Tem 25 anos, veio do Algarve e foi o mais recente ciclista a juntar o seu nome ao de outros grandes vencedores da Volta a Portugal. João Rodrigues, da W52-FC Porto, continuou com a hegemonia da sua equipa e recuperou o cetro português da prova após duas vitórias de Raul Alarcón – Rui Vinhas tinha sido o último português a conquistar a prova nacional (todos eles da equipa nortenha).
O vencedor da Volta a Portugal 2019 deu-nos a conhecer aspetos do passado, pormenores do presente e curiosidades sobre o futuro nesta entrevista que podem ler abaixo:
Portuguese Cycling Magazine (PCM): O tema mais em foco, nos últimos tempos, para as perguntas que lhe fazem tem sido, como seria de esperar, a Volta a Portugal. Quer destacar quais os momentos mais decisivos para a conquista?
João Rodrigues (JR): Um dos momentos-chave foi sempre mantermos o grupo bastante unido e sem nunca perdermos o foco no nosso principal objetivo, que era vencer a Volta a Portugal. Taticamente também houve muita precisão e, claro, a nossa condição física foi igualmente determinante, porque, no último dia, com um contrarrelógio individual, já não é quem é especialista que vence mas sim o que estiver em melhor condição física.
PCM: Qual foi a altura chave, nesta Volta a Portugal 2019, em que realmente percebeu que “posso vencer esta Volta”?
JR: Sem dúvida que foi na chegada ao Larouco, visto que no dia anterior tinha ficado envolvido numa queda que me deixou algumas mazelas e, no dia seguinte à queda, ter conseguido salvar o dia foi bastante importante para mim – esse dia seria o pior devido à tal queda no dia anterior. Além disso, seria a etapa mais provável para os adversários me atacarem, devido à minha condição.
PCM: Onde é que acha que a W52-FC Porto acaba por se diferenciar mais das outras equipas?
JR: Sem sombra de dúvidas, é claramente na nossa união.
PCM: Se tivesse que apontar um “ciclista mais combativo” dessa Volta a Portugal, qual seria?
JR: Ricardo Mestre. É mesmo um ciclista incansável e que dá tudo o que tem e o que não tem em prol da equipa. Também poderia meter o Daniel Mestre, pois acabou a Volta a Portugal com uma costela partida.
PCM: Foi uma incrível luta até ao fim com Joni Brandão. Quer partilhar connosco aquilo que teve oportunidade de lhe dizer após o desfecho da última etapa?
JR: Dei-lhe os parabéns pela excelente Volta a Portugal que fez e disse-lhe que qualquer um de nós os dois teria sido um justo vencedor.
PCM: Como descreve a chegada à Avenida dos Aliados?
JR: É impossível descrever por palavras aquela chegada à Avenida dos Aliados. Vivi momentos incríveis que irei recordar para o resto da minha vida…foi lindo!
PCM: Tendo em conta que nasceu em Tavira, o que tem a dizer sobre uma das suas equipas rivais, o Sporting-Tavira?
JR: A equipa Sporting-Tavira foi a minha equipa de formação, não com este nome, mas a estrutura é a mesma, sendo que muito mudou desde que saí do Tavira. Na altura, a equipa tinha formação e apostava na formação, e tive esse privilégio de subir para a equipa profissional, mas infelizmente acabou a formação, algo que era impensável até há uns anos atrás.
PCM: Quão importante foi o Clube de Ciclismo de Tavira para a sua carreira?
JR: Foi a minha equipa de formação e, logo aí, serei eternamente grato a todos aqueles que me formaram, principalmente porque tive sempre a sorte de ter boas pessoas do meu lado e que me ajudaram.
PCM: Sabemos que fez uma pausa no ciclismo e acabou por se dedicar ao futebol. Quer contar-nos o porquê de isso ter acontecido e um pouco da sua (curta) história no futebol?
