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Ciclismo de Pista 101: Jogos Olímpicos´24

Os Jogos Olímpicos de Paris estão cada vez mais próximos e a fase de qualificação para o ciclismo de pista está prestes a terminar. O ciclo começou em 2022, mas ainda há oportunidades para alguns ajustes nos rankings. A próxima é já em janeiro, no campeonato europeu, em Apeldoorn, nos Países Baixos.

Como tinha acontecido em Tóquio, vão ser disputadas medalhas em seis categorias, em ambos os géneros: sprint por equipas, sprint individual, keirin, perseguição por equipas, madison e omnium. Estarão presentes 190 atletas, 95 no lado masculino e 95 no feminino. Cada federação terá direito a, no máximo, sete ciclistas de cada género (dois no sprint individual e no keirin, um no omnium e uma equipa na perseguição por equipas, no sprint por equipas e no madison). Excecionalmente, poderá ser acrescentado um ciclista de cada género, desde que este esteja inscrito noutra disciplina (estrada, por exemplo).

Estas quotas de participação serão definidas através do ranking olímpico da UCI, para o qual apenas faltam contabilizar os campeonatos continentais de 2024 (Europa, África, Oceânia, Ásia e Américas) e as Taças das Nações de 2024 (Austrália, Hong Kong e Canadá). Importa notar que os campeonatos continentais pontuam segundo um coeficiente de 0.75, o que faz com que as Taças das Nações assumam especial importância. O ranking final estará disponível a 15 de abril.

Passando para os requerimentos específicos de cada prova:

               Sprint por Equipas

O sprint por equipas é uma corrida composta por equipas de três atletas, no caso masculino, e duas atletas na categoria feminina, que competem em contrarrelógio ao longo de três ou duas voltas, respetivamente, no setor masculino e feminino. As equipas posicionam-se nos extremos opostos da pista e o objetivo principal é completar o percurso no menor tempo possível. O tempo é contabilizado tendo em conta o sprint do último atleta, lançado pelos colegas de equipa.

As oito primeiras nações no ranking classificam-se. Neste momento, os classificados no lado masculino seriam Países Baixos, Austrália, França, Grã-Bretanha, Japão, China, Alemanha e Canadá.

No lado feminino, seriam Alemanha, China, Grã-Bretanha, México, Países Baixos, Polónia, Canadá e Nova Zelândia.


               Sprint Individual e Keirin

O sprint individual é uma intensa competição em que os atletas medem a sua força frente a frente ao longo de três voltas, 750 metros, coroando o primeiro ciclista a cruzar a meta. Esta prova conta com uma ronda de classificação, em que 16 corredores são escolhidos tendo em conta o seu tempo em 200 metros de contrarrelógio. De seguida, os atletas competem em eliminatórias à melhor de três até apenas restarem os dois melhores ciclistas, que se defrontam na final. A corrida começa com uma partida estratégica e lenta, com os ciclistas a disputarem a posição mais vantajosa para lançar o sprint. As principais tácticas envolvem o posicionamento e as manobras para forçar o adversário a assumir uma posição de liderança, onde a resistência do ar é maior. O momento alto da corrida ocorre na última volta de sprint, em que os ciclistas dão o máximo para cruzar em primeiro lugar a linha de meta.

O keirin é uma corrida de ciclismo de pista dinâmica e estratégica que envolve seis a oito ciclistas. A corrida começa com os ciclistas a seguirem uma mota, conhecida como derny, durante várias voltas. A derny estabelece um ritmo progressivamente crescente de 30 para 50 km/h, atingindo a sua velocidade máxima antes de sair da pista. Assim que a derny abandona a pista, os ciclistas entram num sprint de 750 metros a alta velocidade até à meta. O Keirin não é apenas uma questão de velocidade, mas também de posicionamento estratégico, sendo o momento do sprint final crucial para o sucesso.

As oito nações classificadas para o sprint por equipas têm direito a duas vagas no sprint individual e no keirin, desde que não ultrapassem o seu número máximo de atletas e que os atletas inscritos também compitam noutro evento de pista ou noutra disciplina do ciclismo.

