Depois de uns dias loucos de ciclocrosse, o espetáculo parou por um dia, para voltar em força na última corrida do ano, no Exact Cross de Loenhout, também conhecido como Azencross. A fasquia estava elevada, depois das corridas de Heusden-Zolder e de Diegem, e prometia não baixar nem um centímetro, naquele que seria o último encontro dos Big 3 no ano de 2022.
E o palco de hoje era garantia de entretenimento: um traçado completamente plano e rápido, devido sobretudo às longas retas que compõe grande parte do percurso e que permitem elevar a velocidade da corrida, combinado com algumas zonas onde a técnica dos ciclistas é posta à prova, nomeadamente pequenas inclinações, algumas pontes e secções de curvas apertadas. Mas o troço mais icónico do Azencross é a het wasbord, um conjunto de dez pequenas lombas que proporcionam um efeito visual interessante aquando da passagem dos crossers. Não podemos ainda esquecer a lama que cobre algumas partes do circuito, e que, com a chuva prevista para o dia de hoje, se torna bastante densa em algumas zonas, o que poderia obrigar os ciclistas a desmontar da bicicleta e correr.
Nas últimas sete edições do Azencross, apenas por uma vez tivemos um vencedor (o recém reformado Tom Meeusen, 2015) que não Wout Van Aert (2014, 2016 e 2021) e Mathieu Van de Poel (2017, 2018 e 2019), por isso hoje antevia-se mais uma luta renhida pela vitória entre entres dois “monstros”. Nunca descorando Pidcock, apesar da lama, e das características pesadas do circuito não se adequarem ao seu peso pluma.
O primeiro par de curvas foi premonitório para aquilo que seria o desenrolar da corrida, com Van der Poel (Alpecin-Deceuninck), Van Aert (Jumbo-Visma) e Pidcock (INEOS Grenadiers) a conquistarem as três primeiras posições. A partir daqui o trio foi alargando a vantagem para o resto do pelotão, com Van der Poel a impor um ritmo forte desde cedo, tentando escapar aos seus rivais, e Pidcock a sentir algumas dificuldades nas zonas de lama por várias vezes, mas mostrando resiliência para nunca perder definitivamente o contacto. Nas últimas duas voltas, foi mais do mesmo: espetáculo! Após alguns erros na lama na sexta volta, e quando Pidcock parecia ter perdido completamente o contacto com Van der Poel e Van Aert, o ritmo imposto pelo duo na liderança baixou consideravelmente. Esta janela de oportunidade permitiu que, na sétima, e penúltima volta, o britânico se aproximasse paulatinamente da frente da corrida, reentrando na luta pela vitória pouco antes da penúltima passagem pela linha de meta. Na última volta, Van der Poel aumentou novamente o ritmo, abrindo um espaço importante que parecia garantir-lhe a vitória. Mas já na segunda metade da volta, na passagem pela zona de lama, um erro incomum permitiu a recolagem dos perseguidores. E foi este trio que entrou junto na reta da meta para a discussão da vitória. Impelido pelo êxtase dos adeptos belgas, Van Aert foi o primeiro a lançar o sprint e nunca mais permitiu que ninguém o ultrapassasse, cruzando a meta ao fim de 59:40 minutos, e garantindo o hat-trick na semana natalícia. A segunda posição ficou, mais uma vez, para Van der Poel, e no terceiro lugar terminaria Pidcock.
Foi assim o fim de uma semana épica de ciclocrosse, que garantidamente vai ficar marcada a ouro nas mais importantes páginas da modalidade. Foi a maior publicidade que poderia ser feita a esta vertente do ciclismo, cujos maiores atores se sentam já à mesa com os melhores de sempre.
O ciclocrosse continua em 2023, ou, como quem diz, já no próximo domingo, com a prova do Troféu X2O em Baal, o Grande Prémio de homenagem a um dos que muitos consideram o melhor de sempre, Sven Nys.
Foto de capa: Belga
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