O circuito de Tábor: um clássico do arco-íris
Poderia facilmente passar despercebida como mais uma vila, típica das muitas espalhadas pela Europa. Com seus modestos 34 mil habitantes, Tábor não se destaca sequer como a localidade mais populosa da Boémia do Sul, uma das regiões administrativas da Chéquia. Situada a cerca de 70 quilómetros da capital do país, Praga, esta pequena localidade não passa despercebida aos olhos dos aficionados pelo ciclismo e pelo ciclocrosse. De facto, o fervor pelo ciclocrosse em Tábor tem as suas raízes no longínquo ano de 1994, quando o clube de ciclismo local, o ČEZ Cyklo Team Tábor, organizou uma prova incluída no calendário UCI, na categoria C2. O êxito foi tal que, no ano seguinte, elevada já à categoria C1, atraiu as luminárias da modalidade da época, como Richard Groenendaal, Adrie van der Poel ou Paul Herygers, que não quiseram perder a oportunidade de experimentar o circuito.
A ascensão meteórica de Tábor na cena internacional não tardou. Em apenas três anos, esta vila passou a figurar entre o restrito rol de anfitriões da mais prestigiada competição de regularidade, a Taça do Mundo de Ciclocrosse, substituindo Praga, que até então ostentava o título de representante checo no calendário internacional. Corria então o ano de 1998. Desde então, Tábor tem consistentemente mantido o seu papel como um dos palcos mais reverenciados da modalidade, acolhendo regularmente etapas da Taça do Mundo, além de sediar os eventos de maior destaque do desporto, como o são os Campeonatos da Europa e do Mundo.
Foi em 2001 que o circuito de Tábor serviu, pela primeira vez, de arena para a batalha do arco-íris. Coube a Eric Vervecken a honra de vestir a camisola de campeão do mundo (a primeira de três), para desagrado e ira dos muitos adeptos checos que assistiram in loco a um polémico encosto de Mario de Clercq em Petr Dlask, o homem da casa, acreditando ter tirado a oportunidade de vitória ao checo, que liderava a corrida a 500 metros do final. Estórias da história que nos permitem chegar a 2010, ano em que o “filho da casa” Zdeněk Štybar “vingou” Dlask e, perante as suas gentes, conquistou o seu primeiro título mundial. E como Tábor conjuga bem com estreias, segue-se 2015, e mais um batismo de arco-íris ao peito. Desta feita, um jovem neerlandês de 20 anos, a correr um Campeonato do Mundo pela primeira vez na categoria Elite, fez-se anunciar com estrondo entre os “grandes”. O nome? Vocês adivinharam, Mathieu van der Poel.
Em 2024, Tábor prepara-se para receber pela quarta vez a prova mais aguardada da temporada, passando assim a deter o record de maior número de organizações de Campeonatos do Mundo de Ciclocrosse da história.
O circuito de Tábor planeado para estes Campeonatos do Mundo não difere muito do seu desenho habitual. Após o tiro de partida, os crossers têm pela frente uma pequena zona asfaltada, em ligeira descida, mergulhando rapidamente na zona de campo. Aqui encontram o primeiro obstáculo, uma ponte, que terão de ultrapassar duas vezes em poucos metros. A partir deste ponto surge a primeira zona técnica, com várias curvas e contracurvas. As variações de altitude não são muito pronunciadas, mas é à entrada da zona de floresta, e já depois de ultrapassadas duas pequenas escadarias, que se faz sentir mais o declive, numa curta, mas exigente subida. É precisamente aqui que estão estrategicamente colocadas as traves de madeira, que foram aumentadas em alguns centímetros para este Campeonato do Mundo. Segue-se mais uma zona técnica que conduz os ciclistas até ao último terço da volta, caracterizado por troços mais retos e em ligeira descida. Após quase 3 km de um traçado bastante rápido, é cruzada a linha de meta.
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