A História de Tiago Machado na Volta a Portugal começa no dia 5 de agosto de 2005. Aos 19 anos, o jovem “Tiaguinho”, representando a equipa da Carvalhelos-Boavista, e tendo como colegas ciclistas como Joaquim Sampaio, Pedro Soeiro, ou mesmo Alejandro Marque (que este ano também se despede das estradas), daria as primeiras pedaladas na “Grandíssima”. Os primeiros 162,7 km foram percorridos numa etapa que fazia a ligação entre Oeiras e Lisboa, sob um sol tórrido (rezam as crónicas que os termómetros atingiram os 40°C nesse dia), e Tiago não se saiu nada mal, chegando integrado no pelotão, a 2:36 minutos de Fidel Jeobani Chacón, o vencedor surpresa da 1ª etapa dessa edição da Volta, após uma longa fuga.
Desde esse dia, Tiago Machado percorreu 12741,5 km na Volta, distribuídos por nove presenças na prova mais mediática do ciclismo nacional. Os últimos 18,6 km iriam ser percorridos no contra-relógio individual da 10ª e última etapa da 83ª edição da Volta a Portugal. E foi nesse dia que a Portuguese Cycling Magazine falou com o ciclista famalicense.
Encontramo-lo num período de descontração no autocarro da sua equipa (aquela com a qual também iniciou a sua carreira na Volta, a Rádio Popular – Paredes – Boavista) momentos antes do início do seu aquecimento, mas prontamente acedeu ao nosso pedido de entrevista. Obviamente, o tema dominante seriam aqueles 18,6 km que separavam o Porto e a sua despedida da Volta. Inicialmente, foi crítico do traçado técnico e algo perigoso do contra-relógio (críticas essas transversais à generalidade do pelotão da Volta), que Tiago apelidou de gincana, e que prejudicaria aqueles ciclistas menos técnicos, mas potentes, “mas é o que há, é igual para todos, e é desfrutar destes últimos 18,6 km da Volta a Portugal. Foram nove edições em que desfrutei muito e espero completar também da mesma forma.” Quanto ao balanço que fez desta edição da “Grandíssima”, marcada por algumas quedas, o ciclista axadrezado lamentou o azar que pairou sobre ele, pois “cair em véspera de etapas decisivas, como a Torre e a Srª da Graça, não é sorte certamente, mas não ia mudar em nada a minha classificação, como é lógico. Mas se calhar podia ser um pouco mais útil ao Luís (Fernandes), porque ontem (etapa da Srª da Graça) infelizmente ele ficou muito cedo sozinho, isolado. Se eu estivesse ao nível que esperava, se calhar estava com o Hugo (Nunes) e os dois conseguiríamos recolar ao Luís para ele de certa forma se sentir acompanhado e talvez a cabeça trabalhasse de uma forma diferente.”.
Quanto ao futuro, e abordando a sua continuidade em competição noutras vertentes, nomeadamente as mais recentes aventuras no ciclocrosse e BTT, Tiago Machado referiu que “isso é para manter, não vai interferir em nada porque até ao final do ano sou ciclista da Rádio Popular – Paredes – Boavista e vou continuar a fazer o que sempre fiz que é desfrutar da bicicleta. Se na altura é o ciclocrosse que há, é o ciclocrosse que vou fazer, e para o ano logo se vê se dá para mais algumas aventuras, quer no BTT, quer no ciclocrosse.”. Além da vertente competitiva, e sendo já publico o papel que Tiago Machado irá desempenhar na Academia Efapel já a partir do próximo ano, o ciclista minhoto afirma que “uma das coisas que eu gosto é trabalhar com a formação e gostava daqui a uns anos ser diretor de uma equipa na Volta a Portugal. Para isso, tenho que começar a ganhar experiência, e para ganhar experiência é com os mais novos, porque não se começa a construir uma casa pelo telhado, mas pelos alicerces, e é assim que tem que ser.”
Tiago Machado terminou a última etapa da sua carreira na Volta a Portugal na 37ª posição, mas foi dos ciclistas mais aclamados e requisitados quer durante o percurso, quer na marginal de Gaia, após terminar a sua prova. Isto atesta bem o carinho que o público português sente por ele, talvez pela forma aguerrida, destemida e atacante com que sempre nos brindou em cima da bicicleta. Talvez pelas prestações honrosas que conseguiu na Volta com tenra idade ainda, vencendo por duas vezes a classificação de melhor jovem (quem não se lembra de o ver com a camisola laranja a subir a Srª da Graça ou a Torre?) nas edições de 2007 e 2009 (ano em que conseguiu a melhor classificação geral de sempre na Volta a Portugal, 5º lugar). Certo é que Tiago Machado entrou para o Hall of Fame do ciclismo português, quer pelo que fez nas estradas portuguesas, quer pelas exibições que nos encheram de orgulho nos maiores palcos do mundo. E essa é, talvez, a maior vitória da sua carreira.
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