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A Despedida de Peter “Showman” Sagan

A Despedida de Peter “Showman” Sagan

Chegou o dia da última corrida no ciclismo de estrada para o excêntrico Peter Sagan! Hoje, o eslovaco dá um primeiro grande passo para terminar a sua atividade profissional, ao deixar de competir nas provas de estrada. Até aos Jogos Olímpicos de Verão, em Paris’2024, a exclusividade do seu percurso final será dada ao BTT, modalidade em que começou a sua incrível carreira.

Um puro entertainer e, muitas vezes, uma espécie de “lobo solitário” nas provas, estamos perante um claro caso de “se não tivesses nascido, terias que ser inventado”, porque realmente é um exemplar único e irrepetível na história desta modalidade. Foram mais de 13 anos de brilharetes nas estradas deste mundo ciclístico, onde, numa profissão tão marcadamente coletiva, este campeão costumava depender mais vezes dele do que da própria equipa – não pela qualidade das equipas em que esteve, mas pela sua forma de correr como ciclista.

Nascido em Žilina, Eslováquia, Peter Sagan, atualmente com 33 anos, é o filho mais novo entre três irmãos e uma irmã. O seu irmão mais velho, Juraj Sagan, também foi ciclista profissional e, entre 2010 e 2022, ambos foram colegas de equipa nos mais variados conjuntos pelos quais passaram. Hoje em dia, é diretor desportivo da equipa UCI Continental da RRK Group–Pierre Baguette–Benzinol.

“Pet’o” começou a atrair atenções quando apareceu numa Taça da Eslováquia com a bicicleta emprestada da irmã e venceu a corrida. Após isso, a sua carreira mais “a sério” começou no BTT. Em 2008, foi campeão do mundo de juniores, no mesmo ano foi vice-campeão mundial júnior de Ciclocrosse e ainda conseguiu o segundo lugar no Paris-Roubaix também para juniores.

Sagan no Tour of Califórnia em 2010, onde terminou em oitavo na classificação geral final e ainda venceu a camisola dos pontos e da juventude.

Em 2009, apareceu a primeira oportunidade profissional na Dukla Trečín-Merida. No ano seguinte, com apenas 19 anos, estreou-se no “Pro-Tour” através da Liquigas-Doimo. Os responsáveis ficaram espantados pelos resultados médicos de Sagan, referindo que nunca tinham visto um rapaz com 19 anos tão forte e capaz, fisicamente. Depois de destruir, nos treinos, várias bicicletas de montanha, devido a esta força incrível e pedalada imensa, acabou por ficar com uma das alcunhas que o acompanhou pela carreira: o “Terminator” (ou “Tourminator”, mais tarde).

A partir daí, é história…e que rica história! Poderíamos ficar aqui a recordar imensos feitos, conquistas, números estrondosos ou corridas épicas de Peter Sagan, mas nem 1 artigo seria suficiente para tal. Ainda assim, relembramos algumas marcas que ficarão para sempre gravadas nos livros do ciclismo: 3 vezes campeão do mundo de ciclismo de estrada, vencedor de 12 etapas na Volta a França (com a conquista de 7 camisolas verdes, correspondentes à liderança dos pontos – um recorde), 4 etapas na Volta a Espanha, 2 etapas na Volta a Itália (e 1 camisola dos pontos), da Volta a Flandres de 2016 ou da edição do Paris-Roubaix de 2018, entre muitas outras incríveis conquistas… até um Vélo d’Or, um dos mais prestigiantes prémios no mundo do ciclismo, ganhou.

Sagan no Tour de France 2014 a usar uma das suas camisolas favoritas a camisola verde de líder dos pontos (venceu 7 dessas camisolas, passando o antigo recordista, Erik Zabel)

É igualmente interessante recordar que, em 2015, chega à Tinkoff-Saxo, em que o dono da equipa era o extravagante russo Oleg Tinkov, que lhe ofereceu um contrato milionário. Infelizmente para o eslovaco, os primeiros meses foram muito complicados…com desilusões atrás de desilusões. Até que consegue, de forma surpreendente, vencer a Volta à Califórnia, em que soube aguentar inesperadamente da melhor forma uma etapa de alta montanha. Ainda assim, nesse mesmo ano, o grande destaque foi o ter vestido a sua primeira de três camisolas seguidas de campeão do mundo!

Depois do anúncio que a Tinkoff iria dissolver-se no final da temporada de 2016, o agente de Sagan naquela altura, Giovanni Lombardi, negociou um novo contrato com a Bora-Hansgrohe. Foi com essa equipa que conseguiu mais um recorde para a sua coleção: ser o primeiro ciclista a conseguir vestir a camisola de campeão do mundo por 3 vezes seguidas!

Depois de muitas conquistas pela Bora, em agosto de 2021 assinou um contrato de dois anos com a Team TotalEnergies, mas, sendo os últimos anos da sua carreira, poucos destaques existem para colocar aqui, com a vitória de uma etapa na Volta à Suíça a ser provavelmente o ponto alto desta sua passagem pela equipa francesa.

Peter Sagan, tricampeão do mundo de estrada, a levantar os braços para festejar a mítica clássica Paris-Roubaix, depois de ter atacado a mais de 50 quilómetros da meta. Silvan Dillier foi o ciclista que acabou por ver mais de perto esta vitória do eslovaco.

A estrada vai terminar, mas ainda haverá uma “last dance” de Sagan nos Jogos Olímpicos de 2024. Recordemos que ele disputou a prova de “cross country” em BTT nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016, tendo ficado no 35.º lugar, naquela que foi a sua segunda participação olímpica, depois do 34.º lugar na estrada nos Jogos Olímpicos de Londres em 2012 – falhou a prova de fundo nos Jogos Olímpicos de Tóquio devido a mazelas relacionadas com uma operação ao joelho direito, na sequência de uma queda no Tour’2021.

Num mundo em que a loucura e a genialidade de Sagan estão de mãos dadas, esta lenda não deixa ninguém indiferente ao seu percurso pelo universo das duas rodas. São muitas histórias por contar e várias conquistas por elogiar e destacar, tal como se tentou fazer neste breve artigo saudosista para aquele que foi um dos mais icónicos ciclistas de sempre. Antes da “despedida final”, fiquem com um dos inúmeros momentos de espetáculo que este artista deu fora dos grandes “holofotes”:

Através da sua vincada personalidade excêntrica, irreverência em primeira mão e qualidade soberba, Sagan ganhou e perdeu muito (chegou a ter anos em que batia várias vezes “na trave”), mas nunca abdicou de proporcionar um bom espetáculo a todos os amantes do ciclismo. Por isso, e muito mais, o nosso sincero e enorme obrigado, Peter “Showman” Sagan!

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