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A despedida do último campeoníssimo!

Ontem vimos Vincenzo Nibali a competir pela última vez no Giro D’Itália, a corrida do seu coração!

Uma história que se iniciou em 2007 e que desde então teve uma mão cheia de capítulos. A sua estreia no Giro D’Itália coincidiu com um dos momentos mais caricatos do ciclismo nos últimos anos, o icónico contrarrelógio por equipas em que a sua Liquigas venceu e Enrico Gasparotto escapou às ordens da equipa e de Danilo Di Luca e roubou a maglia rosa ao seu líder. 15 anos depois de viver o seu primeiro Giro às ordens de vultos como Pelizzotti e Di Luca, Nibali termina a sua história como uma lenda e no topo do ciclismo italiano.

O seu legado começou a ser verdadeiramente construído no Giro D’Itália de 2010, quando em dupla com Ivan Basso operaram um verdadeiro milagre na última semana, para Basso roubar a camisola rosa ao resiliente David Arroyo (que terminou a sua carreira em Portugal), algo que só foi conseguido ao cair do pano. Mas antes, Nibali já havia mostrado todo o seu talento na etapa do sterrato e na etapa de Asolo onde mostrou que era verdadeiramente um fenómeno a descer.

Na edição seguinte, enorme expetativa surgia em redor do Tubarão da Sicília, que após ter vencido a Vuelta a España 2010, pela primeira vez iria liderar a Liquigas na sua corrida natal. Mas nesses ano, um Alberto Contador intratável não deu hipóteses a Nibali, nem a Scarponi que posteriormente viria a vencer a corrida na secretária, após a conclusão do Caso Contador. Mas o seu momento de glória não tardaria e acabaria por vencer o Giro 2013, após uma dominante prestação onde a sua vitória na geral nunca esteve realmente em causa. Venceu três etapas, sendo a mais icónica em Tre Cime Lavaredo, onde postula a sua imagem com a maglia rosa com um enorme manto de neve em seu redor.

Só voltaria ao Giro D’Itália em 2016, 3 anos após a sua vitória inquestionável. E apesar de ter reforçado o seu estatuto de campeoníssimo, esta vitória foi tudo menos tranquila! Inclusivamente é uma das vitórias mais improváveis da sua carreira, uma autêntica mordida de tubarão. A 3 dias do final da prova, após 18 dias medíocres para o nível habitual de Nibali, o siciliano seguia em 4º na geral a quase 5 minutos de Steven Kruijswijk. E tudo mudou quando após a Cima Coppi (Colle dell’Agnello) em que Kruijswijk, ao tentar seguir Nibali na descida caiu de forma impactante e não mais voltou a ser o holandês dominante do resto da prova. Ainda nessa etapa, o tubarão sentiu que era o momento de dar a “mordidela final” e atacou Chaves e Valverde, vencendo em Risoul. No dia seguinte, em Sant’Anna di Vinadia consumou a reviravolta ao deixar novamente os adversários sem resposta e assim revalidou o título conquistado em 2016. Seria a sua última vitória na geral.

Também só conseguiria mais uma vitória em etapa, conquistada na edição seguinte em Bórmio, numa etapa que é mais famosa pelas condições gástricas de Tom Dumoulin. Conquistaria essa etapa ao sprint com Mikel Landa e até final estaria numa titânica luta a três pela vitória final com Nairo Quintana e Dumoulin, tendo a vitória sorrido ao holandês.

Em 2019 foi a última vez que Nibali lutou verdadeiramente pelo Giro D’Itália, numa edição marcada pelo seu frente a frente com Primoz Roglič, onde a marcação cerrada imperou e ambos acabaram a ver navios quando Carapaz atacou, deixando os dois rivais colados ao chão e um ao outro a assistir à vitória do equatoriano.

Ainda regressou em 2020 e 2021, mas claramente não era o Nibali que nos acostumamos, até que nas últimas três semanas voltamos a ver o Nibali que sempre conhecemos. Após um Etna desastroso, Nibali parecia acabando de vez, mas após uma etapa extraordinária em Torino, o tubarão voltou a mostrar que ainda estava para as curvas e ainda consegui fechar a edição num brilhante 4º posto.

E assim terminou a história lendária de Nibali no Giro D’Itália e com um texto perfeitamente escusado, ofuscado pela grandeza das imagens que o precedem.

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