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Ciclismo de Pista 101: Europeus de Pista 2024 com Iúri Leitão

Com os Campeonatos Europeus de Ciclismo de Pista de 2024 e Jogos Olímpicos de Paris à porta, a Portuguese Cycling Magazine teve a oportunidade de sentar-se com um dos protagonistas desta emocionante jornada: Iúri Leitão. O talentoso ciclista português, cujo nome ressoa nas estradas e velódromos, partilhou connosco suas expectativas, preparação e objetivos para os Europeus de Pista´24 a decorrer de 10 a 14 de Janeiro em Apeldoorn, Países Baixos.

Nesta entrevista exclusiva, Iúri Leitão apresenta-nos o mundo do ciclismo de pista e fala-nos do título de Campeão Mundial de Omnium conquistado em 2023: os desafios e a mentalidade que o impulsionam, o ambinete na seleção nacional de pista, entre outros tópicos. Enquanto os holofotes se projetam nos Europeus de Pista´24, exploramos também as aspirações do (carinhosamente apelidado) ‘Flying Pig’ para os Jogos Olímpicos de 2024.

Iúri Leitão nasceu em Viana do Castelo em 3 de julho de 1998, emergiu como uma força imparável no cenário do ciclismo português. Atualmente é mebro da equipa Caja Rural – Seguros RGA na Espanha.

Campeão do Mundo de Omnium, Glasgow 2023

A 6 de agosto de 2023, um arco-íris de regularidade e destreza irradiou Portugal: Iúri Leitão sagrou-se Campeão Mundial de Omnium, naquele que se tornou o grande momento da sua carreira, sempre dividida entre a pista e a estrada. Em Glasgow, vencendo as corridas de scratch e de tempo, o português de 25 anos destacou-se desde o início da competição, consolidando a sua posição com maestria. Mais tarde, a prova de eliminação viu um confronto emocionante entre Leitão e o neozelandês Campbell Stuart; e na corrida por pontos, após um início agitado, o ciclista português reagiu ao assumir o controlo da corrida e manter a vantagem até cruzar a linha de meta, onde a emoção tomou conta de si e de um país inteiro, ao vislumbrar a sua bandeira nas costas do seu campeão e mais tarde, hasteada no velódromo, grande altar de ciclismo, marcando assim um feito histórico no ciclismo português.

Como é que foi ser Campeão do Mundo de Omnium?

Iúri Leitão: “Foi todo um processo. Nós temos vindo a trabalhar já há alguns anos para estarmos ao melhor nível e com maior foco, por exemplo, nos Jogos Olímpicos. Nos últimos Jogos não foi possível, mas temos vindo a fazer um trabalho muito sério e sólido que acabou por culminar neste título mundial. Claro que é um misto de sentimentos, porque nunca estamos preparados para sermos campeão do mundo. Foi um dia de muitas emoções e a verdade é que é uma prova que demora bastante – começa de manhã e acaba quase à noite – portanto é difícil de gerir, temos que manter sempre as nossas expectativas não muito altas para não nos iludirmos e, principalmente, mantermos sempre os pés assentes na terra, porque qualquer erro pode deitar por terra as nossas aspirações.”

O Omnium é uma competição multifacetada que desafia os ciclistas em diversas disciplinas, testando sua versatilidade e habilidades ao longo de quatro corridas distintas. Os eventos que IúrI Leitão disputou incluem:

Scratch: É uma corrida em pelotão, normalmente com 15 quilómetros (km) de distância, sendo o resultado determinado pela posição dos ciclistas na chegada; vence o primeiro atelta a passar a linha de chegada ao fim dos 15 km.

Corrida por tempo: Esta disciplina é relativamente nova para o omnium, sendo as regras similares às da corrida por pontos. O sprint intermédio ocorre durante todas as voltas onde o primeiro corredor a atravesar a meta recebe 1 ponto. Adicionalmente, os ciclistas ganham pontos por cada volta de avanço em relação ao grupo principal, já os ciclistas dobrados devem abandonar a pista, perdendo todos os pontos amealhados durante esta prova.

Eliminação: Como no Scratch, é uma corrida em pelotão, sendo que a cada duas voltas é eliminado o último atelta a cruzar a meta – com a roda traseiea. São eliminados ciclistas sucessivamente até à última volta, em que sobram 2 atletas, e o vencedor é definido.

Em cada uma das disciplinas mencionadas, o primeiro classificado soma 40 pontos para a geral de omnium, o segundo 38, o terceiro 36 e assim sucessivamente. Para a corrida por pontos os atletas começam com os pontos acumulados nas provas anteriores.

