Três anos depois de vencer o Giro d’Italia, Richard Carapaz enverga novamente a camisola rosa. Da última vez que a vestiu, levou-a até ao fim da prova, facto que torna as comparações inevitáveis. O que mudou então desde 2019? Carapaz responde: “A minha experiência e da equipa que tenho ao meu lado é muito maior do que era nesse ano. Agora tenho mais certezas que posso ganhar a corrida, em 2019 era um outsider, tinha muitas mais dúvidas”. Naturalmente, a maior experiência impactou a sua forma de correr: “Conheci muitas mais corridas, corri o Tour duas vezes que nunca tinha feito, isso mudou a minha forma de correr. Mas no final das contas, tudo isso soma a meu favor”.
Assim como em 2019, Carapaz conquistou a camisola rosa na 14ª etapa e classifica esta como uma “boa altura” para chegar à liderança. Atualmente, sente-se “motivado e com vontade de deixar tudo na estrada até ao fim” e a sua confiança na equipa é total: “A nossa equipa está forte, temos o Richie Porte, o Pavel Sivakov e o Castroviejo, que está a recuperar bem da queda. Sabemos que quando a corrida ficar dura, estaremos em maioria na frente. No domingo mostrámos isso. Ter um companheiro ao lado dá-me sempre mais confiança”.
Assim, a repetição do cenário de sábado, em que assistimos a uma Ineos Grenadiers em inferioridade numérica face à Bora Hansgrohe, não entra na cabeça de Carapaz, até porque o terreno não é o mesmo: “A etapa de sábado foi muito curta, do tipo clássica. As etapas que vêm aí têm muito mais desnível, com subidas muito longas, e como equipa estamos tranquilos para encarar esse tipo de etapas”, que nas palavras do equatoriano serão “a chave para o Giro”. Só a etapa de amanhã apresenta 5 mil metros de desnível positivo, que prometem ser o espelho do cansaço acumulado por todos os ciclistas.
Relativamente à previsão de chuva para essas etapas, Carapaz reconhece o impacto que essa mudança no tempo poderá ter e está preparado para tirar partido dessas condições: “A mudança de tempo não traz qualquer problema, considero até melhor para mim que chova”. A chuva colocará dificuldades acrescidas ao pelotão e conhecer as subidas (e descidas) a serem ultrapassadas poderá ser um fator crucial. Algumas das subidas são velhas amigas e apesar de não ter feito um trabalho específico de reconhecimento, Carapaz considera que “a equipa fez um excelente trabalho de preparação, conseguimos conhecer todos os detalhes do percurso mesmo sem ir ao terreno”.
O peso da camisola rosa nos ombros de um ciclista não é apenas simbólico: “O líder tem uma série de coisas depois da etapa, a recuperação, o pódio, entrevistas, controlo anti-doping. No final, ontem demorei mais uma hora e meia que os meus colegas”. No entanto, os principais favoritos tiveram a possibilidade de viajar de helicóptero no transfer longo que tinham pela frente, o que segundo Carapaz, ajudou na recuperação: “Numa Grande Volta, esses detalhes contam muito”.
Quando questionado sobre os seus maiores rivais na luta pela classificação geral, Carapaz refere Jai Hindley, Mikel Landa e João Almeida. As respostas surgirão ao longo da semana, mas o equatoriano também não olha demasiado longe no futuro: “ O contrarrelógio vai ser decisivo, mas o que cada um dos rivais fizer nestes dias de montanha será muito importante”.
Por fim, Richard Carapaz deixa uma palavra de agradecimento à família e aos amigos que o têm acompanhado: “É uma motivação extra ter aqui a minha família, incluindo os meus dois filhos, e os meus amigos. Tenho tido muito apoio dos adeptos equatorianos, que vieram desde o Equador e também dos que moram aqui na Europa. É uma festa muito bonita ver tantas bandeiras do meu país, e quero agradecer aos meus compatriotas”.