JR: Sim, posso contar de forma breve. Eu iniciei no ciclismo com 9 anos mas pouco durou essa aventura, visto que a minha paixão era mesmo o futebol e foi para aí que me virei nessa altura, entretanto os anos iam passado e o sucesso no futebol não era muito, por isso, voltei para o ciclismo e cá continuo.
PCM: Como descreve o seu percurso profissional, desde o Banco BIC – Carmim até aos dias de hoje, na W52-FC Porto?
JR: O meu crescimento foi sempre crescente, todos os anos era notória a minha evolução, e foi determinante a ajuda dos ciclistas mais experientes nesta minha evolução até aos dias de hoje.
PCM: Quais foram os pontos-chave da sua vitória na Volta ao Alentejo e da sua muito boa prestação na Volta ao Algarve?
JR: O meu início de ano foi bastante duro. Eu e o Nuno Ribeiro já tínhamos delineado o meu início de época no final da época passada: entrar bastante bem de início para poder ter a minha oportunidade na Volta ao Algarve e na Volta ao Alentejo. Ainda assim, para isso acontecer tive que começar a preparar a época bastante cedo com um estágio fora do país.
PCM: Depois de vencer a Volta a Portugal, a Volta ao Alentejo e estar em excelente plano na Volta ao Algarve e na Clássica da Arrábida, por exemplo, quais são os objetivos que faltam alcançar nas corridas portuguesas?
JR: Ainda faltam muitos, como por exemplo: ganhar um troféu Joaquim Agostinho, uma etapa ou mesmo a geral da Volta ao Algarve e, também, ser Campeão Nacional.
PCM: Quais são as opções que existem em cima da mesa para o futuro no ciclismo? Tem propostas nacionais, internacionais…?
JR: Neste momento, ainda não sei o meu futuro. É verdade que tenho propostas e todas elas do estrangeiro, mas até ao momento não tenho nada assinado e, até dia 31 de dezembro, serei ciclista da W52-FCPorto.*
* Entretanto, o ciclista já renovou por mais uma época com a equipa.
PCM: Quer deixar algumas palavras para todos os jovens que estão a tentar progredir nesta modalidade?
JR: O mais importante quando ainda estamos na nossa formação é desfrutarmos o máximo possível, não ficarmos obcecados pelos resultados nem pelos treinos…tudo a seu tempo. Corri com muitos ciclistas na minha formação e muitos deles eram melhores que eu e, neste momento, eu cá ando e eles acabaram por abandonar. Sabem porquê? Porque já na altura faziam vida de profissionais, só queriam treinar, eram vidrados no ciclismo e não aproveitaram a juventude; quando passaram a sub-23, o nível aumentou, deixaram de ganhar e começaram a ficar desmotivados, acabando mesmo por abandonar.
PCM: Quais são os seus maiores sonhos dentro do mundo do ciclismo e fora dele?
JR: No ciclismo, é correr no World Tour e ser Campeão Nacional, sem dúvida. Fora do ciclismo basta ter saúde e uma vida estável.
PCM: Maior ciclista da atualidade e qual mais admira?
JR: Para mim, na atualidade, são dois: Peter Sagan e Alejandro Valverde. O ciclista que mais admiro é o Thomas De Gendt.
PCM: Voltando brevemente ao futebol, para si, quem é o melhor jogador do mundo na atualidade e porquê?
JR: Cristiano Ronaldo, claro. Ele é o maior exemplo de que com trabalho tudo é possível. É impressionante tudo aquilo que ele já conquistou, sendo que continua sempre a querer mais e mais.
PCM: Se tivesse que escolher qualquer desportista, sem ser do mundo do ciclismo, para se juntar à sua equipa, qual escolheria e porquê?
JR: Escolheria novamente o Cristiano Ronaldo. Ele é o melhor desportista da atualidade e seria excelente tê-lo na minha equipa, principalmente pela sua liderança, foco no trabalho, profissionalismo, humildade e o seu poderio físico.
PCM: O que diz a sua bicicleta?
JR: Podemos dizer que ela diz: “Juntos somos mais fortes”.
Foto de Capa: Portuguese Cycling Magazine/José Baptista