Para além disso, as sete nações (que não as classificadas para o sprint por equipas) mais bem classificadas no ranking do sprint individual têm direito a um atleta tanto nesse evento como no keirin. O mesmo acontece ao contrário, com as sete nações (que não as classificadas para o sprint por equipas) mais bem classificadas no ranking do keirin a ter direito a um atleta tanto nesse evento como no sprint individual.

Neste momento, as sete nações que se qualificariam para o sprint individual masculino seriam Trindade e Tobago, Polónia, Malásia, Israel, Suriname, Colômbia e Lituânia.

No caso do sprint individual feminino, seriam França, Colômbia, Japão, Austrália, Itália, Bélgica e Estados Unidos da América.

No caso do keirin masculino, os classificados seriam Colômbia, Malásia, Suriname, Nova Zelândia, Israel, Trindade e Tobago e Tailândia.

Finalmente, no caso do keirin feminino, os classificados seriam Colômbia, Japão, França, Bélgica, Austrália, Itália e Chéquia.


               Perseguição por Equipas

A perseguição por equipas é uma disciplina em que equipas de quatro ciclistas competem em contrarrelógio ao longo de uma distância definida, normalmente quatro quilómetros. O objetivo principal é completar o percurso no menor tempo possível, sendo o tempo de chegada da equipa determinado pelo terceiro ciclista a cruzar a linha de chegada. A corrida envolve a elaboração de estratégias e rotações precisas, com cada ciclista a liderar o grupo à vez de forma a reduzir a resistência do ar e, por conseguinte, o desgaste dos atletas. A perseguição por equipas é um equilíbrio entre a força individual, a resistência e o trabalho de equipa, dando ênfase à estratégia e à precisão.

As dez primeiras nações no ranking classificam-se. Neste momento, os classificados no lado masculino seriam Dinamarca, Nova Zelândia, Itália, Austrália, França, Canadá, Alemanha, Japão, Bélgica e China.

No lado feminino, seriam Grã-Bretanha, Nova Zelândia, França, Itália, Austrália, Alemanha, Canadá, Estados Unidos da América, Irlanda e Japão.


               Madison

O madison é uma modalidade disputada em duplas, uma “corrida de estafetas”, em que os dois ciclistas revezam as suas posições numa corrida de longa distância na pista, 50 km na categoria masculina e 30 km na feminina. Enquanto um ciclista corre, o outro diminui a velocidade para descansar antes de uma nova troca de posições, que envolve um impulso de mão entre os dois ciclistas. As oportunidades de pontuação ocorrem a cada dez voltas, num sprint intermédio que atribui 5, 3, 2 e 1 pontos. Para além disso, cada equipa que conseguir uma volta de avanço ganha 20 pontos, enquanto que as equipas que são dobradas pelo pelotão vêm a sua classificação ser reduzida em 20 pontos. No sprint final, depois de uma corrida longa e extremamente desgastante, os pontos são dobrados comparativamente aos sprints intermédios, recompensando os mais resistentes com 10, 6, 4 e 2 pontos.

As dez nações classificadas para a perseguição por equipas têm direito a participar com uma dupla no madison, desde que não ultrapassem o seu número máximo de atletas e que os atletas inscritos também compitam noutro evento de pista ou noutra disciplina do ciclismo.

Para além disso, as cinco nações (que não as classificadas para a perseguição por equipas) mais bem classificadas no ranking do madison têm direito a uma dupla nesse evento.

Neste momento, as cinco nações que se qualificariam para o madison masculino seriam Países Baixos, Grã-Bretanha, Portugal, Espanha e Chéquia.

No lado feminino, os classificados seriam Dinamarca, Polónia, Países Baixos, Bélgica e Suíça.


