Portugal, e não podia ter sido melhor. Ficou em terceiro lugar no prólogo e em segundo lugar na primeira etapa, com uma chegada ao sprint em Elvas. Não se ficou por aqui e conseguiu também dois Top-10, mesmo com a sua equipa reduzida a dois ciclistas devido a problemas de saúde. Em 2023, regressou a Portugal para correr na Clássica da Arrábida, juntando mais um Top 10 às suas corridas em Portugal. Como já foi referido, correu também na Volta ao Alentejo, onde vestiu a camisola de líder da Juventude, terminando em 3º lugar da geral nessa classificação.

O ciclista britânico partilhou os momentos mais memoráveis das suas corridas em Portugal, falou das principais dificuldades encontradas e fez uma avaliação global dos resultados alcançados. Esta análise introspectiva oferece uma visão da perspetiva do ciclista sobre as adversidades e os triunfos que definiram o seu percurso em Portugal nos últimos dois anos.

A Volta a Portugal em 2022 não foi fácil para a Trinity Racing, mas conseguiste bons resultados. Quais são as tuas melhores recordações dessa corrida, as principais dificuldades e o que pensas do teu resultado global?

Oliver Rees: “Sim, acho que tivemos apenas dois atletas durante a maior parte da corrida. Depois da terceira etapa, tivemos dois colegas no hospital durante a noite porque estavam ambos gravemente doentes, o que foi um pouco assustador. Gostei da corrida; tive a sorte de ter boas pernas durante a maior parte da corrida e de as poder utilizar bem nos contra-relógios e nas etapas mais rápidas. Fiquei contente porque consegui alguns Top-3s e mais alguns Top-10 ao longo da corrida. Foi uma boa experiência para mim, porque tive a oportunidade de correr durante 10 dias. Uma experiências que permitiu melhorar física e mentalmente, foi muito boa.”

Instagram: Volta a Portugal, Passagem por Mondim de Basto, 9 etapa, 2022

Oliver Rees:” Gostei do público e da dimensão da corrida, porque, por vezes, quando participamos em algumas corridas de sub-23, não há muitas pessoas a assistir, mas esta pareceu-me uma corrida muito grande. Lembro-me da penúltima etapa (Mondim de Basto – Senhora da Graça), quando terminava numa subida e passava pela cidade no final, havia uma das maiores multidões que já tinha visto, foi muito fixe.”

Para alguém que se estreou na Volta a Portugal, a maior corrida em Portugal e com maior cobertura mediática, regressar em 2023 para a Clássica da Arrábida e Volta ao Alentejo poderia ter trazido uma nova perspetiva do ciclismo nacional. No entanto, o ciclista mantém o seu sentimento em relação às corridas em Portugal e declara o seu desejo de alcançar a vitória com as cores da Sabgal/Anicolor numa destas provas.

Em 2023, tiveste a oportunidade de voltar a correr em Portugal, na Volta ao Alentejo e na Clássica da Arrábida. O que pensas destas corridas?

Oliver Rees:” Penso que estas corridas são as que mais se adequam a mim, por isso estou ansioso por voltar a estas corridas este ano com a Sabgal/Anicolor e tentar ganhar estas corridas. O percurso com as subidas mais curtas, selecionam o grupo mas não são muito selectivas, são as que me agradam, gostei da Arrábida com a secção de gravilha, foi muito divertido. Para a Volta ao Alentejo tínhamos uma boa equipa com a Trinity Racing, por isso tivemos uma viagem bastante bem sucedida com o Luke Lamperti na etapa 1 (vencedor em Ourique), e o Max Walker em 6º lugar na geral, foi muito bom para a equipa.”

Os portugueses crescem a ver a subida ao Alto da Torre na RTP1 todos os anos durante a Volta a Portugal. Os ciclistas portugueses já conhecem bem esta mítica subida, pois treinam nela frequentemente. Para Oliver Rees, esta subida destaca-se na sua memória dos dois anos em que correu em Portugal. De acordo com o ciclista, o Alto da Torre representa um desafio físico e mental extremo.

