João Almeida e Juan Ayuso, dois míudos bem dispostos, e bem menos tensos que na antevisão, apareceram na conferência de imprensa da equipa da UAE-Emirates para analisar o que aconteceu até agora nesta Volta a Espanha, aproveitando para descartar qualquer mau ambiente entre os companheiros de equipa.
João Almeida fez uma abordagem muito concissa da sua corrida até ao momento, recordando sempre o que já tinham sido as suas as palavras da antevisão “Eu sabia que vinha para esta Vuelta longe do meu máximo, tenho levado dia-a-dia, até fiquei surpreendido por conseguir acompanhar os favoritos em algumas etapas. Vou dar tudo o que tenho, como faço sempre, nestas duas semanas” e sobre as perspectivas de poder lutar por etapas em fuga o homem de A-dos-Francos não pareceu muito o confiante que pudesse existir muito espaço para tal “Depende dos outros ciclistas, mas duvido que tenha essa oportunidade, acho que vão tentar sempre fechar o espaço. Já estou a 5 minutos da frente, e por parte da Quickstep talvez não se importassem muito comigo na fuga, mas acho que não teria muita liberdade.”
No final houve ainda espaço para a boa disposição com o português a explicar as imagens em que aparece a mandar Marc Soler “fechar o bico” no final de uma etapa “Aquilo foi uma brincadeira com o Marc. Nós temos um plano nutricional durante a etapa e ele estava a dizer que comeu mais do que o previsto naquela etapa. E como iamos falar com o nutricionista eu disse-lhe para fechar a boca e calar-se, senão ia passar fome ao jantar. (risos)”
Apesar de não serem perguntados diretamente, os dois ciclistas não tiveram pudor em abordar o elefante na sala, a relação entre ambos e a polémica gerada pelos meios de comunicação e alguns adeptos sobre um alegado mau-estar dentro da equipa. Aproveitando a pergunta da Portuguese Cycling Magazine, que procurava as semelhanças entre a estreia bem sucedida de João Almeida no Giro de 2020 e a corrida atual do espanhol, João Almeida não deixou nada por dizer “Apesar de tudo o que insistem em falar sobre nós, nós somos colegas de equipa e trabalhamos juntos, cada um tem as suas oportunidades, e tudo o que eu o poder ajudar e ensinar não tenho problemas em ajudar. Também ainda sou novo, mas o Juan consegue ser ainda mais novo.” e Juan Ayuso, na mesma toada do português também mandou “farpas” a quem fala demais sobre o que se passa dentro da equipa da UAE-Emirates “Eu acho que muita gente fala sem saber, nós passamos praticamente os últimos dois meses e meio juntos, fizemos o treino de altitude juntos e depois viemos para aqui. A relação é boa, claro que queremos o melhor resultado possível.” e realçou também alguns dos ensinamentos que o colega de equipa lhe passou nos últimos tempos “Uma das melhores coisas que o João tem, e que me passou, é que o ciclismo é apenas uma parte da tua vida, e ensinou-me que se tiveres um mau dia não é o fim do mundo, não é preciso ficar sempre a pensar nisso.“
E sobre o tema os corredores acabaram quase sempre nos mesmos lugares comuns, com o objetivo a ser, por agora, manter as opções de ambos em aberto, como frisou João Almeida “O Juan está a fazer a sua primeira grande volta, eu fiz alguns mas também não estou na minha melhor forma, por isso vamos trabalhar juntos, cada um em busca do melhor.”
Convidados também a analisar em conjunto o desempenho do líder da corrida, Remco Evenepoel, Almeida e Ayuso foram unânimes em afirmar a superioridade do belga. O ex-colega de Evenepoel na Quickstep afirmou mesmo que “pelos números parece que só o Pogacar é que poderia segui-lo, foi o que senti nos últimos dias. Faltam duas semanas e acho que ninguém sabe como ele vai estar, nem ele mesmo, mas até agora está muito bem e parece quase imbatível” e Juan Ayuso, que na etapa nove foi o que mais perto chegou do belga, diz que “por agora estamos a correr uma corrida diferente da dele. Mais do que qualquer coisa que se possa dizer é o que vimos até agora, sempre que ele acelerou ninguém o conseguiu seguir.”
Já o jovem espanhol também foi muito assediado pela imprensa do país vizinho, mas foi exímio em escapar das perguntas mais complicadas e nunca quis dar um passo maior do que a perna. Sobre a possibilidade de ser vencedor da Vuelta disse que “Isso nem me passa pela cabeça” e relembra que definiu com o seu staff vir para esta corrida sem muita pressão “Antes desta Vuelta falei com o meu treinador, e definimos que mais do que os resultados tinha de fazer boas demonstrações de qualidade e ganhar confiança para o futuro.” e deixou uma “estratégica” mensagem de confiança “Sou ambicioso e quero estar o mais à frente possível, mas não me quero iludir com nenhum objetivo e depois chegar ao fim triste com o meu resultado, tudo o que conseguir será bem-vindo.” realçando sempre a experiência que tem sido correr a sua primeira Grande Volta e aproveitando para agradecer à aficion espanhola “O que mais tenho gostado desta estreia é o público, estou a sentir-me muito acarinhado pelos adeptos e estou a cumprir um sonho nesta Vuelta.”