E foi o Monte Lussari a colocar os pontos nos i’s. Muitos vaticinaram o carácter decisivo da penúltima etapa da Corsa Rosa, e os 59 segundos que separavam o camisola rosa Geraint Thomas (INEOS Grenadiers) do 3º classificado, João Almeida (UAE Team Emirates) à entrada desta cronoescalada exacerbaram ainda mais uma batalha que prometia ser travada até ao último metro de estrada. Para nós, portugueses, este foi ainda um dos dias mais marcantes para toda uma geração de fãs de ciclismo, que nunca tinham experienciado este tipo de sentimento: um português, nos pedais do enorme João Almeida, na luta pela geral de uma Grande Volta.
Mas entre a rampa de lançamento e a virtual decisão da prova, os ciclistas tinham pela frente um Adamastor, a subida que condicionou largamente estas três semanas de Volta a Itália: o Monte Lussari, 7,3 quilómetros a 12,1% de inclinação média!
Os cerca de 10 quilómetros planos que antecederam o início da escalada foram pautados por enorme equilíbrio entre os três primeiros da geral. Na passagem no primeiro ponto de cronometragem, Primož Roglič (Jumbo-Visma) foi o melhor dos 125 ciclistas por ali passaram, no entanto, a diferença para Thomas (2º) e Almeida (3º) era de apenas 2s e 4s, respetivamente. Após este ponto, começava a remontada.
Numa subida pintada com as cores da Eslovénia, Roglič ganhou asas. À passagem pelo segundo ponto cronometrado, já em plena subida, Almeida colocava o seu nome no topo dos registos, ex aequo com Damiano Caruso (Bahrain – Victorious) e Sepp Kuss (Jumbo – Visma), mas atrás de si viria um esloveno endiabrado, que baixou em cerca de meio minuto os tempos destes três. Logo a seguir, seria Thomas a cruzar este ponto intermédio, e os 16 segundos que perdia para Roglič eram indicativos daquilo que viria a concretizar-se minutos depois.
Mas nem tudo correu sobre rodas para o ciclista da Jumbo – Visma, já que a poucos quilómetros da meta, e na passagem por uma zona mais irregular do pavimento, a corrente da sua bicicleta saltou, o que fez com que perdesse segundos (à altura) preciosos.
Sem registos comparativos, parecia que as coisas se tinham complicado para Roglič, mas as dúvidas foram, finalmente, desfeitas no último ponto intermédio. Ali marcou o melhor tempo do dia, e viria também a ser o número um na chegada, batendo Caruso e Almeida, que registaram consecutivamente o melhor tempo. Faltava só esperar pela chegada de Thomas. A aproximação do maglia rosa às rampas finais do Lussari confirmaram a vitória de Roglič na etapa, e, virtualmente, na Volta a Itália. O britânico despendeu mais 40 segundos do que o esloveno a cumprir o percurso traçado para o dia de hoje, 14 segundos mais do que deveria para manter a liderança da corrida. João Almeida fecharia o dia na terceira posição, a 42 segundos do vencedor.
Assim, e apenas com a etapa de consagração de amanhã por concluir, Primož Roglič carimba virtualmente a vitória na edição 106 da Volta a Itália, com 14 segundos de vantagem sobre Thomas e 1:15 minutos sobre o nosso João Almeida.
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