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Diogo Narciso: “Temos saudades de voltar a correr”

Um dos nomes principais da sua geração dos juniores, Diogo Narciso chegou em 2020 ao escalão Sub23 pelas mãos da Sicasal e não demorou a deixar a sua marca e em imprimir o seu nome na mente dos aficionados do ciclismo nacional.

Contudo, a sua primeira época entre os graúdos ficou marcada pela pandemia causada pelo SARS-CoV-2 e pelo confinamento. “Foi um momento difícil. Treinávamos, treinávamos,… e depois as provas eram canceladas ou adiadas”. Num período de incerteza, Narciso acredita que “passou pela cabeça de muitos desistir”, mas declara-se sortudo porque “tive excelentes pessoas ao meu lado que sempre me apoiaram”.

E, numa frase, Narciso resume bem o sentimento que corre pelo pelotão “estamos em casa parados completamente e temos saudades, saudades de voltar a correr”. Mas, acreditando que “isto é uma fase e vai passar”, o jovem ciclista encontrou força para “continuar a trabalhar, porque temos que ir à luta”.

Para 2021, “é tudo uma incerteza”, mas Diogo Narciso aponta como maior objetivo os Campeonatos Nacionais, mas quer também “continuar a dar nas vistas lá fora e também no Joaquim Agostinho, porque é a nossa [da Sicasal] corrida da casa, queremos estar bem”.

Um lugar para crecer na Sicasal 

Nunca é fácil passar de júnior a Sub23”, começa por referir Diogo Narciso, que, instado a partilhar a mais importante recomendação que lhe foi dada menciona a alimentação, “durante a corrida é muito importante pelo desgaste físico, tal como a hidratação, há muitos atletas que se esquecem e no final paga-se”.

Ainda assim, o jovem atleta admite que “tive um bom ano, consegui alguns bons resultados e estou feliz”. Certamente que parte da razão se encontra na equipa a que se juntou, a Sicasal, conhecida por trabalhar da melhor forma com os jovens talentos nacionais e à qual se juntou “pelas condições que oferecem e pelas oportunidades que me iam dar”.

Em modo contrarrelógio
Fonte: Portuguese Cycling Magazine

Outro motivo para ingressar no conjunto de Torres Vedras foi “irmos correr lá fora, que é o meu principal objetivo, dar nas vistas no estrangeiro e um dia ir além fronteiras”. Há ambição e isso é refletido na atitude do conjunto, “não houve muitas corridas, mas as que houve fomos sempre para dar luta, para ganhar”.

Ao seu lado na equipa de Torres Vedras, brilhou também em 2020 Daniel Dias, que se juntou agora ao UC Mónaco e que já havia sido colega de Narciso nos escalões mais jovens, que caracteriza como “um excelente atleta, um todo o terreno, acho que se vai sair bem”.

Uma estreia em afirmação

A verdade é que, na estrada, que é onde conta, Diogo Narciso mostrou ao que vinha logo no seu primeiro ano entre os Elites.

O início da temporada deu-se por terras de nuestros hermanos. Em Don Benito, a prova “não correu como estavamos à espera”. A equipa pagou o preço da inexperiência, mas uma corrida com “muitas bordures, porque estava chuva e vento, serviu de aprendizagem”. Seguiram-se também provas de um dia em Portugal, Prova de Abertura e Clássica da Primavera, e Diogo Narciso somou logo aí resultados muito positivos, especialmente para quem havia acabado de sair dos juniores. “Fiquei contente”, diz o ciclista que admite que “na Prova de Abertura não estava à espera de terminar tão na frente, pensava que não ia conseguir”.

Na retomada da competição após a paragem, o jovem não conseguiu o resultado desejado nos nacionais de crono, “fiquei bastante desiludido, tive más pernas, trabalhai bastante, mas, infelizmente, não foi o meu dia”, mas já teve melhores sensações na prova de fundo, “tentei ir para a fuga e consegui, mas depois os da Kelly estavam… nem há palavras”. 

Seguiu-se o Troféu Joaquim Agostinho, “uma das melhores corridas para mim no ano”. Com a sua equipa a correr em casa, Narciso esteve empenhado em triunfar na camisola das Metas Volantes, “foi uma luta acesa até ao fim contra o Miguel Salgueiro, até à última Meta Volante, mas ele levou a melhor”.

Triunfador em Espanha
Fonte: Sicasal – Miticar – Torres Vedras

O momento alto da época estaria reservado para o fim e em mais uma visita a Espanha. Para a Vuelta a Alicante, “o nosso objetivo era trazer uma camisola” e coube a Narciso concretizar este desafio. Narciso abriu a prova da melhor maneira, “consegui vencer os dois sprints na primeira etapa e fiquei logo com a camisola [dos Sprints Especiais]” e após uma luta contra o relógio, a última etapa foi jogada à defesa, “a nossa tática passou por deixar sair uma fuga com ninguém que já tivesse pontuado”. A estratégia resultou e Narciso vestiu de azul no final.

Só a cronoescalada, vencida por Abner González, agora na Movistar Team, Narciso gostava de ter feito mais, “queria vencer, era muito explosiva, ao meu jeito. Consegui um um Top 10 e fiquei contente, mas com um sabor amargo”.

O amor pela Pista

Os sentimentos de Diogo Narciso são claros, “para mim, a Pista é um amor que tenho tanto como a Estrada”, pelo que a sua intenção é “conciliar as duas, não consigo escolher uma”. No velódromo, Narciso admite que “adoro o público a puxar por nós, é uma sensação fantástica”.

Hoje, o ciclista da Sicasal é já um nome a ter em conta no panorama nacional. Ainda em junior, foi quinto na prova de Scratch do Campeonato do Mundo e, já a correr com os Elites, alcançou já vários bons resultados na pista de Sangalhos, dos quais destaca um, “estive muito próximo de ser Campeão Nacional de Scratch, apanharam-me na última curva, fiquei muito contente com a minha prestação”.

Para chegar a este patamar, os gémeos Oliveira foram uma das suas inspirações, “via as corridas dos gémeos quando iam fazer os Campeonatos da Europa e do Mundo e, sem dúvidas, aquele título do Ivo quando era júnior motivou-me muito para trabalhar e a dizer para mim mesmo que um dia também quero estar lá”.

Onde também ainda quer ir é a umas Olímpiadas, “adorava, é um sonho de qualquer atleta, vou trabalhar para isso todos os dias”.

Narciso aproveitou também salientar que espera que a Pista regresse este ano e que vê nesta vertente uma boa opção para retomar a competição velocipédia, “por ser em recinto fechado, se evitarmos o público e como a organização é muito boa, não haveria problemas em realizar provas”.

Foto de Capa: Federação Portuguesa de Ciclismo