Relativamente às corridas em Portugal, qual a etapa ou corrida que mais te marcou?

Oliver Rees:” Bem, acho que a terceira etapa da Volta a Portugal do ano passado, a que subiu aquela longa subida (Alto da Torre – Serra da Estrela), porque foi difícil, aquela subida parecia não ter fim e foi preciso muita força mental para lá chegar, foi um dia horrível em cima da bicicleta, um dos dias mais difíceis em cima da bicicleta que já tive, mas foi bom para mostrar como é realmente o ciclismo.”

Sabgal/ Anicolor e o Futuro

A equipa, com sede em Águeda, anunciou o ciclista, considerando-o uma das referências da sua geração e uma das apostas mais fortes da equipa. Falámos com Rees sobre os seus objectivos para a época de 2024 e também sobre as suas metas futuras.

Quais são os teus objectivos para 2024 com a Sabgal/Anicolor?

Oliver Rees: “Quero continuar a progressão que tenho vindo a fazer nos últimos anos e transformar esses top 10 e top 5 em vitórias. Por isso, como disse, vejo-me capaz de ganhar essas corridas selectivas que são bastante difíceis, mas que talvez se resumam a um sprint de grupo reduzido, gostaria de me tornar um vencedor, especialmente na primeira metade da época, e depois, na segunda metade da época, tentar ajudar os rapazes com alguns dos seus grandes objectivos em corridas como a Volta a Portugal.”

Vês- te a correr em Portugal durante alguns anos ou tencionas tentar dar um salto para outro país? Qual é o teu principal objetivo?

Oliver Rees: “Ainda não pensei muito no futuro, gosto de ver onde a época me leva. O principal objetivo é ser o melhor possível e, depois disso, veremos onde isso me leva. Obviamente, no final da minha carreira, quero estar ao mais alto nível, mas ainda não tenho a certeza de quando é que isso vai acontecer.”

O plantel da Sabgal/Anicolor será composto por 14 ciclistas, incluindo nomes estrangeiros e antigos corredores do World Tour, André Carvalho e Antwan Tolhoek, que passaram pela Cofidis Team e pela Lidl-Trek, respetivamente. A revelação da equipa foi e continua a ser o centro das atenções. A equipa apresenta um plantel forte e com grandes ambições, não apenas do ponto de vista nacional. Rees, com apenas 22 anos, vai alinhar numa equipa cheia de experiência. O corredor está concentrado na aprendizagem e no crescimento, destacando o papel de mentor desempenhado pelos seus colegas mais experientes.

Quais são as vantagens de ter uma equipa forte com experiência no World Tour?

Oliver Rees: “No ano passado, na Trinity, eu era o mais velho da equipa e era talvez o ciclista mais experiente a ajudar alguns dos mais jovens. Agora sou um dos mais novos da equipa, o que me agrada porque os mais velhos têm muito mais experiência e podem ensinar-me muitas coisas. Quando me encontrei com os meus colegas no estágio, eles estavam a ajudar-me e acho que gosto de aprender com os ciclistas que têm mais experiência do que eu. Há muitos colegas, como o Antwan e o André, que têm experiência no World Tour, mas também há ciclistas portugueses, como o Luís, o Rafael e o Frederico, que já andam por cá há muito tempo e sabem o que estão a fazer, por isso estou entusiasmado por aprender com eles.”

Ao concluirmos esta entrevista com Oliver Rees, torna-se evidente que o seu percurso no ciclismo profissional é marcado pela adaptabilidade e pela paixão pela modalidade, proporcionando uma visão refrescante do ciclismo português através dos olhos de um ciclista estrangeiro. Desde os desafios da Volta a Portugal até à transição de mentor na Trinity para aprendiz na Sabgal/Anicolor, as reflexões de Rees oferecem um vislumbre da paisagem em evolução da sua carreira e das suas esperanças para 2024 em solo português.

Oliver Rees, a fresh vision of cycling in Portugal – English Version

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