Corrida por Pontos:  Com cerca de 40 km para a categoria masculina, a corrida por pontos é disputada em pelotão. Os ateltas podem ganhar pontos durante os sprints, a cada 10 voltas somando 10/5/3/2/1 pontos consoante a passagem na meta; a cada volta de avanço os corredores acumulam 20 pontos, já atletas dobrados recebem 20 pontos negativos. O sprint final é pontuado a dobrar comparativamente aos sprints intermédios: 10/5/6/4/2 pontos respetivamente.

A pontuação varia conforme a posição nas corridas. A complexidade do evento reside na habilidade dos ciclistas de sobressaírem nas diferentes disciplinas, combinando velocidade, resistência e estratégia por largas horas de competição.

Das competições que constituem a prova de Omnium, qual consideras a mais dificil?

Iúri Leitão: “Eu acho que é sempre a corrida por pontos, porque temos o fator fadiga que vem a crescer desde o início do dia. Como disse, é uma prova muito longa, com maior distância e com mais dificuldade; além de ser a última a realizar, é aí que se decide a classificação geral, é aí que todos os atletas dão o seu máximo para poderem terminar na melhor posição possível. Às vezes, no cruzamento de táticas, na luta pelo 3º, pelo 4º, pelo 10º, existem oportunidades para atletas que estão a discutir o título comigo que podem acabar por atrapalhar e foi o que aconteceu. Foi uma corrida muito dura e muito complicada do ponto de vista tático.”

O feito de Iúri Leitão está para perdurar na história do ciclismo português. Segundo o atleta, as repercussões do título de campeão mundial estenderam-se para além da pista, até à estrada, com um maior reconhecimento global e um carinho especial da parte dos portugueses, tanto do público quanto das instituições desportivas.

Que repercussões teve este título na tua própria vida?

Iúri Leitão: “Essa é uma pergunta difícil. Eu tenho visto que cada vez mais as pessoas me reconhecem, especialmente os meus adversários, também de estrada, têm vindo a estar atentos e noto que cada vez me conhecem exatamente por causa desse título. Nas corridas que eu tive logo a seguir ao Campeonato do Mundo, muitos ciclistas de outros países e de outras equipas dirigiram-se a mim, deram-me os parabéns e disseram que viram a competição e que tinha estado muito bem. À parte disso, aqui em Portugal, tenho sentido muito carinho das pessoas e mesmo das próprias instituições, que têm feito questão de se aliar e de ressaltar este título e de me reconhecer no trabalho que temos vindo a fazer.”

Europeus de Ciclismo de Pista 2024

Os Jogos Olímpicos de Paris em 2024 representam uma oportunidade extraordinária para os atletas portugueses deixarem uma marca indelével na história do desporto nacional. Para o ciclismo de pista português, a participação nos Jogos Olímpicos é de significativa importância, proporcionando um palco global para demonstrar a evolução e a subsequente competitividade no cenário internacional. Além da busca por conquistas individuais, a representação no ciclismo de pista olímpico solidifica o compromisso do país com a promoção do desporto e promete inspirar gerações de ciclistas portugueses.

Ao abordar a preparação para os Europeus de Ciclismo de Pista e os Jogos Olímpicos de 2024, Iúri Leitão destaca a importância do Europeu como recomeço da temporada e a necessidade de manter a qualificação olímpica sólida, enfatizando o caráter especial deste ano, com os campeonatos europeus em janeiro, e expressando a determinação em representar Portugal com qualidade e excelência.

Qual é a importância dos Europeus para os Jogos Olímpicos de Paris?

Iúri Leitão: “Este Europeu [de Pista] vai ser o recomeçar da temporada, vai ser o recomeçar da qualificação olímpica que já está praticamente a meio. O ano passado tivemos resultados bastante sólidos e este ano queremos manter esses resultados. Não estamos a pensar em grandes resultados, pode ser que eles venham ou não, mas não estamos demasiado obcecados com isso. É uma competição que se vai realizar em Janeiro, se nós estivéssemos no nosso pico de forma em Janeiro não seria bom sinal para o verão, portanto estamos a fazer o melhor possível para fazermos um bom trabalho, para estarmos bem, para representar Portugal nos Campeonatos de Europa. Vamos tentar fazer um resultado sólido, como temos vindo a fazer, para manter a nossa qualificação bem lançada, como tem estado. Não estamos demasiado obcecados com vitórias ou com o dever de repetir resultados de outros anos porque a verdade é que este ano é bastante especial, não só pelos Jogos Olímpicos, mas também pela data (começar no dia 10 de janeiro). Claro que para nós é especialmente cedo, mas não vamos fazer disso uma desculpa, como é lógico. Estamos a preparar o Campeonato de Europa da melhor forma e com a certeza que traremos bons resultados.”