               Omnium

O omnium sofreu várias alterações ao longo dos anos, sendo agora composto por quatro provas de resistência, realizadas ao longo do mesmo dia: scratch, corrida por tempo, eliminação e corrida por pontos. Nas primeiras três disciplina, os ciclistas acumulam pontos para a classificação geral do omnium consoante a posição em que terminam, seguindo uma escala decrescente de pontuação: o primeiro classificado soma 40 pontos, o segundo 38, o terceiro 36, e assim sucessivamente. Na derradeira prova, a corrida por pontos, os ciclistas partem com a pontuação que acumularam previamente e têm oportunidade de fazer ajustes na sua classificação, seja através dos sprints ou de voltas de avanço – o sistema de pontuação nesta prova é semelhante ao do madison. Assim, esta é uma prova onde a consistência é chave para alcançar o topo da classificação.

As 15 nações classificadas para o madison têm direito a participar com um atleta no omnium, desde que não ultrapassem o seu número máximo de atletas e que os atletas inscritos também compitam noutro evento de pista ou noutra disciplina do ciclismo.

Para além disso, as sete nações (que não as classificadas para o madison) mais bem classificadas no ranking do omnium têm direito a um atleta nesse evento.

Neste momento, as sete nações que se qualificariam para o omnium masculino seriam Estados Unidos da América, Polónia, Áustria, Suíça, México, Colômbia e Cazaquistão.

No lado feminino, seriam Portugal, Noruega, Espanha, Hong Kong, Lituânia, Chéquia e Egito.


Como nota final, realçar que, no caso de um continente não ter qualquer nação qualificada para um dos três eventos de sprint, o melhor país desse continente no ranking tem direito a uma das vagas do sprint individual, substituindo a última equipa qualificada. Verifica-se a mesma coisa relativamente aos eventos de endurance, mas, neste caso, a vaga a ser ocupada pelo país mais bem classificado desse continente é do omnium.

               Ambições Portuguesas

Portugal tem, nos últimos anos, emergido no mundo da pista. A evolução dos atletas nacionais nesta vertente do ciclismo culminou no título mundial de Iúri Leitão no omnium, nos últimos campeonatos do mundo (2023). Esta vitória veio augurar um grande futuro à modalidade e, se nada de anormal acontecer, Paris vai ter a maior comitiva olímpica da história do nosso ciclismo de pista.

Olhando para os atletas nacionais de forma realista, as únicas corridas onde se pode esperar, nesta altura, a qualificação são, do lado masculino, o madison e o omnium e, do lado feminino, o omnium. Se as contas fechassem hoje, estaríamos qualificados para todas.

No omnium feminino, a consistência de Maria “Tata” Martins vale a Portugal o 11º lugar do ranking e, neste momento, uma vantagem de cerca de 800 pontos para o último país que se classifica. Se mantiver o nível a que nos tem habituado, a qualificação deverá estar assegurada.

No lado masculino, as boas prestações das diversas duplas que têm competido no madison (Ivo Oliveira & Rui Oliveira, Ivo Oliveira & Iúri Leitão, Iúri Leitão & Diogo Narciso, Rui Oliveira & Iúri Leitão) colocam Portugal no 7º lugar do ranking, com uma margem de 500 pontos para a primeira seleção que não se classifica. Apesar de não ser uma vantagem que dê segurança absoluta, caso as prestações do ano passado se repitam nas provas de qualificação que ainda faltam, a presença de um duo português em Paris estará confirmada.

Relativamente ao omnium, a provável qualificação no madison assegurar-nos-ia uma vaga na corrida, mas, se isso não se confirmar, o título mundial de Iúri Leitão colocou Portugal no segundo lugar do ranking, com uma margem que garante, desde já, a qualificação.

Fiquem desse lado a acompanhar a Seleção Nacional de Pista, com a Portuguese Cycling Magazine, nesta jornada até aos Jogos Olímpicos 2024. Está já aí à porta a primeira jornada pontuável desta temporada, nos Europeus de Pista 2024, a decorrer de 10 a 14 de janeiro em Apeldoorn, nos Países Baixos.

Escrito por Afonso Lopes & Juliana Reis

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