Domen Novak é um ciclista esloveno e representa atualmente a equipa Bahrain Victorious. Com 25 anos, pode ser considerado um jovem promissor no ciclismo internacional, especialmente depois da sua grande prestação no Giro d’Italia 2020, no qual João Almeida terminou no 4º lugar. Nesta entrevista exclusiva à Portuguese Cycling Magazine, Novak fala sobre a sua carreira, os seus objetivos e ainda sobre a Eslovénia enquanto terra de ciclismo.
Começando pela sua carreira, Novak conta-nos que esta emanou do “objetivo primário de perder algum peso”, tendo-se juntado aos sub-13 da equipa Adria Mobil. Porém, os seus dois primeiros anos foram difíceis. As suas capacidades enquanto ciclista não eram suficientes para a competição, sendo ele relegado para o papel de ajudar os companheiros na preparação das suas bicicletas. Foi quando se tornou júnior que o seu novo treinador, Josip Radakovič, reconheceu o seu talento e ajudou ao seu desenvolvimento. Como ídolo, Novak refere “o maior ciclista esloveno à época, Jani Brajkovič”, que venceu o Critérium du Dauphiné 2010 e terminou no top’10 do Tour de France 2012.
Novak fez a sua estreia profissional em 2014, tendo permanecido dentro da estrutura da Adria Mobil por mais três anos. Durante esse período, foi companheiro de Primož Roglič e ajudou-o em muitas corridas, inclusive em muitas das suas primeiras vitórias. No entanto, apesar de considerar que “todos (na equipa) sabiam que ele era um corredor muito forte”, Novak reconhece que “ninguém poderia imaginar que ele se tornaria no melhor de todos”.
Em 2017, Novak rumou ao World Tour, assinando pela equipa Bahrain Merida (atualmente, Bahrain Victorious). Mais uma vez, realça as dificuldades na adaptação, nomeadamente à maior velocidade e distância das corridas, mas também elogia a organização ao mais alto nível e “os cuidados que se têm com os ciclistas”, o que o surpreendeu particularmente. Mostra-se ainda satisfeito com a sua primeira experiência numa Grande Volta, mais concretamente a Vuelta a España, considerando que esta constituiu uma “grande experiência de aprendizagem” no seu primeiro ano enquanto profissional.
Atualmente no quinto ano dentro da estrutura da Bahrain, Novak realça o bom ambiente entre companheiros. “Tenho muito boas relações com todos os eslovenos da equipa, em particular com o Jan Tratnik e o Grega Bole”. Ele justifica a imensa presença eslovena na equipa com as habilidades dos eslovenos no desempenho das respetivas funções, desde os corredores até aos massagistas e mecânicos, sendo o recrutamento facilitado pelo facto de a base da equipa se localizar na Eslovénia.
Em 2020, Primož Roglič e Tadej Pogačar envolveram-se numa batalha lendária pela glória no Tour de France. Como ciclista esloveno e também enquanto fã, Novak assistiu regularmente à corrida e admite ter-se sentido “muito orgulhoso de ser esloveno” durante as três semanas. O último contrarrelógio foi “nervoso e difícil de ver, mas no fim o ciclista mais forte na altura venceu a corrida”, segundo o que nos refere o ciclista da Bahrain. Em suma, ele considera que o sucesso de Pogačar e também de Roglič “influenciou um maior respeito dos outros ciclistas pelos ciclistas eslovenos”.
No Giro d’Italia, o objetivo de Novak passou por apoiar o líder da equipa, Pello Bilbao. Recordemos que na mesma corrida, o ciclismo português viveu o fim da incrível jornada de João Almeida enquanto maglia rosa no Passo dello Stelvio, que Novak considera uma subida “muito inclinada e longa”. Ao rever essa tão difícil etapa, em que terminou na 12ª posição, contenta-se por ter dado tudo na missão de trazer o seu líder “o mais próximo possível da frente” e reitera que foi o seu amor por trepar em cima da bicicleta que o ajudou a suplantar as dificuldades do terreno. Após um balanço positivo da época de 2020, Novak aponta como objetivos para o futuro manter-se saudável e seguro, bem como vencer uma etapa numa Grande Volta.
Recuando ao início do ano, Novak correu na Austrália e em França antes de o confinamento o obrigar a regressar a casa. Aí, encontrou motivação para treinar todos os dias, “mesmo que não soubesse quando as corridas iriam recomeçar”. Face ao desafio de manter a forma, Novak considera que as estradas e caminhos eslovenos, assim como o bom tempo, foram aliados importantes em práticas de treino seguras. Na sua opinião, a Eslovénia é uma terra de ciclismo por causa da sua paisagem natural e dos “muitos sítios para andar de bicicleta”, condições que conciliam dois amores dos eslovenos: “praticar desporto e passar tempo na natureza”. Por último, o facto de a Eslovénia ser “uma nação muito trabalhadora e também competitiva” constituiu a receita fundamental para o seu sucesso no ciclismo profissional.
A rúbrica “Terras de Ciclismo” da Portuguese Cycling Magazine regressa na próxima semana, com uma visita a outro país em ascensão no panorama do ciclismo internacional, desta vez da América do Sul: o Equador.
Foto de Capa: Portuguese Cycling Magazine