Quanto aos adversários nos Europeus, Iúri Leitão destaca a necessidade de aguardar a definição das corridas que competirá (na altura em que foi realizada a entrevista, ainda não estavam definidas as corridas exatas em que o atleta viria a competir) e destaca também a importância estratégica da competição contra as nações mais próximas nos pontos para a qualificação olímpica, mantendo uma abordagem focada e flexível.

Quais vão ser os teus grandes adversários e quais vão ser as tuas estratégias para conseguir o melhor resultado possível?

Iúri Leitão: “Primeiro, é preciso saber que corridas vou fazer, porque eu mesmo ainda não sei. Não é certo que faça o Omnium ou o Madison, ou até as duas, nós [Seleção Nacional de Pista] ainda estamos a decidir. Já tivemos a primeira conversa sobre isso, mas ainda vamos estudar bem o caso. O selecionador é que decide, ele é que tem que analisar os ciclistas que tem disponíveis e o que quer fazer com eles. A partir daí, temos que ver quais são os nossos rivais mais diretos na qualificação Olímpica, e tentar perceber qual é a melhor forma, estrategicamente, de terminar à frente deles. Em situações de desempate, temos sempre em vista as nações que estão mais perto de nós, como a Espanha e a Suíça, que são as equipas que não têm perseguição nem perseguição por equipas, tal como nós, e que disputam diretamente connosco os lugares de Madison para os Jogos Olímpicos.”

Como foi a tua preparação para estes europeus?

Iúri Leitão: “No final da minha época de estrada, tive uma pequena pausa para recuperar e me recompor, e depois recomeçámos o trabalho. O tempo não tem sido muito amigo, mas é o nosso trabalho, temos de sair para a estrada e ir também bastantes vezes à pista. Temos feito um trabalho com o nosso grupo de pista bastante regular, com bastantes estágios; lá está, temos feito o mesmo trabalho de sempre, com o mesmo foco que temos tido e com o mesmo grupo de sempre.”

Como é o ambiente dentro da Seleção Nacional de Pista? E como é que este ambiente vos ajuda a atingir os vossos objetivos?

Iúri Leitão: “O ambiente na Seleção de Pista é bastante particular. Nós somos um grupo de amigos, quase como uma família. Passamos muito tempo juntos a treinar, a preparar-nos, a competir, e acabamos por ser todos muito amigos. A amizade é fundamental para lidar com toda a situação, com os nossos problemas, dificuldades e sucessos, é muito mais fácil ter pessoas que nos compreendem e que passam pelas mesmas coisas que nós a trabalhar ao nosso lado. E é sempre muito melhor, quando temos um bom resultado, poder celebrá-lo com pessoas que crescem connosco.”

Renovação com a Caja Rural-RGA

A notícia de que Iúri Leitão renovou por dois anos com a Caja Rural-RGA foi confirmada em novembro de 2023. Ao abordar a conciliação entre as temporadas de estrada e pista, Iúri Leitão destaca a compreensão mútua com a sua equipa, permitindo flexibilidade para os seus objetivos Olímpicos, e revela que o seu calendário está quase definido, gerindo estrategicamente as competições de estrada com as necessidades da seleção nacional.

Como irás conciliar a temporada de estrada com os teus objetivos na pista e nos Jogos Olímpicos?

Iúri Leitão: “Isso tem que ser tudo muito bem conversado entre mim, a Federação e entre a minha equipa, e eu tenho que fazer esse jogo de cintura para poder conciliar tudo. Tenho sorte de ter uma equipa muito compreensiva que me dá abertura para poder competir, mas também é uma das condições que eu defini com a minha equipa; já quando eu entrei para a equipa resslavei que tinha o objetivo de participar nos Jogos Olímpicos. Eles foram muito compreensivos e abraçaram-me no projeto, e dão-me liberdade para o que eu necessitar. O meu calendário está praticamente projetado, ainda não está 100% decidido, mas vai ser possível conciliar tudo: fazer boas competições de estrada e na pista nas competições que Portugal precisar de mim.”


No final desta entrevista com Iúri Leitão, ficamos não apenas com um vislumbre do seu incrível percurso, mas também com uma compreensão mais profunda da determinação e paixão que impulsionam as suas conquistas, bem como o seu orgulho em representar as cores de Portugal. O foco são os Jogos Oímpicos 2024, uma ambição que já não é de hoje e na qual Leitão tem assumido um papel de protagonjsta, e os Europeus vão ser uma nova oportunidade de afirmação portuguesa no ciclismo de pista e um marco imporante para a qualificação Olímpica.

Fiquem desse lado a acompanhar a Seleção Nacional de Pista, com a Portuguese Cycling Magazine, nesta jornada até aos Jogos Olímpicos 2024!

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